Sonhos
Agora vamos falar sobre SONHOS, ainda do ponto de vista ocidental.
Quando uma memória se forma na sua mente, o cérebro constrói uma relação semipermanente entre os neurônios envolvidos com aquilo. Por exemplo. Vamos supor que você vá a um churrasco. Está fazendo um sol insuportável, o churrasqueiro deixa queimar a carne, você fica com fome. Mas nem tudo foi ruim – você conheceu uma nova pessoa, que se tornou sua amiga. Essas experiências todas ativam uma enorme quantidade de neurônios no seu cérebro – os que registram a sensação de calor, os responsáveis por processar cheiros (no caso, de carne queimada) e vários grupos que analisam todas as características da pessoa conhecida, como sua altura, formato do rosto, voz, cor dos olhos, etc.
E o cérebro fortalece as ligações entre essa rede de neurônios. É como se eles ficassem “amigos”. Passam a se comunicar mais facilmente entre si. Aí, quando você se lembrar de algum detalhe do churrasco ou da pessoa, aquele mesmíssimo conjunto de neurônios será acionado – e todos os detalhes daquele dia voltarão à sua mente. É assim que a memória humana funciona do ponto de vista físico até onde se sabe hoje.
Mas ela também age enquanto você dorme. Sabe quando você vivencia algo durante o dia, e aquela memória reaparece – muitas vezes exagerada ou distorcida – durante os sonhos? Acontece com todo mundo. Um estudo feito pelo psicólogo inglês Mark Blagrove constatou que os acontecimentos costumam aparecer nos sonhos pelo menos três vezes: na primeira, na quinta e na sétima noite de sono após vivenciados. Mas por quê? E por que as memórias surgem distorcidas, às vezes apimentadas com fantasia e coisas que jamais aconteceram? Existe uma teoria para explicar isso.
É a hipótese da homeostase sináptica (SHY, em inglês), criada por dois psiquiatras da Universidade de Wisconsin.
Essa tese foi reforçada por uma pesquisa do National Institutes of Health (laboratório do governo americano). Durante o sono, os neurônios do hipocampo, região cerebral que coordena a formação de memórias, disparam “ao contrário”. Ou seja, eles emitem sinais elétricos na direção oposta de quando a pessoa está acordada. Para os cientistas, isso é um indício de que há memórias sendo apagadas segundo essa teoria.
Esse apagamento supostamente aconteceria na terceira fase do sono, que antecede os sonhos. Ou seja: quando os sonhos começam, é possível que o cérebro ainda esteja sob influência da destruição de memórias, ou haja resíduos incompletos delas – e isso explique o teor de fantasia nos sonhos. Mas não existem estudos comprovando a relação.
Já a conexão entre sono, memória e aprendizado é fartamente conhecida. Diversas experiências demonstraram que nossa capacidade de aprender é maior de manhã, logo após acordar, do que de noite. Dormir ajuda a aprender. Mas não é só isso. Também é possível aprender… dormindo. Nos anos 70 e 80, essa promessa era muito usada por charlatães, que tentavam vender cursos de inglês “durante o sono”. A pessoa escutava uma fita com lições do idioma enquanto dormia e supostamente acordava sabendo falar inglês. Não funcionava, claro. Mas um estudo feito pela Universidade Northwestern constatou que é, sim, possível manipular – e reforçar – o aprendizado de uma pessoa enquanto ela dorme.
Na experiência, 50 voluntários foram expostos a uma longa sequência de imagens. Cada imagem vinha acompanhada de um som específico (como o barulho de uma explosão, por exemplo). Feito isso, os voluntários foram dormir. Só que metade deles recebeu um estímulo durante a noite. Quando eles atingiram a terceira fase do sono, os cientistas tocaram os sons que tinham sido associados às imagens. No dia seguinte, todo mundo acordou e os voluntários fizeram um teste de memorização. Quem tinha sido exposto aos sons conseguiu se lembrar de mais imagens, e em ordem mais correta. “Estímulos externos durante o sono podem ter influência (sobre o aprendizado)”, diz o psicólogo Ken Paller, líder do estudo. “A nossa pesquisa mostra que a memória é reforçada, com a reativação de informações durante à noite”, explica o psicólogo Paul J. Reber, coautor da experiência. Ou seja: não é possível aprender algo do zero enquanto se dorme. Mas é possível reforçar, dormindo, a memorização de algo que se aprendeu acordado.
Uma das áreas de investigação que mais crescem é a que joga luz sobre sono e memória. Já se sabe que, quanto pior o sono, maior a dificuldade para arquivar informações. O sono não regenerador prejudica a aprendizagem e a capacidade de organizar pensamentos complexos. O que se quer agora é aprofundar o conhecimento de como se dá a interação sono/lembranças.
O estudo do sono fornece-nos, sobre a natureza da personalidade, indicações de grande importância. Em geral não se aprofunda muito o mistério do sono, o exame atento deste fenômeno, o estado da alma, da sua forma fluídica durante parte da existência que consagramos ao descanso, conduzir-nos-ão a uma compreensão mais alta das condições do ser na vida do além”.
O sono possui não só propriedades restauradoras (…), mas também um poder de coordenação e centralização sobre o organismo material. Pode, além, disso, provocar uma ampliação considerável das percepções psíquicas, maior intensidade do raciocínio e da memória.
O sono é simplesmente a alma que se desprende, que sai do corpo. Diz-se: o sono é irmão da morte. Estas palavras exprimem uma verdade profunda. Sequestrada na carne, no estado de vigília, a alma recupera, durante o sono, a sua relativa, temporária liberdade, ao mesmo tempo em que o uso dos seus poderes ocultos. A morte será a sua libertação completa, definitiva.
O SONO E OS SONHOS NA MTC
“Quando a energia yang está no fim, a energia Yin está no seu apogeu, dorme-se. Quando a energia Yin está no fim, a energia Yang está no seu apogeu, vela-se”. (Ling Shu, cap.28)
O estudo do sono permite então conhecer o estado de abundância ou de fraqueza do Yin e do Yang. As modificações patológicas do sono são a insônia e a hipersônia.
A Insônia:
A insônia tem como principais características:
Dificuldades freqüentes para adormecer;
Fácil despertar durante a noite;
Acordar freqüente em sobressalto;
Sono agitado;
Não poder absolutamente dormir.
É a manifestação de desequilibrio onde o Yang não pode penetrar no Yin e o Shen não pode ficar em sua moradia. Há duas causas correntes de insônias:
Xu Yin Xue
O Calor do Yang é excessivo, o que perturba o Shen do Coração; o Coração não estando mais em repouso, não se consegue dormir. Exemplos:
A angustia suscitando a insônia na qual há Vazio de Yin do Coração e do Rim, e Fogo do Coração ardente.
As palpitações cardíacas acompanhadas de insônia na qual o Coração e o Baço estão em estado de Vazio e o Xue não pode alimentar o Coração.
Tan Huo , Shi Jin
(perturbação por energia perversa Humor-Fogo, estagnação de alimentos)
Exemplo: insônia devida à Vesícula Biliar congestionada, perturbada por mucosidades ou estagnação de alimento no corpo, da qual se diz: “Quando o Estômago não está em harmonia, o sono não é tranqüilo”.
A Hipersônia
A hipersônia pode ser constituída por três estados:
1º) Sono excessivo;
2º) Sonolência diurna incoercível;
3º) Adormecimento inconsciente.
Os dois primeiros estados são a expressão de uma doença na qual o Yang está em estado de Vazio e o Yin em Plenitude, ou de um doença com estagnação por Mucosidade-Umidade que bloqueia o Yang Chi e o impede de se elevar. Por exemplo, uma obstrução por mucosidades que impedem o Yang do Shao Yin (Coração-Rim) de se elevar. Sinais clínicos: mente confusa, olhos turvos, cabeça pesada, vontade constante de dormir.
O adormecimento inconsciente corresponde a uma penetração do Xin Bao (Circulção Sexualidade) pelo agente patogênico. O Calor em estado de Plenitude acarreta a perda dos sentidos. Esse é o caso do sono comatoso das doenças febris agudas.
Os Sonhos
Os sonhos são a correspondência externa da “parte mental” dos Zang.
O caráter repetitivo de um sonho constitui um elemento importante de analise.
As correlações entre os sonhos e o funcionamento dos Zang foram descritas nos capítulos 17 a 80 do Su Wen. No capítulo 17, trata-se dos sonhos relativos a Zang em Shi, expressando uma agressão por agentes patogênicos.
• Uma superabundância de Yin: se expressa por um sonho no qual se atravessa uma pavorosa extensão de água.
• Uma superabundância de Yang: sonho com incêndio.
• Superabundância de ambos: sonhos em que se mata um ao outro.
• Superabundância no alto: sonhos em que se levanta vôo.
• Superabundância no baixo: sonhos em que se cai.
• Um excesso alimentar faz sonhar que se faz uma dívida.
• Um estado de necessidade faz sonhar que se toma algo.
• Aumento de Sangue do Fígado: sonho de raiva.
• Aumento de Sangue do Pulmão: sonho de luto.
• Vermes intestinais curtos: sonhos de multidão aglomerada.
• Vermes intestinais longos: sonhos de combates.
O capítulo 80 trata dos sonhos causados por Zang em estado de Vazio, a energia vital estando deficiente:
• Vazio do Pulmão: Sonhos com coisas brancas e ferimentos sangrentos. No outono (época específica do Pulmão) sonhos guerreiros.
• Vazio do Rim: sonhos de navegação e afogamento. No inverno (época específica do Rim) sonha-se que se está escondendo dentro da água, como se se estivesse terrificado.
• Vazio do Fígado: sonhos de odor de cogumelos e plantas frescas. Na primavera, sonha-se que se está escondendo debaixo de uma árvore sem ousar se levantar.
• Vazio do Baço: sonhos de insuficiência de alimentos e no período específico, sonhos de que se constrói casas.
“Todas as enfermidades com manifestações de excreção de água clara, são causadas pelo Frio.”
“O Vento é o chefe de todas as enfermidades”.
“Se é agredido pelo Vento, adoece primeiramente a parte superior do corpo”