Tome-se um dos elementos mais fundamentais da música moderna – o volume. O som mede-se em decibéis, e acreditam os entendidos que todo som de 90 ou mais decibéis põe em perigo a saúde humana. Ora, verificou-se que a taxa média de decibéis no meio dos salões de festa é pouco inferior a 110. Defronte da orquestra essa média sobe, muitas vezes, para 120 decibéis. Lembram-se da proteína coagulada?
Se, depois de falar com um frequentador assíduo de baladas de musica e locais semelhantes, o individuo descobrir que a resposta não lhe chega de forma muito inteligível, isso talvez se deva a estar o cérebro do frequentador ainda calcificado pelos excessos auditivos da atividade anterior. Ou talvez a pessoa não possa ouvi-lo.
O Departamento de Proteção Ambiental dos Estados Unidos descobriu que as atuais gerações de jovens padecem de problemas de audição que normalmente só se associam a pessoas de cinquenta a sessenta anos de idade. A revista Time relatou que a perda permanente da audição entre afeiçoados do rock é um mal muito mais comum do que geralmente se imagina.
Se os ouvidos de um fã do rock tiverem resistido até agora ao frenético martelar, é certo, apesar disso, que o corpo foi afetado internamente. Citando mais uma vez Bob Larson, o qual, depois de ter sido outrora músico de rock, está metido em campanhas contra a música:
O hormônio adrenalina é lançado na corrente sanguínea durante o stress, a ansiedade ou experiência simulada de submeter-se alguém a um volume anormal de música. Quando isso acontece, o coração bate célere, os vasos sanguíneos se constringem, dilatam-se as pupilas, empalidece a pele, e não raro o estômago, os intestinos e o esófago são tomados de espasmos. Quando o volume é prolongado os batimentos cardíacos tornam-se irregulares.
Um estudo feito durante três anos, com universitários e levado a efeito por pesquisadores do Instituto Max Plank, da Alemanha, revelou que 70 decibéis sistemáticos de barulho causam constrição vascular – particularmente perigosa se as artérias coronárias já tiverem sido estreitadas pela artériosclerose.
Bom agora vamos falar da musica e as plantas
Numa experiência realizada por psicólogos, deu-se a determinado número de ratos total liberdade de ação em duas caixas distintas, porém ligadas uma à outra. “Tocava-se” música em cada uma delas – Bach na primeira, rock na segunda. Embora todas as características das duas caixas fossem idênticas, exceto a música, os ratos passavam o tempo todo na caixa de Bach. Para pôr ainda mais à prova a pureza das condições experimentais, inverteu-se a música transmitida para as duas caixas; e, gradualmente, todos os ratos se mudaram para aquela em que antes se tocava rock. Está visto que uma experiência nessas condições não significa que os animaizinhos preferiam ou “compreendiam” Bach no mesmo nível em que um ser humano pode preferi-lo ou compreendê-lo, mas o resultado indica que, em determinado nível, o grau de prazer ou dor que os rato» experimentavam nas duas caixas pendeu em favor de Bach.
Outros experimentos revelaram que certos tipos de música induzem galinhas a botarem mais ovos e vacas a darem mais leite. (Stockhausen, de uma feita, visitou uma granja em que as galinhas botavam maior quantidade de ovos quando se tocavam, perto dos ninhos, trechos de O Danúbio Azul. Relembrando o incidente, mais tarde, ele mesmo comentou que a sua música teria provocado diarréia nas galinhas!) Existem também tradições muito antigas, de várias partes do mundo, segundo as quais músicas cantadas e músicas instrumentais favorecem o desenvolvimento de animais de fazenda.
A fim de obter os mais precisos e evidentes resultados dessas experiências, os cientistas voltam amiúde ao estudo das formas de vida mais primitivas. Na investigação dos efeitos da música sobre a vida, realizaram-se alguns experimentos preliminares com plantas.
E os resultados têm sido colocados à nossa disposição. Embora a pesquisa que relaciona a música às plantas ainda seja, em grande parte, campo inexplorado e atraente para pesquisadores, algumas investigações preliminares já nos deram achados inequívocos.
O primeiro estudo sobre isso foi conduzido por um indiano. Em 1962, o Dr. TC Singh, chefe de botânica da Universidade Annamalai, conduziu um dos primeiros estudos explorando o impacto da música nas plantas. Usando música clássica, ele expôs plantas de bálsamo, notando um notável aumento de 20% na taxa de crescimento em comparação com um grupo de controle, acompanhado por um aumento significativo de 72% na biomassa. Outras experiências com culturas expostas a ragas carnáticas demonstraram aumentos de rendimento que variam de 25% a 60% em comparação com a média nacional.
Averiguou o Dr. Singh que as ondas sonoras de um instrumento musical provocam aumento de movimento do protoplasma celular. Em outro teste, fez-se soar um diapasão a 1,80 m de distância de uma planta, o que também ocasionou movimentos em seu protoplasma. (O protoplasma é o material básico de que é feita a vida de todas as plantas, animais e seres humanos.)
Nos experimentos do Dr. Singh, verificou-se que o violino, dentre todos os instrumentos, é o que mais intensifica a vida. De um modo geral, as características intensificadoras da vida, como resultado da música, patentearam-se no bálsamo, na cana-de-açúcar, nas cebolas, no alho, nas batatas-doces e em outras plantas além dessas.
Talvez o mais interessante e significativo de todos os descobrimentos do Dr. Singh foi que gerações ulteriores das sementes de plantas estimuladas musicalmente eram portadoras de traços aprimorados, como tamanho maior, maior número de folhas e outras características. A música modificara os cromossomos das plantas! Presumivelmente o mesmo efeito pode resultar, em sentido negativo, da música má.
Duas séries independentes de experimentações, uma realizada União Soviética e outra no Canadá, descobriram que as sementes de trigo crescem mais depressa quando tratadas com tons. As mudas de trigo tratadas com som no Canadá, num ambiente laboratorial cuidadosamente isolado, cresceram três vezes mais do que as mudas não tratadas. As mudas soviéticas receberam tons ultra-sônicos e, como resultado disso, germinaram mais depressa, mostraram-se mais resistentes à geada e produziram maior quantidade de grãos. Trata-se, obviamente, de descobrimentos com possibilidades para aplicação prática no mundo.
Outra série de experiências expôs plantas aos Concertos de Brandenburgo de Bach. Os gerânios expostos aos Concertos de Brandenburgo cresceram mais depressa. Como interessante experiência colateral, outros gerânios não receberam os Concertos propriamente ditos, mas apenas suas frequências dominantes. Esse grupo cresceu mais depressa do que um grupo para o qual não se transmitiu nenhum tipo de som, porém menos do que o grupo dos Concertos integrais. 0 que dá a entender que, se bem que os tons individuais da música de Bach exerçam certa influência regenerativa sobre a vida da planta, o efeito será maior se as frequências forem tocadas na precisa ordem rítmica, melódica e harmônica em que Bach realmente as colocou. Realizaram-se também, de maneira semelhante, investigações com bactérias. Averiguou-se que estas morrem quando certas frequências são tocadas para elas, mas se multiplicam em resposta a outras.
Uma série de estudos realizados por Dorothy Retallack (Publicou um pequeno livro chamado The Sound of Músic and Plants em 1973. Seu livro detalhou experimentos que ela vinha fazendo no Colorado Woman’s College, em Denver, usando as três Câmaras de Controle Biotrônico da escola. Ela colocou plantas em cada câmara e alto-falantes através dos quais ela tocava sons e estilos particulares de música. Ela observou as plantas e registrou seu progresso diariamente.) sobre os efeitos de diferentes espécies de música sobre uma variedade de plantas caseiras. As experiências obedeceram a rigorosas condições científicas, e as plantas foram conservadas dentro de amplos gabinetes fechados sobre rodas, em que a luz, a temperatura e o ar eram automaticamente regulados. Verificou-se que três horas diárias de um rock ácido, tocado através de um alto-falante ao lado do gabinete, tolhia o desenvolvimento de abóboras, filodendros e milho, e as danificava em menos de quatro semanas.
A Sra. Retallack tocou a música das duas estações de rádio de Denver para dois grupos de petunias. As estações de rádio eram a KIMN (estação de rock) e a KLIR (estação de música semiclássica). O Denver Post noticiou:
As petunias que ouviram a KIMN recusaram-se a florescer. As que ouviram a KLIR produziram seis belas florescencias. No fim da segunda semana, as petunias da KIMN, inclinadas para longe do aparelho de rádio, mostravam um crescimento muito caprichoso. As florescencias das petunias que ouviam a KLIR inclinàvam-se todas na direção do som. No espaço de um mês, todas as plantas expostas à música de rock morreram.
Em outra experiência, que durou mais de três semanas, Dorothy Retallack tocou a música de Led Zeppelin e Vanilla Fudge para um grupo de feijões, abóboras, milho, campainhas e cóleos; também tocou música atonal contemporânea de vanguarda para um segundo grupo; e, como controle, não tocou coisa alguma para um terceiro grupo. Dali a dez dias, as plantas expostas a Led Zepellin e Vanilla Fudge se inclinavam todas na direção oposta à do musica. Três semanas depois, estavam definhadas e moribundas. Os feijões expostos à “nova música”, inclinados 15 graus para longe da musica, ostentavam raízes de tamanho médio. As plantas que permaneceram em silêncio possuíam as raízes mais compridas e tinham crescido mais do que as outras. Além disso, descobriu-se que as plantas para as quais se transmitiu uma música plácida, sacra, não somente cresceram duas polegadas mais do que as que permaneceram em silêncio, mas também se haviam inclinado na direção da musica.
Os efeitos da música, objetivos, não dependem do precondicionamento subjetivo da psique. Lembremo-nos de que, além de acreditar que a música afeta o corpo, as emoções e o espírito do homem, os antigos também afirmavam que o poder da música é objetivo e não subjetivo. Ou seja, afirmavam que tipos diferentes de música são inerentemente bons ou inerentemente maus; que certas combinações de tons são objetivamente intensificadoras da vida, possuem uma natureza evolutiva, ao passo que outras se revelam malsãs c perigosas. A ser verdadeira a crença dos, isto será um fato de vital significação.
Os músicos modernos já não poderão proclamar que a música é uma questão-de “gosto”, ou que ao músico deve ser concedido o direito de tocar o que bem entende.
De mais a mais, esses tipos de música, objetivamente bons ou objetivamente maus, talvez nem sempre se conformem com as próprias simpatias e antipatias subjetivas das pessoas. Visto que todos os tipos de música são apreciados por alguns indivíduos c desapreciados por outros, é lógico que haverá casos em que uma música, embora objetivamente má, seja “apreciada” por determinado segmento mal orientado da sociedade.
A pesquisa sobre música e plantas, portanto, corroborando os sábios ensinamentos dos antigos acerca do poder objetivo da música, aparentemente desaprova todo o ponto de vista contemporâneo, hedonístico e anárquico, sobre ela.
Em suma, parece oferecer-se uma base científica a partir da qual se pode construir uma estética inflexível da música. Permanente e inflexível porque os verdadeiros princípios estéticos não são subjetivos, senão que universais. A boa música ainda será boa mesmo que não haja nenhum ouvinte humano, pois ainda há dentro dela uma força doadora de vida.
A pergunta sobre o que constitui a música boa ou má pode ser respondida com dez palavras apenas: a boa música dá vida; a música má dá morte. Há mais coisas a respeito da vida e da morte do que os dois lados do túmulo: todo momento de música a que nos submetemos pode estar intensificando ou consumindo nossas energias vitais e nossa clareza de consciência, pouco a pouco.
Do ponto de vista dos antigos sábios chineses, o fato de indivíduos estarem hoje “gostando” da música má e destrutiva, ou “apreciando-a”, ao mesmo tempo que são incapazes de apreciar ou compreender a música genuinamente boa, seria explicado por se haverem tais indivíduos “afinado” pelos padrões tonais errados, perdendo simultaneamente a afinação com a Realidade e os princípios universais.
Citemos as próprias palavras de Dorothy Retallack:
“Se a música de rock tem um efeito desfavorável sobre as plantas, não será essa mesma música, ouvida durante tanto tempo e com tanta frequência pela geração mais jovem, parcialmente responsável pelo seu comportamento irregular e caótico?”
“Poderiam ser os sons discordantes que ouvimos nestes dias a razão por que a humanidade está ficando cada vez mais neurótica?”
Agora vamos falar da relação da música com a emoção e a mente
Tão reais e abertas ao uso prático são as influências psicológicas da música que a arte tem sido empregada, no transcorrer dos séculos, na produção de efeitos emocionais e mentais. Desde os tempos mais remotos, pescadores, ceifeiros e outros trabalhadores têm cantado em uníssono a fim de inspirar-se para obter o máximo rendimento do trabalho.
Pode notar-se que, com o aparecimento dos diversos aparelhos de som a iniciar pelo radio, essa prática básica não cessou, mas simplesmente se ajustou: pesquisadores científicos descobriram que música melodiosa, animada, ouvida na fábrica, aumenta consideravelmente a produtividade.
Paradoxalmente, uma forma de música utilizada por muito tempo
na obtenção de efeitos práticos tem o duplo resultado de inspirar um grupo de pessoas e, ao mesmo tempo, infundir medo em outro. Referimo-nos música militar, usada desde o alvorecer da história, muitas vezes
com resultados devastadores no campo de batalha. Tão eficazes se revelou na guerra bandas de tambores, corneteiros e semelhantes, que os
derrotados, reconhecendo haver a música militar dos vencedores representado um grande papel na sua derrota, adotaram uma música idêntica ou semelhante para si ainda que de forma e estilo particulares fossem não raro, totalmente alheios aos seus próprios antecedentes culturis. Como exemplo disso, basta-nos referir o que sucedeu aos cruzados, que, derrotados pelos sarracenos, adotaram os tons militares dos árabes e como resultado disso, voltaram a alcançar vitórias em suas
campanhas.
As influências psicológicas da música são quase infinitamente variadas. O homem, em especial, sempre se voltou para a beleza da boa música como fonte de bálsamo e alegre inspiração moral. Como disse Shakespeare:
A boa musica pode … prestar auxílio a mentes enfermas,/Arrancar da memória uma tristeza arraigada, /Arrasar as ansiedades escritas do cérebro,/E com o seu doce e esquecedor antídoto,/ Limpar o seio de todas as matérias perigosas/Que pesam sobre o coração.
Se a música nos proporciona sentimentos, podemos dizer que tais sentimentos – de inspiração moral, alegria, energia, melancolia, violência, sensualidade, calma, devoção, e assim por diante – são experiências. E as experiências que temos na vida constituem um fator vitalmente importante no moldar-nos o caráter.
Dois fatores se relacionam com a formação do caráter.
O primeiro é a experiência, que também pode ser denominada aprendizagem no sentido lato da palavra (energia adquirida).
O segundo consiste nos traços inatos, isto é, com os quais nascemos, e que os psicólogos acreditam ser geneticamente herdados. (energia congênita)
Todos concordam em que cada um desses fatores é importantíssimo. A única coisa com que os psicólogos não concordam são as percentagens exatas da parte que cada fator representa na formação do caráter total.
No caso de um traço importante de caráter, o QI, os estudos psicológicos revelaram que a experiência é responsável por uma grande proporção da nossa inteligência. A proporção exata a que os estudos chegaram tem dependido do tipo de dados analisados. Entretanto, as estimativas da extensão em que o ambiente determina o QI vão de 13 a 55 por cento.Seria assaz razoável inferir disso que a proporção real envolvida é aproximadamente de um terço. Os outros dois terços resultam da hereditariedade e de outros fatores inatos.
A sequência lógica das conexões que desenvolvemos é a seguinte: a música é uma experiência; a experiência modela cerca de um terço do nosso caráter total, a julgar pelos estudos psicológicos; por conseguinte, parte dessa proporção dos nossos traços de caráter resulta da música que ouvimos. Em que pese à distância de vários milhares de anos que nos separa, vemo-nos hoje de mãos dadas com Confúcio! A música modela o caráter.
Basicamente, tudo ainda se reduz ao axioma: Como na música, assim na vida. Dilatando esse aforismo, verificamos que todos os psicólogos concordam realmente em que Como na EXPERIÊNCIA, assim na vida. Os pais se interessam por arte? Pode esperar-se, então, que os filhos também venham a interessar-se por arte. Os amigos são turbulentos? Tudo Indica que a criança também pode tomar-se mais turbulenta. A criança vê músicos de rock pavonearem-se com orgulho na tela? Nesse caso, ela também poderá vir a pavonear-se com orgulho. Em estudos sucessivos, verificou-se que as crianças copiam o comportamento adulto que viram, ao vivo, quer na televisão.
A. Bandura e Aletha C. Huston, analisaram os fundamentos da aprendizagem de crianças e adultos, particularmente em imitar o comportamento observado em outros, em particular, comportamentos agressivos.
Procuraram confirmar tal teoria ao fazer um experimento com um joão-bobo. Três grupos de crianças foram submetidos a um filme diferente cada, nos quais adultos agrediam os bonecos. No primeiro filme o adulto era recompensado por agredir o boneco, no segundo filme era punido e no terceiro filme não sofria nenhuma consequência. Depois do filme, as crianças foram colocadas em uma sala onde podiam ser observadas sem perceberem. Na sala havia diferentes brinquedos, dentre eles um joão-bobo. Relatou-se que o grupo que viu o adulto sendo recompensado tendia a repetir com maior frequência as agressões quando comparado aos dois últimos grupos. Conclusão é que comportamentos agressivos se tornam mais frequentes ao ver outros serem recompensados por sua agressividade.
Ao negarem o fato de tenderem a música e o comportamento dos músicos a modelar o caráter e o comportamento das pessoas, os materialistas, por implicação, estão tentando refutar todo o corpo de pesquisas psicológicas cuidadosamente documentadas, dirigidas e estabelecidas nos últimos decênios por centenas de pesquisadores responsáveis.
Não somente a música, mas todas as formas de experiência dão forma ao modo como pensamos e procedemos.
Tomemos por exemplo a televisão que, nos tempos atuais, também veio a assumir poderoso império sobre a sociedade: de acordo com a Associação Nacional de Telespectadores e Ouvintes da Grã-Bretanha, existiam em 1982 nada menos do que seiscentas peças de estudos científicos que demonstraram a existência de um elo entre a violência televisada e a violência social.
Parece muitíssimo provável que tipos diferentes de música, ao dar-nos várias espécies de experiências emocionais — amor romântico, concupiscência, sentimentos religiosos, fervor patriótico, rebelião, etc. também codificam tais sentimentos e suas várias tonalidades.
Um estilo de música que nunca ouvimos antes, e agora ouvimos pela primeira vez, pode abrir nossas mentes para um sentimento ou um modo de enxergar o mundo inteiramente novo. Uma canção patriótica emocionante, em tempos de guerra, codifica, unifica e intensifica os pensamentos de uma nação inteira. E quando se combinam palavras com música, muitos conceitos podem ser codificados como nunca o foram até então.
A música codificou amiúde movimentos inteiros da vida humana virtualmente inexistentes até o surgimento do objeto de referência musical. Os primeiros compactos simples dos Beatles iniciaram a criação de uma subcultura inteira codificando-a em música. Alguns anos depois, o álbum Sgt. Pepper, fez o mesmo.
A música, como a língua, pode nos das uma estrutura de experiências emocionais e conceitos mentais tendentes a afeiçoar o modo com que encaramos o mundo
Em seu livro, A Musica, sua influencias através do seculos Cyril Scott (foi um compositor, escritor e poeta inglês.) proclamou sua crença em que a música de cada grande compositor do passado desempenhou um papel vital, alterando especificamente o espírito e o coração das pessoas da época, e pavimentando assim o caminho para a civilização qual hoje a conhecemos. Handel, por exemplo, nasceu num período em que a moral e a piedade se achavam em maré baixa na Inglaterra. Entretanto, os efeitos da sua música, sobretudo das suas obras devocionais, segundo Scott, inspiraram um redespertar do verdadeiro sentimento religioso, ao mesmo passo que o seu estilo, muito formal, provocou o aparecimento do formalismo e até do super formalismo da era vitoriana.
Scott cita dois tributos típicos ao respeito temeroso e à reverência invocados pelo Messias de Handel. O primeiro, da Quarterly Review, reza deste teor:
Sentimos, ao voltar de uma audição do Messias, como se tivéssemos alijado de nós úm pouco da nossa sujeira e dos nossos detritos, como se o mundo estivesse menos conosco; nossos corações são elevados e, todavia, subjugados, como se o brilho de alguma ação ou a graça de algum nobre princípio houvesse passado sobre nós. Temos consciência de haver desfrutado um entusiasmo que
não pode desencaminhar-nos, de ter provado um gozo que não emana da árvore proibida, por ser o único que, segundo nos prometeram, será transladado conosco da Terra para o céu.
A segunda citação é da biografia do Sr. Gregory pelo Rev. Robert Hall, e diz o seguinte:
O Sr. Hall estava presente na Abadia de Westminster na comemoração de Handel. O Rei, George III, e sua família também haviam comparecido. A certa altura da apresentação do Messias (o coro da Aleluia) o Rei se pôs em pé, sinal para que todo o público se levantasse; ele estava chorando. Nada, diz Robert Hall, jamais o comovera tão vigorosamente; dir-se-ia um grande ato de assentimento nacional às verdades fundamentais da religião.
Alguns filósofos – e até o músico ocasional – negam categoricamente que a música contém algum significado, seja ele qual for, afirmando serem os sons puramente abstratos. Mas certamente não há dúvida de que a música transmite estados emocionais muito reais e, às vezes, muito específicos do musico ou do compósito ao ouvinte
Eis por que, de tempos a tempos pensadores têm afirmado que a música é uma forma de linguagem. A música, transmite a própria essência emocional ou realidade da informação. Ouvir o Messias de Handel não é discutir religião intelectualmente; é sentir aquela chama interior de devoção e identificar-se com ela. Nesse sentido, a música suplanta a linguagem. É a linguagem das linguagens. Pode-se dizer que, dentre todas as artes, nenhuma outra transmite com maior fidelidade o estado interior do artista; nenhuma outra move e muda mais vigorosamente a consciência.
Qual é, em última análise, a origem dos efeitos emocionais da música?
Não será o estado d’alma do músico? Não há dúvida de que o minino denominador comum que determina a natureza precisa de qualquer obra musical é o estado mental e emocional do compositor e/ou do executante. A essência desse estado nos penetra, tendendo a moldar e afeiçoar nossa consciência em harmonia consigo mesma. Através da música, partes da consciência do músico são assimiladas pelo público. Dizê-lo assim talvez seja demasiado chocante. Entretanto, se admitirmos e a música exerce esse tipo de função, transferindo elementos da consciência do músico para o ouvinte, já não se poderão negar as implicações do uso, bom ou mau, das artes tonais.