AS FUNÇÕES DO CORPO ASTRAL
Vamos tratar agora de fatos e dados que são necessários á compreensão da nossa natureza de desejo e de emoções, e assim ajudar-nos a ter condições de purificar e controlar nossas emoções.
Pois o controle, principalmente dos desejos é uma das tarefas mais difíceis e, ao mesmo tempo mais necessárias que temos de empreender para podermos evoluir espiritualmente.
Nossos sofrimentos mais severos originam-se de nossos de desejos, como ensinou o Buda e aquele que obtiver o domínio de seus desejos já muito terá avançado no caminho da evolução espiritual.
A fim de compreendermos a parte representada pelo desejo em nossa vida, examinemos preliminarmente algumas funções elementares do corpo astral.
A mais simples de suas funções, geralmente não reconhecida, é a conversão das vibrações do plano físico, através dos cinco sentidos, em sensações.
De acordo com a ciência, as informações (vibrações) captadas pelos sensoriais são conduzidas, ao longo dos nervos, aos centros correspondentes no cérebro e aí ocorre a misteriosa transformação que faz estas vibrações aparecerem como sensações na consciência (explicado pela ciência como reações bioquímicas basicamente).
O Ocultismo concorda com o fisiologista quanto à transmissão das vibrações desde os órgãos dos sentidos até os correspondentes centros cerebrais, mas ele afirma, baseado em suas investigações, que as vibrações são refletidas do cérebro denso no cérebro etérico e, dos centros etéricos no cérebro, são novamente refletidas nos centros astrais correspondentes, e é somente quando atingem os centros astrais que elas aparecem com sensações.
Todos os mecanismos de sensação estão situados no corpo astral e a conversão das vibrações físicas em sensações é, por conseguinte, uma das funções importantes e primordiais do corpo astral que é um campo de energia.
Os centros, ligados aos órgãos físicos dos sentidos e que convertem vibrações físicas em sensações, vieram à existência ao correr da evolução, junto com o sistema nervoso simpático (Que é, basicamente, um sistema de excitação, que ajusta o organismo para suportar situações de perigo, esforço intenso, stress físico e psíquico. Ele atua ao nível dos diferentes aparelhos do organismo, desencadeando alterações diversas).
Algumas sensações permanecem como meras sensações e se refletem mais uma vez no corpo mental, onde aparecem na mente como percepções comuns.
No caso de outras sensações, a qualidade peculiar indicada pelas palavras “agradável” e “desagradável” aparece com as sensações e é percebida pelo mente como sensação agradável ou desagradável. Tais sensações são chamadas sentimentos.
Mas mesmo até esse estágio, o aparecimento de prazer ou dor, a sensação é ainda uma sensação, embora chamada por nome diferente.
Vemos assim que a segunda função do corpo astral é adicionar a qualidade “agradável” ou “desagradável” a certas sensações e convertê-las em sentimentos que são prazer ou dor.
Nesse ponto uma transformação fundamental pode ocorrer na consciência. Junto com a sensação de prazer ou dor pode vir um desejo de experimentar esse prazer novamente ou de evitar a dor. Esse é o desejo em sua forma mais simples.
Cumpre notar que a transformação que envolve atração ou repulsão é ligada tanto ao corpo astral quanto ao mental. O elemento mental, mesmo sob a forma primária de desejo, é devido à presença da memória ou antecipação, sem a qual o desejo não poderia nascer. À medida que mais e mais fatores mentais entram na interação entre sentimentos e pensamentos durante o curso de nossa evolução, os desejos se tornam mais e mais complexos e representam um papel progressivamente mais predominante em nossa vida.
A razão de termos entrado nesta questão é observar como ocorre a gênese do desejo e assim podermos nos habilitar a compreender a natureza do desejo bem como saber claramente onde aplicar o freio na série de transformações em nossa consciência quando desejamos controlar o desejo.
Tomemos alguns exemplos concretos para explicar o que queremos dizer.
Suponhamos que eu me sente para uma refeição. Um determinado item em meu alimento entra em contato com meu paladar, afeta as papilas gustativas, principia vibrações físicas que vêm a aparecer como uma determinada sensação no corpo astral. Se o prato é saboroso, a sensação causada naturalmente será agradável. Quando acabo o prato, a sensação desaparece mas a memória, a vista do mesmo prato, ou por associação de idéias, pode no futuro despertar o desejo de experimentar essa sensação novamente, desejando ter o gosto novamente.
Tomemos outro exemplo. Saio para um passeio e, ao passar por um jardim, noto um determinado odor que agrada ao meu sentido do olfato. Desvio-me e encontro a flor da qual emana o cheiro. Desejo então possuir em meu jardim essa flor de modo que eu possa ter outra vez a sensação agradável do cheiro.
Tais exemplos podem ser multiplicados, mas estes dois servem para ilustrar o ponto em questão e nos possibilitar entender o princípio fundamental do controle dos desejos.
Se vera que em tais casos é atingido um ponto em que a sensação agradável ou desagradável aparece na consciência e esse ponto é atingido inevitavelmente por todos os que passam pela experiência, porque não podemos andar com as vias sensoriais fechadas.
A mudança na consciência contra a qual aqueles que desejam ter controle sobre o desejo, devem estar em guarda e, se possível, prevenidos é a atração e repulsão – o aparecimento do desejo de experimentar a sensação se for agradável e evitá-la se for desagradável.
Quando andamos pelo mundo e atravessamos toda espécie de experiências, as vibrações que elas nos impõem de todos os lados devem produzir as sensações que lhes correspondem e algumas destas serão sentidas como agradáveis ou desagradáveis. Digo “algumas” porque essa qualidade de prazer ou dor não caracteriza todas as sensações. A maior parte de nossas sensações visuais ou auditivas não são nem agradáveis nem desagradáveis, são apenas o que se chama percepções neutras na mente.
O homem que não compreende a natureza do desejo, ou não está resolvido a controlá-lo se vê constantemente envolvido nas atrações e repulsões, cadeias que o prendem aos mundos inferiores, à roda de nascimento e morte; enquanto o sábio, tendo controlado seus desejos, anda pelo mundo, entre as mesmas atrações, passa pelas mesmas experiências e, no entanto, por não permitir que sua mente estabeleça qualquer conexão como os objetos do desejo, permanece livre.
É necessário compreender que não há mal em sentirmos prazer quando temos certas experiências, o prazer e o resultado natural dos contatos entre o corpo e os objetos que causam o prazer. A dificuldade aparece quando permitimos nossa escravidão a um objeto pelos laços de atração ou repulsão.
Do que acima foi dito deduz-se que o homem bastante forte para não ser afetado por prazer ou dor, enquanto vive entre os objetos que dão prazer ou dor, é o verdadeiro liberto, não aquele que teme ser apanhado na rede do desejo e se conserva afastado. Este homem terá, cedo ou tarde, que se por em campo aberto, entre as tentações para aprender a se colocar acima delas. Se esse é o procedimento apropriado para a aqueles que já têm força suficiente e estão acostumados a controlar o desejo, principiante pode achar mais fácil, para combater um determinado desejo, afastar-se do ambiente cheio de tentações, até que esteja bastante forte para resistir-lhe.
Um viciado, qualquer vicio, que fica na companhia daqueles que são viciados achará muito mais difícil abandonar o mau hábito e faria bem em se colocar a princípio numa atmosfera pura e sóbria. Mas ele realmente não terá vencido seu desejo enquanto não puder freqüentar incólume a companhia de viciados, no meio de todas as tentações de um ambiente.
Vimos nos parágrafos anteriores que a natureza essencial do desejo é a atração de uma pessoa para os objetos que lhe dão prazer e repulsa para os que lhes causam dor. Esta atração ou repulsão mostra a presença de um força que se verificou ser em essência a mesma que a força da vontade. não há, portanto, diferença essencial entre desejo e vontade. O desejo, de certo modo, é o reflexo da vontade no plano astral. A diferença que vemos está no fato de que, no caso do desejo, a força do eu é atraída por objetos externos e depende de atrações e repulsões, enquanto que no da vontade a força se expande independentemente de qualquer estímulo externo, é autodeterminada.
A identidade essencial da natureza no caso de desejo e da vontade é mostrada por dois fatos importantes, que qualquer um pode observar por si mesmo.
Primeiro, o fato de que ambos trazem consigo o poder de realizar. O que quer que desejamos podemos obter, embora nem sempre imediatamente. No momento em que colocamos ante nós qualquer objeto e começamos a desejá-lo, ele começa a ser atraído para nós, sendo a atração proporcional à intensidade do desejo. Se o desejo é suficientemente forte e favorável as circunstâncias, podemos ter o objeto imediatamente. Se, por outro lado, as circunstâncias são desfavoráveis ou se objeto é de tal natureza que ele só possa ser obtido por esforços continuados, mesmo assim, a atração nasce no momento em que começamos a desejá-lo, sendo apenas uma questão de tempo a satisfação de nosso desejo.
Tomemos alguns exemplos que ilustrem este ponto.
1 – Suponhamos que desejo ouvir um pouco de música. Basta-me sintonizar o equipamento adequado e meu desejo é satisfeito.
2 – Suponhamos que eu deseje me tornar rico. Terei então que trabalhar, sacrificar meu conforto e minha diversão, economizar cuidadosamente meus recursos e, se tiver uma certa capacidade nesse sentido, poderei ir lentamente juntando uma fortuna e realizar minha ambição nesta vida. Se morro ou de outra maneira qualquer não consigo realizar minha ambição nesta vida e meu desejo continuar, nascerei em minha próxima vida com maior capacidade nessa direção e em melhores circunstâncias, chegando então ao meu alvo tão desejado.
3 – Mas suponhamos que, em vez de desejar esses objetos transitórios, eu deseje o crescimento espiritual, obviamente não é um desejo que possa ser satisfeito imediatamente. Terei que trabalhar muitas vidas, terei de, aos poucos edificar um caráter puro e forte, submeter minha natureza inferior, desenvolver lentamente todas as minhas possibilidades, vida após vida, e se tenho a necessária intensidade de desejo e perseverança, um dia me encontrarei no topo da montanha . Vemos assim no desejo a mesma força irresistível de realização que associamos a vontade humana.
O segundo fato que serve para mostrar a identidade essencial do desejo e da vontade é a absorção do desejo na vontade à medida que se purifica e se livra da contaminação do eu pessoal.
Como já foi dito anteriormente, quando a energia do eu é atraída para objetos externos, é desejo, e quando é impessoal e empregada para a realização do propósito evolutivo, é pura vontade espiritual. Assim, à medida que essa energia vai se desfazendo do elemento pessoal, se aproxima da condição de vontade pura, sem mistura. É a impureza do eu pessoal que degrada a vontade em desejo e, quando essa impureza é eliminada permanece a pura vontade.
A fim de esclarecer essa relação, certos desejos com os quais estamos familiarizados estão abaixo, arranjados em série, e você verá imediatamente como a purificação gradual do desejo aproxima-o cada vez mais de nossa concepção de vontade espiritual, até que os dois se tornem indistinguíveis. Tomemos os seguintes desejos:
(1) Desejo de satisfação sensual;
(2) Desejo de ajudar à própria família a viver confortável e decentemente;
(3) Desejo de servir à pátria;
(4) Desejo de servir a humanidade;
À medida que descemos nesta série vemos facilmente que o desejo vai se fundindo com a vontade, e em sua forma mais elevada, é somente uma questão de usar palavras diferentes para designar a energia quer seja desejo, quer seja vontade. A razão de ser permissível o uso da palavra desejo na descrição do último estágio é que um certo elemento emocional pode estar presente, enquanto a consciência estiver confinada na personalidade e o problema for olhado, por assim dizer, de baixo.
Uma importante inferência que pode ser tirada dessa identidade essencial de desejo e vontade é que a posse de uma forte natureza de desejos não é necessariamente uma desvantagem ou alguma coisa que deva preocupar. A forte corrente de desejos oculta, sob sua cobertura de egoísmo, a vontade espiritual, e tudo o que se tem de fazer é remover esta cobertura e tomar o comando do enorme poder da vontade espiritual. Gente dotada de fortes desejos é, portanto, do ponto de vista superior, mais promissora do que aquele cujos desejos são fracos, que é demasiado preguiçoso para se esforçar com energia a fim de obter alguma coisa, e cuja reação geral a seu ambiente ou aos seus ideais é sem qualquer vigor. É esta a verdade em que se baseia o conhecido provérbio “quanto maior o pecador, maior o santo”.
Desse relacionamento entre desejo e vontade vemos também como a remoção gradual dos elementos pessoais da vida de um indivíduo tende a tornar suas ações cada vez mais hermonicas.
Nos primeiros estágios da evolução, enquanto os desejos dirigem sua vida, a força motora da ação é o desejo. Quando surge o desejo por qualquer objeto, imediatamente a mente pensa em meios e modos de satisfazê-lo e, se o desejo é suficientemente forte e persistente, segue-se, mais cedo ou mais tarde, a ação. Nessa procura de toda a espécie de objetos desejáveis, o indivíduo fica constantemente ocupado, ganha experiência e desenvolve os vários poderes da mente. Nos estágios mais avançados de evolução, com o despertar do discernimento e progressiva remoção dos desejos pessoais, a vontade gradualmente ganha ascendência e vem a ser a força motora da ação. E a ação, assim purificada, torna-se cada vez mais impessoal e um reflexo da Harmonia com o Todo. Nessa condição não prende o indivíduo porque não é executada em seu benefício, mas em Harmonia com o Todo. Na realidade, nos mais avançados estágios de harmonização seria mais correto dizer-se que a ação é feita através do indivíduo em vez de pelo indivíduo.
Chegamos agora a um outro grupo de fenômenos de consciência que, embora derivado do desejo, forma uma classe separada, a das chamadas emoções.
As emoções resultam parcialmente da atividade do corpo astral e e do corpo mental.
Vimos que o desejo, em seu aspecto elementar, é caracterizado pela atração e repulsão por objetos, e ativação dos poderes da mente no sentido de obter ou repelir esses objetos. Um resultado dessa associação constante e intima é o nascimento das diferentes espécies de emoções.
A emoção é, portanto, uma estado complexo de consciência em cuja constituição entram desejo e pensamento.
Isto pode não parecer bastante óbvio no caso de algumas emoções, mas uma análise cuidadosa dessas emoções revelará sempre a presença dos três elementos essenciais: sentimentos, atração ou repulsão e pensamento em diferentes proporções e intensidades.
Assim, quando admiramos um belo pôr-de-sol a emoção pode parecer superficialmente destituída do elemento atração ou repulsão, mas um análise cuidadosa do estado da mente mostrará que o elemento de prazer e consequente atração ou desejo aí está. O próprio fato de que gostamos de ver o pôr-do-sol mostra o elemento de prazer e atração. Quando vemos uma cena de horror, imediatamente nos afastamos.
Vista superficialmente, a grande variedade de emoções que experimentamos em diferentes épocas e ocasiões parece simplesmente formar um cipoal, não havendo qualquer base definida para classificá-las.
Mesmo a Psicologia moderna com suas amplas pesquisas e amor pela classificação, não tentou esta difícil tarefa de pôr certa ordem na esfera aparentemente caótica da mente. Mas a confusão e a ausência de um principio na classificação das emoções é somente aparência. A maior parte das emoções se inter-relaciona a essa relação foi muito cuidadosamente estudada por Dr. Bhagwan Das em seu livro, A Ciência das Emoções (The Science the Emotions). Ele procura demonstrar que a maior parte das emoções originam-se de duas emoções primarias Amor e ódio, baseadas na atração ou repulsão. Como essas emoções de amor e ódio podem ser dirigidas a um superior, a um inferior ou a um igual, tomam diferentes aspectos e as permutações e combinações das seis emoções secundárias – três derivadas do amor e três do ódio – combinadas com outros fatores mentais podem ser responsáveis pela grande maioria das emoções conhecidas dos psicólogos. Não necessitamos entrar em maiores detalhes a este respeito, mas podemos chegar de imediato a influência dessa idéia fundamental em nossa vida e como pode ela ser utilizada sistematicamente na construção do caráter.
Se desejamos ser sempre harmonicos, devemos eliminar completamente de nossa vida emocional todas as emoções baseadas no desarmonia, e cultivar, tanto quanto possível, as que têm raízes na harmonia. Mas somos governados no mundo emocional, bem como no mundo físico e mental, pela lei do hábito. Estamos aptos a nos deixar levar por emoções que nos habituamos a acolher e a encontrar dificuldade em despertar emoções que não expressamos com freqüência. Assim, o problema se resolve pelo cultivo sistemático dos hábitos emocionais harmonicos, implantando e nutrindo aqueles que são baseados na harmonia e erradicando os derivados da desarmonia. A classificação das emoções nos dará a diretriz para distinguir entre a duas espécies de emoções e para construir uma vida emocional saudável.
Quando começarmos a reconstruir, dessa maneira, nossa natureza emocional, verificaremos que realmente estamos cultivando virtudes e livrando-nos de vícios, pois virtudes e vícios, na maioria dos casos, nada mais são do que hábitos emocionais baseados em atração e repulsão respectivamente. Veremos assim que levar uma vida virtuosa não consiste apenas em desejar ou aspirar, mas também em formar hábitos emocionais harmonicos. Este trabalho pode ser empreendido de maneira sistemática e executado com o auxilio das leis que operam nesse reino.
A relação das emoções com as virtudes e os vícios mostra também o lugar de uma vida virtuosa . O cultivo das virtudes apenas assegura uma vida emocional correta e saudável. Uma vida virtuosa é necessária como fundamento para uma vida mais elevada do Espírito, mas não pode substituí-la. Sobre a questão da purificação e refino das emoções falaremos mais adiante.