
– A quarta via de Gurdjieff
O Quarto Caminho é um método de autoconhecimento e autotransformação desenvolvido e apresentado ao ocidente por George Ivanovich Gurdjieff (1866-1949).
Georgiǐ Ivanovič Gǐurdžiev foi um místico e mestre espiritual armênio. Ensinou a filosofia do autoconhecimento profundo, através da lembrança de si, transmitindo a seus alunos, primeiro em São Petersburgo, depois em Paris, o que aprendera em suas viagens pela Rússia, Afeganistão e outros países.
Era uma figura enigmática e uma força influente no panorama dos novos ensinamentos religiosos e psicológicos, mais como um patriarca do que como um místico Cristão. Era considerado, por aqueles que o conheceram, como um incomparável “despertador” de homens. Trouxe para o Ocidente um modelo de conhecimento esotérico e deixou atrás de si uma metodologia específica para o desenvolvimento da consciência.
Ele defende que poderíamos simplesmente escolher um dos métodos tradicionais, tal qual o físico (como o faquir), o emocional (como o monge) ou o intelectual (como o yogue), mas que isto seria muito difícil no mundo ocidental.
Segundo Gurdjieff, o Quarto Caminho seria um meio mais rápido do que os três primeiros, porque combina simultaneamente o trabalho nos três centros (motor, emocional e intelectual), em vez de se concentrar em um. Poderia ser seguido por pessoas comuns na vida cotidiana, não precisando se retirar no deserto. O Quarto Caminho envolve certas condições impostas por um professor, mas a aceitação cega delas é desencorajada. Cada aluno é aconselhado a fazer apenas o que eles entendem e verificar por si mesmos as idéias do ensino. O sistema espiritual que Gurdjieff trouxe para o Ocidente, após longas viagens pela Ásia encontrando‑se com “homens notaveis”, trata‑se, nas palavras de seu pupilo Orage (Alfred Richard Orage (22 de janeiro de 1873 – 6 de novembro de 1934) foi uma figura britânica influente na política socialista e na cultura modernista, mais conhecido por editar a revista The New Age antes da Primeira Guerra Mundial. Enquanto trabalhava como professor em Leeds, ele perseguiu vários interesses, incluindo Platão, o Partido Trabalhista Independente e a teosofia . Em 1900 ele conheceu Holbrook Jackson e três anos depois eles co-fundaram o Leeds Arts Club , que se tornou um centro da cultura modernista na Grã-Bretanha. Depois de 1924, Orage foi para a França para trabalhar com Gurdjieff e foi enviado para os Estados Unidos por Gurdjieff para levantar fundos e dar palestras. Ele traduziu várias das obras de Gurdjieff), das doutrinas religiosas do Oriente camufladas sob “uma terminologia que não causasse estranheza às mentes factuais dos pensadores ocidentais”.
“

Alfred R. Orage
Ouspensky (Pyotr Demianovich Ouspenskii (conhecido em inglês como Peter D. Ouspensky 5 de março de 1878 – 2 de outubro de 1947) russo foi um filósofo e esoterista conhecido por suas exposições dos primeiros trabalhos de Gurdjieff . Ele conheceu Gurdjieff em Moscou em 1915 e foi associado às idéias e práticas originárias de Gurdjieff a partir de então. Ele ensinou idéias e métodos baseados no sistema de Gurdjieff por 25 anos na Inglaterra e nos Estados Unidos, embora tenha se separado de Gurdjieff pessoalmente em 1924, por motivos que são explicados no último capítulo de seu livro Em Busca do Milagroso .
Ouspensky estudou o sistema de Gurdjieff diretamente sob a supervisão do próprio Gurdjieff por um período de dez anos, de 1915 a 1924. In Search of the Miraculous relata o que aprendeu com Gurdjieff durante aqueles anos. Durante uma palestra em Londres em 1924, ele anunciou que continuaria independentemente do jeito que havia começado em 1921. Alguns, incluindo seu pupilo Rodney Collin , dizem que ele finalmente desistiu do sistema em 1947, pouco antes de sua morte, mas seu próprio palavras gravadas sobre o assunto (“A Record of Meetings”, publicado postumamente) não endossam claramente este julgamento.), outro discípulo de Gurdjieff, diz que esse sistema é uma “escola esotérica”, não adequada ao gosto das massas, que diz como fazer aquilo que as religiões populares ensinam que tem de ser feito, isto é, a transformação da consciência da pessoa.

O próprio Gurdjieff chamou‑a “a quarta via”: não o caminho tradicional do faquir, monge ou yogui, mas a via do “homem esperto”, que não se retira do mundo em meditação solitária, mas trabalha sua consciência no espelho de seus relacionamentos com pessoas, animais, propriedades e idéias. Num estágio avançado, o discípulo de Gurdjieff tem de compartilhar seu conhecimento adquirido com outras pessoas a fim de avançar ainda mais, e assim se desenvolveram inúmeros grupos gurdjieffianos de segunda, terceira e quarta gerações, cada um com seu próprio estilo e idiossincrasias. Posto que a escola original de Gurdjieff fez uso de um amplo espectro de técnicas, qualquer grupo de sua quarta via dos dias atuais pode ou não usar os métodos examinados aqui, que são primordialmente os de Ouspensky.
Gurdjieff diz que a maioria das pessoas estão “adormecidas”, vivendo uma vida de reação automática a estímulos. “O homem contemporâneo”, escreve Gurdjieff, “desviou‑se gradualmente do tipo natural que ele devia representar.. as percepções e manifestações do homem moderno… representam apenas os resultados de reflexos automáticos de uma ou outra parte de sua integridade geral”.
Tal como o Buda, Gurdjieff entende o estado normal do homem como um estado de sofrimento. Nós, seres humanos, por sermos incapazes de ver a situação tal como realmente é, permanecemos dominados pelo egoísmo, pelas paixões animais como medo, excitação e ódio, e pela busca do prazer.
O sofrimento, porém, pode nos dar um impulso para a liberdade. O caminho para a libertação não está nas noções convencionais de vida virtuosa, mas num programa intencional para a autotransformação. O remédio que Gurdjieff propõe começa com a auto observação. Kenneth Walker (
Walker nasceu em Hampstead , Londres. Ele foi educado na Leys School e no Gonville and Caius College, em Cambridge . [3] Ele estudou na Universidade de Cambridge e no Royal College of Surgeons . Ele serviu como capitão no Royal Army Medical Corps (1915–1919). [4] Ele levou o FRCS em 1908 e foi premiado com o Prêmio Jacksonian em 1910 por seu ensaio sobre a tuberculose da bexiga . Ele trabalhou como cirurgião no St. Bartholomew’s Hospital e foi cirurgião emérito no Royal Northern Hospital . [5]
Walker escreveu muitos livros. Ele escreveu The Log of the Ark com Geoffrey Boumphrey em 1923. Ele foi o autor de Meaning and Purpose (1944), uma análise das principais teorias científicas dos últimos cem anos e seu impacto sobre o pensamento e a crença religiosa. O objetivo era questionar a integridade da Charles Darwin e evolução de teoria da seleção natural , bem como avaliar as descobertas científicas mais relevantes no momento da publicação e seu efeito na população em geral. Ele também atacou relatos mecanicistas do universo e da seleção natural em seu livro Life’s Long Journey (1961). [6]
Ele estudou as idéias e métodos de George Gurdjieff com PD Ouspensky , [7] e quando este último morreu em 1947, ele visitou o próprio Gurdjieff em Paris . Ele contribuiu com artigos inteligentes para o Picture Post , uma publicação altamente popular, e foi referido por um amigo como ‘O Sábio do Picture Post’. Ele conduziu grupos de estudo na Gurdjieff Society London. Entre seus livros estão Um Estudo dos Ensinamentos de Gurdjieff e Venture with Ideas . Seu estilo de escrita era simples e direto.Walker também estava interessado em parapsicologia . Em seu livro The Extra-Sensory Mind, ele apoiou as controversas reivindicações da radiônica), que estudou com Ouspensky e Gurdjieff, exprime‑se assim:
Estamos aprisionados dentro de nossas próprias mentes, e por mais longe que as estendamos, e por mais que as embelezemos, continuamos dentro de suas paredes. Se algum dia tivermos de escapar de nossas prisões, o primeiro passo terá de ser percebermos nossa verdadeira situação e ao mesmo tempo vermos a nós mesmos como de fato somos e não como imaginamos que somos. Isso pode ser feito mantendo‑nos a nós mesmos num estado de consciência passiva…
Walker aqui descreve a “auto lembrança”, uma técnica de dividir deliberadamente a atenção de alguém de modo a dirigir uma porção dela para a própria pessoa. Dentro dos múltiplos e flutuantes eus, a pessoa estabelece uma percepção que apenas observa o resto: o “eu observador” ou a “testemunha”. No princípio há uma grande dificuldade para se chegar a um eu observador estável, o iniciante constantemente se esquece de lembrar‑se de si mesmo, e a auto observação dissolve‑se na sua identificação total costumeira com qualquer “eu” que governa sua mente num dado momento. Mas com persistência a auto-observação do iniciante se fortalece, pois, nas palavras de Ouspensky, “quanto mais apreciamos nosso atual estado psicológico de adormecido, mais apreciamos a urgente necessidade de transformá‑lo”. A auto recordação é como a atentividade. A atitude psicológica requerida nesse método é o desapego de si mesmo, como se os próprios pensamentos e atos fossem os de alguma outra pessoa com quem não se tem multa intimidade. Ouspensky instrui:
Observe‑se a si mesmo muito cuidadosamente e você verá que não você mas it (Pronome pessoal neutro, inexistente em português, usado em inglês, entre outras funções, como sujeito de verbos impessoais: it rains (“chove”), it is late Ç’é tarde”), it is hot today (“está quente hoje”), etc.) fala dentro de você, move‑se, sente, ri e chora em você, tal como it chove, pára de chover e chove de novo fora de você. Tudo acontece em você e seu primeiro trabalho é observar e examinar it acontecendo.

Quando o aspirante se dá conta de que houve um lapso em sua auto observação, ele redireciona sua mente dispersa para a tarefa de observar‑se a si mesmo. Embora vários círculos gurdjieffianos usem uma multiplicidade de técnicas, elas quase sempre são subsidiárias da auto lembrança. A principal habilidade almejada é a capacidade de dirigir a atenção à auto observação.
Ouspensky qualifica tanto o estado de transe do samadhi quanto o estado normal de identificação que “aprisiona o homem em algum cubículo de si mesmo” como antitéticos a seu objetivo. Tal como na meditação de introvisão, na auto-lembrança as “lentes distorcidas da personalidade” são abandonadas para que a pessoa se veja claramente. Na auto lembrança, como na atentividade do zazen, a pessoa reconhece a si mesma em integralidade sem comentar e sem nomear o que é visto.
Outro exemplo de exercício gurdjieffiano de auto lembrança é focalizar um aspecto do comportamento diário ‑ por exemplo, os movimentos das mãos ou gestos faciais ‑, perscrutando‑o o dia todo. Outra instrução ainda para a auto lembrança é:
“Onde quer que se esteja, o que quer que se faça, lembrar-se da própria presença e reparar sempre no que se faz”.
Essas instruções são paralelas às da atentividade. A semelhança entre os sistemas possivelmente não é acidental. Tanto Gurdjieff quanto Ouspensky viajaram por regiões em que o vipassana ou técnicas similares eram ensinadas precisamente para aprender tais métodos, e Gurdjieff foi um grande compilador, reformulador e transmissor de doutrinas orientais.
No curso da auto lembrança, o discípulo se apercebe (tal como na via da introvisão) de que seus estados interiores estão em constante fluxo e de que não existe nada parecido com um “eu” permanente interno. Em vez disso, ele vê um elenco interno de personagens ou características principais”. Cada uma, por sua vez, domina a cena e adiciona suas idiossincrasias à forma de sua personalidade. Com a auto observação, a multiplicidade desses eus fica aparente mas em seguida se dissipa. Ao serem observados, esses eus perdem seu poder à medida que o discípulo deixa de se identificar com eles. À proporção em que fortalecer seu eu observador e permanecer destacado de todos os outros, o discípulo “despertará”. Ao despertar, ele sacrifica seus eus cotidianos. Walker descreve esse estado desperto como “uma sensação de estar presente, de estar aí, de pensar, perceber, sentir e mover‑se com certo grau de controle e não apenas automaticamente”. Nesse estado, a testemunha se cristaliza como uma função mental constante. O discípulo pode ver a si mesmo com plena objetividade.
Essa ordem de autoconhecimento é preliminar ao estado mais elevado, “consciência objetiva”. Nesse estado, o discípulo vê não somente a si mesmo mas tudo o mais também com plena objetividade. A consciência objetiva é a culminação da auto lembrança. A consciência ordinária da pessoa não é desalojada, mas a plena objetividade é sobreposta a ela. Isso traz um “silêncio interior” e uma sensação libertadora de distância em relação aos burburinhos contínuos da mente. A experiência do mundo, na consciência objetiva, fica inteiramente alterada; Walker descreve o estado final do treinamento de Gurdjieff:
O pequeno “eu” limitador da vida diária, o eu que insiste em seus direitos pessoais e sua exclusividade, já não está ali para isolar a pessoa de tudo o mais, e na ausência dele a pessoa é recebida dentro de uma ordem de existência muito mais ampla… à medida que o clamor de pensamento desfalece no silêncio interior, uma sensação esmagadora de “ser” toma seu lugar… Conceitos tão limitados quanto os de “teu”, “meu”, “dele”, “dela” não fazem sentido… e mesmo aquelas velhas divisões do tempo em “antes” e “depois” ficaram afogadas na insondável profundeza de um onipresente “agora”. Igualmente desapareceu assim… a divisão entre o sujeito e o objeto, o conhecedor e a coisa conhecida.
Bennett (John Godolphin Bennett (8 de junho de 1897 – 13 de dezembro de 1974) foi um acadêmico e autor britânico.
Ele é mais conhecido por seus livros sobre psicologia e espiritualidade, particularmente sobre os ensinamentos de Gurdjieff. Bennett conheceu Gurdjieff em Istambul em outubro de 1920 e mais tarde ajudou a coordenar o trabalho de Gurdjieff na Inglaterra depois que o guru se mudou para Paris.
Na França, em março de 1918, ele foi derrubado de sua motocicleta por uma bomba que explodiu. Levado para um hospital militar, operado e aparentemente em coma por seis dias, Bennett teve uma experiência fora do corpo . Ele se convenceu de que existe algo no homem que pode existir independentemente do corpo.
“Estava perfeitamente claro para mim que estar morto é bem diferente de estar muito doente, muito fraco ou desamparado. No que me diz respeito, não havia medo algum. E, no entanto, nunca fui um homem corajoso e certamente ainda estava com medo. de armas de fogo pesadas. Eu estava ciente de minha total indiferença em relação ao meu próprio corpo.”
Essa experiência colocou sua vida em um novo curso. Ele descreveu o retorno à consciência normal como o retorno a um corpo que agora era, de certa forma, um estranho.
Após a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa, muitos deslocados passaram por Constantinopla a caminho do Ocidente. Parte do trabalho de Bennett era monitorar seus movimentos. Entre eles estavam Gurdjieff e Ouspensky, que Bennett conheceu através do Príncipe Sabahaddin . Este pensador reformista o apresentou a uma ampla gama de sistemas religiosos e ocultistas, incluindo a Teosofia e a Antroposofia . Bennett ficou determinado a buscar uma realidade mais profunda. Ele ficou profundamente impressionado com as idéias de Gurdjieff sobre o arranjo do organismo humano e a possibilidade de transformação de um homem para um estado superior de ser, e mais tarde dedicaria grande parte de sua vida à elaboração e disseminação dessas idéias.) dá sete categorias de homem no sistema de Gurdjieff, das quais as três últimas são homens “libertos”; essas três últimas são gradações da consciência objetiva. Como parte de sua transformação rumo à consciência objetiva, a pessoa fica livre das influências arbitrárias e irracionais das fontes internas e externas respectivamente. O homem liberto, na sexta categoria, por exemplo, é o mesmo que o “bodhisattva” do budismo Mahayana, ou os grandes santos e wadis do cristianismo e do islamismo. já não se preocupa com seu próprio bem-estar, mas comprometeu‑se a si mesmo na salvação de todas as criaturas”

– A consciência sem escolha de Krishnamurti

Jiddu Krishnamurti (Madanapalle, 11 de maio de 1895 — Ojai, 17 de fevereiro de 1986) foi um filósofo, escritor, orador e educador indiano.
Veio de uma família telagú de linha Brahmanica. Nasceu em 12 de maio em um pequeno povoado situado a 250 quilómetros ao norte de Madrasta. Como oitavo filho, seu nome foi dado segundo a tradição ortodoxa hindu, em homenagem a Sri Krishna que havia sido também um oitavo filho.
Com seus irmãos acompanhou seu pai Jiddu Narianiah a Adyar em 23 de janeiro de 1909, pois este conquistara um emprego de secretário-assistente da Sociedade Teosófica, entidade que estuda todas as religiões, ciências e filosofias buscando a verdade comum delas assim como o desenvolvimento dos poderes latentes do homem e a criação de um núcleo de fraternidade universal.
Com a idade de treze anos, passou a ser educado pela Sociedade Teosófica, que o considerava um dos grandes Mestres do mundo. Em Adyar, Krishnamurti, foi ‘descoberto’ por Charles W. Leadbeater, famoso membro da Sociedade Teosófica (ST), em abril de 1909, que, após diversos encontros com o menino, viu que ele estava talhado para se tornar o ‘Instrutor do Mundo’, acontecimento que vinha sendo aguardado pelos teosofistas. Em razão disso foi adotado por Leadbeater e Annie Besant então presidente da ST. Após dois anos, em 1911 foi fundada a Ordem da Estrela do Oriente, com Krishnamurti como chefe, que tinha como objetivo reunir aqueles que acreditavam nesse acontecimento e preparar a opinião pública para o seu aparecimento, com a doação de diversas propriedades e somas em dinheiro.
Krishnamurti assim foi sendo preparado pela ST; algo, porém, iniciou sua separação de seus tutores: a morte de seu irmão Nitya em 13 de novembro de 1925, que lhe trouxe uma experiência que culminou em uma profunda compreensão. Krishnamurti em breve viria a emergir como um instrutor espiritual, e dito Mestre extraordinário e inteiramente descomprometido. As suas palestras e escritos não se ligam a nenhuma religião específica, nem pertencem ao Oriente ou ao Ocidente, mas sim ao mundo na sua globalidade:
“Afirmo que a Verdade é uma terra sem caminho. O homem não pode atingi-la por intermédio de nenhuma organização, de nenhum credo (…) Tem de encontrá-la através do espelho do relacionamento, através da compreensão dos conteúdos da sua própria mente, através da observação. (…)”.
Durante o resto da existência, foi rejeitando insistentemente o estatuto de guia espiritual que alguns tentaram lhe atribuir. Continuou a atrair grandes audiências por todo o mundo, mas recusando qualquer autoridade, não aceitando discípulos e falando sempre como se fosse de pessoa a pessoa. O cerne do seu ensinamento consiste na afirmação de que a necessária e urgente mudança fundamental da sociedade só pode acontecer através da transformação da consciência individual. A necessidade do auto conhecimento e da compreensão das influências restritivas e separativas das religiões organizadas, dos nacionalismos e de outros condicionamentos, foram por ele constantemente realçadas. Chamou sempre a atenção para a necessidade urgente de um aprofundamento da consciência, para esse “vasto espaço que existe no cérebro onde há inimaginável energia”. Essa energia parece ter sido a origem da sua própria criatividade e também a chave para o seu impacto catalítico numa tão grande e variada quantidade de pessoas.
Proferiu discursos que envolveram temas como revolução psicológica, meditação, conhecimento, liberdade, relações humanas, a natureza da mente, a origem do pensamento e a realização de mudanças positivas na sociedade global. Constantemente ressaltou a necessidade de uma revolução na psique de cada ser humano e enfatizou que tal revolução não poderia ser levada a cabo por nenhuma entidade externa seja religiosa, política ou social. Uma revolução que só poderia ocorrer através do autoconhecimento; bem como da prática correta da meditação ao homem liberto de toda e qualquer forma de autoridade psicológica.
A educação foi sempre uma das preocupações de Krishnamurti. Fundou várias escolas em diferentes partes do mundo onde crianças, jovens e adultos pudessem aprender juntos a viver um cotidiano de compreensão da sua relação com o mundo e com os outros seres humanos, de descondicionamento e de florescimento interior. Durante sua vida, viajou por todo o mundo falando às pessoas, tendo falecido em 1986, com a idade de noventa anos. As suas palestras e diálogos, diários e outros escritos estão reunidos em mais de sessenta livros.
Reconhecendo a importância dos seus ensinamentos, amigos do filósofo estabeleceram fundações, na Europa, nos Estados Unidos, na América Latina e na Índia, assim como Centros de Informação, em muitos países do mundo, onde se podem colher informações sobre Krishnamurti e a sua obra. As fundações têm caráter exclusivamente administrativo e destinam-se não só a difundir a sua obra mas também a ajudar a financiar as escolas experimentais por ele fundadas.
Citações
“ | Há uma diferença entre concentração e atenção. Concentração é trazer toda sua energia para focá-la em um ponto determinado. Na atenção não existe um ponto de foco. Nós estamos familiarizados com um e não com o outro. Quando você presta atenção ao seu corpo, o corpo torna-se quieto, o qual tem sua própria disciplina. Ele está relaxado, mas não indolente e tem a energia da harmonia. Quando existe atenção, não há contradição e, portanto não há conflito. Quando você ler isto, preste atenção à maneira que você está sentado, à maneira que você está escutando, como você está recebendo o que a carta está dizendo a você, como você está reagindo ao que está sendo dito e porque você está achando difícil prestar atenção. Você não está aprendendo como prestar atenção. Se você estiver aprendendo o como prestar atenção, então isto se tornará um sistema, que é o que o cérebro está acostumado, e então você faz da atenção algo mecânico e repetitivo, ao passo que a atenção não é mecânica ou repetitiva. É a maneira de olhar para sua vida inteira sem o centro do interesse próprio. | ” |
“ | O problema por conseguinte, é este: para que o homem possa transformar-se radicalmente, fundamentalmente, torna-se necessária uma mutação nas próprias células cerebrais de sua mente. Dizem-nos que devemos mudar, que devemos agir, que devemos transformar nossa mente, nosso coração, tornar-nos uma coisa totalmente diferente. Isso vem sendo pregado há milhares de anos por homens muito sérios, muito ardorosos, e também por charlatães interessados em explorar o povo. Mas, agora, chegamos ao ponto em que não há mais tempo a perder. Compreendei isto por favor. Não dispomos de tempo para efetuar gradualmente tal transformação. Os intelectuais de todo o mundo estão reconhecendo que o homem se acha à beira de um abismo, na iminência de destruir a si próprio. Nem religiões, nem deuses, nem salvadores, nem mestres, nem as lengalengas dos gurus, poderão impedi-los. Dizem os intelectuais ser necessário inventar uma nova droga, uma ‘pílula dourada’ capaz de produzir uma completa transformação química; e os cientistas provavelmente descobrirão esta droga. Não sei se estais bem a par dessas coisas. Ora conquanto o organismo físico seja um produto bioquímico, pode uma droga, uma superdroga fazer-vos amar, tornar-vos bondosos, generosos, delicados, não violentos? Não o creio; nenhum preparado químico pode fazer os homens amarem-se uns aos outros. O amor não é um produto do pensamento; também não é cultivável, como a flor que cultivamos em nosso jardim. O amor não pode ser comprado numa drogaria, e o amor é a única coisa que poderá salvar o homem – e não os artifícios das religiões, nem seus ritos, nem todos os exércitos do mundo. Podemos fugir, assistindo a concertos, visitando museus, entregando-nos a divertimentos de toda ordem – debalde! – porque o homem se acha hoje em dia em presença de um tremendo problema: se tem a possibilidade de transformar-se radicalmente, de efetuar uma total mutação de sua consciência, não amanhã, nem daqui a alguns anos, mas agora! Eis o problema principal: se o homem, em qualquer país que viva, com todas as suas belezas naturais, é capaz de operar uma mutação radical em seu interior, imediatamente. E não podeis resolvê-lo com vossas crenças, vossas ideologias, vossos deuses, salvadores, sacerdotes e rituais. Essas coisas já não tem o menor significado. | ” |
“ | Meditação é libertar a mente de toda desonestidade. O pensamento gera desonestidade. O pensamento, no seu esforço para ser honesto, é comparativo e, portanto, desonesto. (…) Meditação é o movimento dessa honestidade no silêncio | ” |
A visão de Krishnamurti da condição humana é próxima daquela do budismo. A mente e o mundo, diz Krishnamurti, estão num fluxo incessante: “Só existe um fato, a impermanência”. A mente humana agarra‑se a um “eu” diante da insegurança desse fluxo. Mas o “eu” existe apenas através da identificação com aquilo que ele imagina ter sido e quer ser. O “eu” é uma “massa de contradições, desejos, buscas, realizações e frustrações, com a mágoa superando a alegria”. Uma fonte de mágoa é o constante conflito mental entre “o que é” e “o que deve ser”. A mente condicionada, na análise de Krishnamurti, foge dos fatos de sua impermanência, de seu vazio e sua mágoa. Ela ergue paredes de hábito e repetição e persegue seus sonhos de futuro ou agarra‑se ao que já foi. Essas defesas nos paralisam. Elas nos impedem de viver no momento presente.
J. Krishnamurti ensina o “método” da consciência sem esforço e sem escolha como distinto do da concentração deliberada. Sri Bhagavan ficaria satisfeito em explicar como praticar melhor a meditação e qual a forma que o objeto da meditação deve assumir?
Ramana Maharshi: A consciência sem esforço e sem escolha é a nossa natureza real . Se pudermos atingir esse estado e permanecer nele, tudo bem. Mas não se pode alcançá-lo sem esforço, o esforço da meditação deliberada. Todas as vásanas antigas (tendências inerentes) voltam a mente para objetos externos. Todos esses pensamentos devem ser abandonados e a mente voltada para dentro e isso, para a maioria das pessoas, exige esforço. Obviamente, todo professor e todo livro diz ao aspirante que fique quieto, mas não é fácil fazê-lo. É por isso que todo esse esforço é necessário.
Mesmo que encontremos alguém que tenha alcançado esse estado supremo de quietude, você pode considerar que o esforço necessário já havia sido feito em uma vida anterior. Portanto, a “consciência sem esforço e sem escolha” só é alcançada após a meditação deliberada. Essa meditação pode assumir qualquer forma que mais lhe agrade. Veja o que ajuda você a afastar todos os outros pensamentos e adote isso para sua meditação.
Krishnamurti opõe‑se a métodos de meditação, a solução que tantos outros advogam. Na medida em que a mente tenta escapar do condicionamento por meio da meditação, diz Krishnamurti, ela simplesmente cria, na própria tentativa, outra prisão de métodos a seguir e de metas a atingir. Ele se opõe a técnicas de qualquer tipo e insiste que deixemos de lado toda autoridade e tradição: delas só se pode obter conhecimento, ao passo que o necessário é a compreensão. Segundo Krishnamurti, nenhuma técnica pode libertar a mente, pois qualquer esforço da mente só faz tecer outra rede. Ele se opõe enfaticamente, por exemplo, aos métodos de concentração:
Ao repetir Amem ou Om ou Coca‑Cola indefinidamente você obviamente passa por alguma experiência porque pela repetição a mente fica quieta… Uma das táticas iniciais favoritas de alguns mestres de meditação é insistir para que seus discípulos aprendam a concentração, isto é, fixar a mente em um pensamento e expulsar todos os demais pensamentos. É uma coisa muito estúpida, feia, que qualquer menino de escola consegue fazer por ser obrigado.
A “meditação” que Krishnamurti advoga não tem sistema, muito menos “repetição e imitação”. Ele propõe, tanto como meio quanto como fim, uma “consciência sem escolha”, que é “vivenciar o que existe sem nomear”. Esse estado está além do pensamento; todo pensamento, diz ele, pertence ao passado, e a meditação está sempre no presente. Para estar no presente, a mente precisa abandonar os hábitos adquiridos pela necessidade de estar segura; “seus deuses e virtudes têm de ser devolvidos à sociedade que os gerou”. É preciso abandonar todo pensamento e toda imaginação. Krishnamurti aconselha:
Deixe a mente esvaziar‑se, e não se encher com as coisas da mente. Então, só há meditação, e não um meditador que está meditando… a mente apanhada pela imaginação só pode gerar ilusões. A mente tem de estar clara, sem movimento, e à luz dessa claridade o intemporal se revela.
Krishnamurti parece advogar um estado final único, um método sem método. Mas, num exame mais acurado, ele revela diretamente o “como” a todos os que podem ouvir, embora ao mesmo tempo insista em que “não há como algum; método algum”. Ele nos instrui a “apenas ficarmos atentos a tudo isso… a todos os nossos próprios hábitos, reações”. Seu meio é observar constantemente a própria percepção da pessoa. A “não técnica” de Krishnamurti fica mais clara em suas instruções para um grupo de jovens escolares indianos. Primeiro disse a eles que se sentassem tranqüilos, de olhos fechados, e então observassem a progressão de seus pensamentos. Insistiu para que continuassem esse exercício em outros momentos, inclusive quando andassem ou estivessem na cama à noite:
Você tem que observar, tal como observa uma lagartixa atravessando uma parede, vendo suas quatro patas, como ela adere à parede, você tem que observá‑la, e enquanto observa você vê todos os movimentos, a delicadeza de seus movimentos. Então, da mesma maneira, observe seu pensamento, não o corrija, não o suprima ‑ não diga que é difícil demais ‑, apenas observe‑o, agora, nesta manhã.
Ele chama essa atenção cuidadosa de “autoconhecimento”. Sua essência é “perceber as maneiras de sua própria mente” de modo a que a mente fique “livre para se acalmar”. Quando a mente está calma, a pessoa compreende. A chave para a compreensão é “a atenção sem a palavra, sem o nome”. Ele instrui: “Olhe e seja simples”: onde existe atenção sem pensamento reativo, existe realidade.
O processo que Krishnamurti propõe para o autoconhecimento duplica o treinamento da atentividade. Mas o próprio Krishnamurti provavelmente não toleraria essa comparação por causa do perigo que julga inerente à busca de qualquer meta por meio de uma técnica. O processo que ele sugere para acalmar a mente jorra espontaneamente da percepção que se tem da própria condição, pois saber “que você esteve adormecido já é um estado desperto”. Esta verdade, insiste ele, atua na mente, liberando‑a. Krishnamurti assegura‑nos:
Quando a mente se dá conta da totalidade de seu próprio condicionamento… então todos os seus movimentos chegam a um fim: ela está completamente tranqüila, sem qualquer desejo, sem qualquer compulsão, sem qualquer motivo.
Esse despertar é, para Krishnamurti, um processo automático. A mente descobre a solução ‑ ou, antes, é arrebatada por ela ‑ “através da intensidade da própria questão”. Esse dar‑se conta não pode ser buscado: “Ele vem sem convite”. Se alguém experimentar esse despertar de que fala Krishnamurti, um novo estado emergirá, assegura‑nos ele. Nesse estado, a pessoa está liberta dos hábitos condicionados de percepção e cognição, esvaziada de seu eu. Estar em tal estado, diz Krishnamurti, é amar: “Onde está o eu, o amor não está”. Esse estado traz um “estar sozinho além da solidão” onde não há movimento algum dentro da mente, mas sim um puro vivenciar, “atenção sem motivo”. Está‑se livre da inveja, da ambição, da sede de poder, e a pessoa ama com compaixão. Aqui, sentir é saber, num estado de total atenção sem observador algum. Vivendo num eterno presente, a pessoa pára de recolher impressões ou experiências; o passado morre para ela a cada momento. Com essa consciência sem escolha, está‑se livre para ser simples; como afirma Krishnamurti:
Estar longe, longe do mundo do caos e da miséria, viver nele, intocado… A mente meditativa está desligada do passado e do futuro e apesar disso é sadiamente capaz de viver com clareza e razão.
– A meditação transcendental

Criada por Maharishi Mahesh Yogi (Foi sempre extremamente sigiloso a respeito de sua vida pessoal e dos seus antecedentes, contudo algumas fontes afirmam que ele teria nascido como Mahesh Prasad Varma, em Jabalpur, Madhya Pradesh, Índia, em 12 de Janeiro de 1917, no seio de uma família hindu, de classe média baixa, da casta kayastha (burocratas). Contudo, o seu passaporte indica a data de 12 de Janeiro de 1918. Em 1940, ter-se-ia licenciado em física na Universidade de Allahabad, embora isso nunca tenha sido comprovado.
Em 1941, tornou-se discípulo de Swami Brahmananda Saraswati (1871-1953), Shankaracharya de Jyotirmath, nos Himalaias. Pouco tempo depois, tornou-se brahmacharya (o primeiro nível da vida monástica, em que o noviço faz voto de castidade, pobreza e de obediência ao guru), tendo recebido o nome de Bal Brahmacharya Mahesh, também trabalhou como secretário do Shankaracharya, ou Guru Dev.

Depois da morte de Guru Dev, em 1953, sem se ter tornado swami, como seria suposto, Mahesh retirou-se para Uttar Kashi, um vale nas encostas dos Himalaias, retiro de muitos yogis e eremitas, onde o seu mestre vivera durante muitos anos. Ali o Brahmacharya Mahesh praticou meditação intensiva, segundo afirmou. Em 1955, começou a ser importunado por um pensamento recorrente a respeito de Rameshwar, uma cidade no sul da Índia. Um de seus amigos yogis aconselhou-o a ir a Rameshwar para se libertar desse desejo incomodativo e a regressar a Uttar Kashi logo que possível. Mahesh assim fez.
Pouco depois de chegar a Rameshwar, foi abordado na rua por um homem que lhe pediu que fizesse um conjunto de palestras sobre a sabedoria dos mestres dos Himalaias. As palestras foram um sucesso e o Brahmacharya Mahesh, em vez de regressar a Uttar Kashi, viajou pela Índia divulgando a sua técnica de Dhyan Vidya, como então lhe chamava. Consistia numa forma de mantra yoga, em que o praticante aprende a meditar durante uma pequena e simples cerimónia iniciática, em que lhe é comunicado pelo instrutor o seu mantra pessoal. Em 1957, em Madrasta, fundou o Movimento de Regeneração Espiritual com o intuito de divulgar mundialmente a sua Meditação Profunda e de trazer a auto realização e a paz ao mundo, e, em 1958, iniciou a primeira das suas digressões internacionais, visitando vários países asiáticos.
Nos anos 1970 a Meditação Transcendental tinha sido ensinada a vários milhões de pessoas em todo o mundo, e era praticada por muitas delas, sobretudo universitários e jovens empresários. A MT era uma técnica mental simples, ensinada de forma homogénea e padronizada e portanto prestava-se facilmente a ser objecto de um estudo científico sério. Os estudos levados a cabo por vários cientistas mostraram que a MT baixava a tensão arterial, o ritmo cardíaco, o índice de lactato, aumentava a coerência e a integração do funcionamento cerebral. Também havia regulação do cortisol e outros hormônios associados com o stress crónico, e uma regularização saudável dos níveis de serotonina (um neurotransmissor associado ao humor).
Foi nesta década que Maharishi expandiu o seu movimento a nível corporativo, criando vários estabelecimentos de ensino superior, nos Estados Unidos, na Suíça, nos Países Baixos e na Índia.
A MT é uma técnica de meditação sem vínculo religioso baseada na tradição védica. Consiste na repetição mental de palavras ou frases curtas (mantras) para atingir o estado meditativo. Tal prática impede a manifestação de pensamentos e produz o nível mais profundo de consciência. Usualmente, ela é praticada em períodos de 20 minutos.
O indivíduo recebe um mantra pessoal e o utiliza para atingir graus mais intensos de vitalidade, criatividade e alegria interior. A técnica visa abstrair o indivíduo de qualquer estímulo do ambiente, utilizando para tal a repetição de um mantra.
Segundo Maharish:
“Meditação Transcendental é uma técnica natural que permite à mente consciente de modo crescente experimentar estados mais sutis de pensamento, até que a fonte do pensamento, a ilimitada reserva de energia e inteligência criativa, seja alcançada. Essa prática simples expande a capacidade da mente consciente e um homem é capaz de usar todo o seu potencial em todos os campos do pensamento e ação”
Transcendental vem do latim ‘transcendere’, que significa “atravessar”, “ultrapassar”, “transpor”. Portanto, transcendental é tudo aquilo que é “muito elevado, sublime, superior” e está “acima das idéias e conhecimentos ordinários”.
A Meditação Transcendental (MT) é uma das técnicas de meditação mais conhecida no Ocidente. A MT é uma meditação mântrica hindu clássica numa embalagem ocidental moderna. Maharishi foi habilidoso ao evitar os termos sânscritos e ao usar descobertas científicas para validar a meditação numa cultura cética, de modo que o norte‑americano normal possa sentir‑se à vontade em adotar uma prática desenvolvida por e para hindus na Índia. Ele também não acentua a natureza ortodoxa de suas crenças. A teoria por trás da MT ‑ “Ciência da inteligência criativa” ‑ é uma reapresentação atualizada da doutrina básica de pensamento vedântico da escola advaíta de Sankaracharya do século VIII.
Sankaracharya escreveu numa época em que o budismo dominava a Índia. Sua cruzada religiosa fez o hinduísmo reviver, oferecendo ao meditador um estado final de não‑dualidade em vez do nirvana. A meta do advaíta é a união da mente do meditador com Brahma informe ou consciência infinita, um passo além da meta bhakti de união com uma forma de Deus. O meio para essa união informe é o samadhi. Essa também é a meta na MT, embora Maharishi não a descreva mais nesses termos. A MT tem raízes que remontam a Sankaracharya, mesmo sendo uma reformulação do pensamento advaíta modelada para ouvidos ocidentais.
A técnica de MT de Maharishi entra na corrente das práticas do jhana, embora seja sempre alardeada como única. Como todos os yogis advaítas, Maharishi considera que “a dualidade é a causa fundamental do sofrimento”. Sua técnica para transcender a dualidade começa com a repetição de um mantra, uma palavra ou som do sânscrito. Exatamente como no Visuddhimagga, em que diferentes temas de meditação são dados a pessoas de temperamento diferente, Maharishi prega que a escolha do mantra adequado para um indivíduo específico é um fator vital na MT. E, exatamente como o Visuddhimagga retrata níveis mais delicados de unidirecionalidade como cada vez mais arrebatadores e sublimes, Maharishi descreve o “encanto” que cresce à medida que se permite à mente seguir sua tendência natural em ir para “um campo de felicidade maior” entrando em estados mais sutis de pensamento ‑ isto é, o mantra.
Existe uma mística em torno da qualidade especial do mantra de cada pessoa, e os mestres advertem os recém chegados a nunca revelar o seu a ninguém ou sequer pronunciá‑lo em voz alta. Mas, como os meditadores às vezes têm dificuldades de decorar, pessoas que entram em categorias gerais de idade, educação, etc. recebem o mesmo mantra. Os próprios mantras não são de modo algum exclusivos da MT, mas derivam de fontes do sânscrito padrão usadas por muitos hindus de hoje. Como milhões de bhaktis modernos na Índia, o meditador de MT em Iowa pode entoar silenciosamente o “Shyam” (um nome do Senhor Krishna), ou “Aing” (um som consagrado à Divina Mãe).
A crença de que certos sons mântricos outorgam favores especiais ou são apropriados a tipos específicos de pessoas é amplamente difundida no hinduísmo. Os antigos Saiva Upanishads, por exemplo, contêm uma dissertação sobre as cinqüenta letras do alfabeto sânscrito, tratando cada uma como um mantra em si mesma e descrevendo suas virtudes especiais. A letra umkara (U) concede força; kumkara (kã) é um antídoto contra venenos; ghamkara (gha) concede prosperidade; phamkara (pha) oferece poderes psíquicos.
Na MT, os meditadores aprendem a evitar a concentração esforçada. O discípulo é instruído a trazer suavemente sua mente de volta ao mantra cada vez que ela se dispersar. Na verdade, esse é um processo para se ficar unidirecionado, embora a concentração seja passiva em vez de forçada. A citadíssima descrição que Maharishi faz a seguir da natureza da MT retrata bem o estreitamento do foco de atenção sobre um objeto de meditação, e a transcendência desse objeto, para ascender, através da concentração‑acesso, ao segundo jhana. A meditação transcendental, diz ele, implica “… conduzir a atenção para dentro na direção dos mais sutis níveis de pensamento até que a mente transcenda a experiência do mais sutil estado de pensamento e chegue à fonte do pensamento…”
Tal como nos jhanas, a beatitude advém com o apaziguamento da mente. O objetivo do mantra é o que fica contida no estado da beatitude‑consciência transcendental”. Na linguagem Maharishi chama “consciência transcendental”: quando a mente “chega à experiência direta da beatitude, ela perde todo contato com o exterior e do Visuddhimagga, isso é concentração‑acesso ou jhana de acesso. A fase seguinte no programa de Maharishi é a infusão do jhana, ou consciência transcendental, nos estados de vigília, sonho e sono com a alternância de atividade normal com períodos de meditação. O estado assim obtido é chamado “consciência cósmica”, na qual “nenhuma atividade, por mais rigorosa, pode nos subtrair do Ser”. Maharishi nega a necessidade de impor a renúncia de si mesmo. Ele vê a purificação como parte da consciência cósmica. É um efeito da transcendência, não um pré‑requisito. Segundo Maharishi, a “proficiência nas virtudes só pode ser obtida pela experiência repetida do samadhi”.
Antes de o meditador atingir a consciência cósmica, os efeitos de sua meditação diária gradualmente enfraquecem à medida que o tempo passa; na consciência cósmica, tais efeitos persistem sempre. Maharishi assim formula a transição da consciência transcendental para a cósmica:
Desse estado de puro Ser a mente retorna novamente à experiência do pensamento no mundo relativo. … Com mais e mais prática, aumenta a capacidade da mente em manter sua natureza essencial enquanto experimenta objetos por meio dos sentidos. Quando isso ocorre, a mente e sua natureza essencial, o estado de Ser transcendental, tornam‑se um, e a mente então é capaz de conservar sua natureza essencial ‑ Ser ‑ mesmo se comprometida em pensamento, fala ou ação.
Ele vê a consciência cósmica como um estado no qual funcionam dois níveis distintos de organização do sistema nervoso. Normalmente, esses níveis inibem um ao outro, mas aqui eles operam lado a lado enquanto conservam suas características exclusivas: a consciência transcendental, por exemplo, convive com o estado de vigília. “O silêncio”, diz Maharishi, “é vivenciado com a atividade e no entanto é separado dela”. O meditador na consciência cósmica descobre que essa paz interior persiste em todas as circunstâncias como uma “percepção pura” junto com a atividade. Embora os efeitos da transcendência durante a meditação possam esmorecer depois de terminada a meditação, a consciência cósmica, uma vez dominada, é permanente. A pessoa em consciência cósmica experimentou na transcendência um estado jhânico em que a percepção dos sentidos cessa. Durante a vigília, ela permanece relativamente separada da percepção dos sentidos, embora esteja mais sensível aos seus próprios processos de pensamento e aos acontecimentos exteriores.
À medida que a consciência cósmica se aprofunda, o meditador descobre que a beatitude da consciência transcendental persiste agora em outros estados. À proporção que essa beatitude impregna outras áreas de sua vida, ele descobre que comparativamente os prazeres sensuais não são tão atraentes quanto antes. Embora ainda tenha desejos, suas ações não são mais levadas por eles. Seu estado é de serenidade: a turbulência e a excitação de emoções intensas ‑ medo, raiva, rancor, depressão ou ânsia ‑ são suavizadas por um permanente estado de “alerta repousante”. Finalmente, elas param de surgir. A serenidade também revela no meditador uma melhor resistência à força oscilante do estresse da vida e das tensões diárias. Ele descobre que uma nova estabilidade interior prevalece onde antes havia dispersões. A tranqüilidade também manifesta no meditador o amor ao próximo em intensidade igual, sem preferências indevidas por determinadas pessoas; seus apegos esmorecem. Ele também constata que se satisfaz mais facilmente com tudo o que lhe ocorre, estando mais livre dos desejos e dos desagrados. Segundo Maharishi, a vida na consciência cósmica é relaxada:
O homem iluminado vive uma vida de completude. Suas ações, livres do desejo, atendem somente às necessidades do momento. Ele não tem nenhum sonho pessoal a realizar. Está comprometido em cumprir o propósito cósmico, e portanto suas ações são guiadas pela natureza. É por isso que ele não tem de se preocupar com suas necessidades. Suas necessidades são as necessidades da natureza, que se encarrega de satisfazê‑las, uma vez que ele é o instrumento do Divino.
Um passo à frente na progressão prometida por Maharishi é a consciência de Deus. Esse estado é o resultado da devoção durante a consciência cósmica. Na “consciência de Deus” o meditador percebe todas as coisas como sagradas; “todas as coisas são naturalmente vivenciadas na consciência de Deus”. A princípio, diz Maharishi, essa experiência de unidade na diversidade pode ser esmagadora, e o meditador pode ficar totalmente perdido nela. Gradualmente, porém, a consciência de Deus mescla‑se com outras atividades, tal como numa fase inicial a consciência transcendental fundiu‑se com os estados normais para produzir a consciência cósmica.
Na consciência de Deus, o meditador renuncia à sua individualidade. Esse é o “estado mais purificado”, no qual o meditador superou a menor mancha de impureza no pensamento ou na ação; ele agora habita em perfeita harmonia com a natureza e o divino. Atingir a consciência de Deus, segundo Maharishi, implica uma transformação, pela qual a pessoa percebe Deus em todos os aspectos da criação. Para além da consciência de Deus, o praticante de MT pode evoluir para um estado chamado “unidade”. Aqui sua consciência é tão refinada que percebe todas as coisas livre de qualquer ilusão conceitual.
Os caminhos para esses estados mais elevados na MT são técnicas avançadas dadas aos meditadores ao longo de vários anos de prática e de serviço para a organização da MT. O curso de MT para siddhis avançados procura ampliar os limites do meditador, desenvolvendo poderes inabituais, como a habilidade de “levitar”.
Em 1978 Maharishi lançou o programa MT-Sidhi, que visa o aprofundamento dos estados superiores de consciência produzidos pela Meditação Transcendental. Baseia-se num conjunto de técnicas descritas nos Yoga Sutra de Patanjali, e cuja prática supostamente produz poderes psíquicos como clarividência, visões do microcosmo e do macrocosmo, viagens interiores a mundos sobrenaturais e vôo ióguico. Maharishi defende que a prática do voo ióguico produz níveis de coerência cerebral de tal magnitude que se for efectuada em grupo cria um efeito benéfico de apaziguamento e de redução dos níveis de violência no meio circundante — o chamado Efeito Maharishi
A prática da MT-Sidhi é uma tecnologia da Consciência algo muito simples e é para todos. É necessário ser-se um meditante regular. O curso parece ser caro, mas na realidade sai barato se for considerado como um dos melhores investimentos para a evolução e bem estar do ser humano comparado com tudo o que existe no mercado e implica efectuar um retiro de várias semanas para a aprendizagem do voo ióguico. A prática quotidiana da MT-Sidhi requer uma grande disponibilidade de tempo que a maioria das pessoas não tem: de 1h00 a 1h30, duas vezes por dia, de manhã e ao fim da tarde. Muitos praticantes (chamados Sidhas) referem, contudo, os seus excelentes efeitos a nível de integração e coordenação psicomotora e aumento das capacidades do sistema nervoso.
– Mindfluness
Tecnica criada por Jon Kabat-Zinn (Nova Iorque, 5 de Junho de 1944) professor Emérito de Medicina e diretor fundador da Clínica de Redução do Stress e do Centro de Atenção Plena em Medicina, na Escola Médica da Universidade de Massachusetts e Professor Associado no Departamento de Medicina Preventiva e Comportamental.

Estudou budismo zen e é membro fundador do Centro Zen de Cambridge. Passou a integrar os seus conhecimentos budistas e prática de yoga na ciência médica ocidental sem levar em consideração o contexto religioso da pratica.
Como investigador, o seu trabalho tem incidido principalmente na interação corpo-mente para a cura, e nas aplicações da meditação para as pessoas com dores crônicas e problemas de stress, é autor do livro: “Full Catastrophe Living – how to cope with stress, pain and illness use mindfulness meditation” (Viver em plena catástrofe – como lidar com o estresse, a dor e a doença usando a meditação da atenção plena).
O núcleo dos ensinamentos de Kabat-Zinn pode ser encontrado no seu livro, “Wherever You Go, There You Are: Mindfulness Meditation in Everyday Life.” (Onde quer que você vá, lá está você: meditação mindfulness na vida cotidiana)
Ele e outros cientistas descobriram que a meditação mindfulness ativa uma rede de regiões do cérebro que inclui a ínsula (É um lobo cerebral com muitas funções (linguagem, regulação visceral motora e sensitiva, comportamento alimentar, memória, dor, controle cardiovascular, emoção), e parece ser acometida em várias afecções neuropsiquiátricas, em particular na epilepsia e na esquizofrenia.

É associada à compaixão, empatia e autoconsciência), o putâmen (É uma estrutura redonda localizada na base da parte frontal do cérebro, no telencéfalo. Também é uma das estruturas que compõem os núcleos da base. Através de várias vias, o putâmen está ligado a substância nigra e ao globo pálido. A principal função do putâmen é a de regular os movimentos amplos (grosseiros) e influenciam diversos tipos de aprendizagem, especialmente ao condicionamento.)

e porções do córtex cingulado anterior ( (CCA) é a parte frontal do córtex cingulado que se assemelha a um “colar” ao redor da parte frontal do corpo caloso. Ele parece desempenhar um papel em uma grande variedade de funções autonômicas, tais como a regulação da pressão arterial e freqüência cardíaca. Também está envolvido em certas funções de nível superior, como alocação de atenção, antecipação de recompensas, tomada de decisão, ética e moralidade, controle de impulso (por exemplo, monitoramento de desempenho e detecção de erros), e emoção.)

O emprego da meditação da atenção plena está a tornar-se cada vez mais popular em algumas clínicas médicas dos Estados Unidos.
Despojada do seu contexto religioso, embora de inspiração na tradição de meditação Theravadin, a meditação da atenção plena significa simplesmente a aprendizagem de uma atitude aberta de aceitação em relação a tudo o que possa surgir na mente, enquanto estamos atentos a ela.
Só a partir da década de 1950 estes métodos começaram a ser estudados a sério por alguns clínicos ocidentais. E só muito recentemente foram introduzidos no sistema de tratamento clínico e psicológico em muitos centros na Europa e Estados Unidos.
O objetivo do mindfulness é sair do estado de falta de consciência e viver uma vida consciente do momento presente, dos seus sentimentos e sensações.
Meditação Pratica 1 – Relaxamento