Meditação: Meditação Espiritual e Subida Kundalini – Programa 27 03 23

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Shiva

2) meditação espiritual (ou sem semente)                   

         A medida espiritual (ou sem semente) começa onde termina  a  meditação  psicológica,  isto  é,  a  partir  da  capacidade  de  desidentificação e de atenção-consciência,  que  fez  emergir  o  centro de autoconsciência, o verdadeiro EU.                      

         A passagem de uma para a outra forma de meditação, todavia,  não é assim tão clara e rápida mas gradativa; a linha  divisória  entre as duas não é tão definida e precisa; é a  própria  pessoa  que medita, que percebe estar começando a adquirir a  capacidade  de permanecer no centro de Seu Ser, a capacidade de se “ver” sem  ser envolvida pelos conteúdos psíquicos e a entrar num estado de  imobilidade e de silencio interiores. Apoiado nesta capacidade o  indivíduo poderá finalmente abandonar-se  e  abrir-se,  deixando  que  sua  consciência  se   expanda.   Portanto,   em  vez   de  concentração, haverá expansão; em lugar de controle e utilização  consciente do pensamento, haverá a superação  do  nível  mental,  discursivo e conceptual; substituindo um trabalho de  seleção  e  de exame dos conteúdos  psíquicos,  haverá  uma  abertura  e uma  aceitação total, juntamente com uma feliz “rendição” ao Divino. 

         Com  base  nisto,  podemos  definir  como   características  fundamentais da meditação espiritual:      

                   1) gradativa superação  do  pensamento  discursivo  e experiência cada vez  mais  profunda  do  silencio mental.   

                   2) estabilização    do    centro    de     verdadeira autoconsciência  e  da  capacidade   de   “atenção ativa”, conseguida com a desidentificação.        

                   3) expansão da consciência.                           

                   4) rendição e abandono ao Divino.                    

         Examinemos separadamente cada uma destas características:  

                   1) Gradativa superação do pensamento discursivo      

         Na fase da meditação espiritual, procura-se  fazer emergir o outro aspecto da mente,  o  receptivo,  passivo,  que tem a capacidade de “ficar em silencio” e de ser sensível as  idéias  dos  planos  superiores,  a  intuição  e  a   verdadeira  consciência.

         Alguns instrutores espirituais  aconselham  imaginar  estar  dentro de uma grande bolha transparente onde  reina  o  silencio  mais absoluto, enquanto os pensamentos ficam  do  lado  de  fora  desta bolha e se afastam cada vez mais.                         

         O verdadeiro e total silencio  mental  pode  ser  alcançado  somente em estágios muito  avançados  da  meditação,  quando  se  verifica uma profunda mudança de consciência e se entra  naquele  estado chamado “Samadhi” ou êxtase.                             

         Perceber simultaneamente o silencio mental e  o  pensamento  discursivo  na   periferia   da   consciência   é   um   estagio  intermediário de caráter  particular,  e  foi  experimentado  e  analisado por inúmeros estudiosos da  meditação que  sublinharam  sua grande importância para o  desenvolvimento  e a  experiência  interior  da  “pura  Consciência”.                                

         2) Estabilização do centro de verdadeira autoconsciência   

         O centro de autoconsciência, ou  Eu  autentico,  é  chamado também de Espectador ou  Testemunha;  exatamente  porque  tem  a  capacidade  de  “ver  e   observar   todos   os   conteúdos   da  personalidade, tanto no nível  mental  como  no  nível  fisco  e  emotivo, sem identificar-se nem deixar-se envolver,  e  com  uma  consciência lúcida, atenta, livre de condicionamentos e ilusões. 

Um  dos  efeitos  mais  importantes   da   meditação   espiritual   é   o  descondicionamento,  que  leva  a  reencontrar  o   verdadeiro contato com a  realidade  de  si mesmo, do mundo e dos outros.

         A atenção ativa, ao mesmo tempo, permanece  como  um  fundo  constante, não somente no  decorrer  da  meditação,  mas  também  depois dela,  tornando-se  nossa  habitual  maneira  de  ser,  e  levando-nos a uma profunda sensação de serenidade, afastamento e calma, e aquela qualidade espiritual  que  Sri  Aurobindo  chama  “equanimidade”.                                                 

         A equanimidade  consiste  numa  constante  inalterabilidade  frente a qualquer evento ou prova interiores e exteriores.      

         É preciso, porém, que a prática da meditação seja constante  para que isso possa acontecer, e é necessário que  se  forme  um  ritmo regular e cotidiano que  pouco  a  pouco  “a  costume”  as  energias dos veículos a se tornarem sensíveis  e  receptivas  as  influencias superiores provenientes do Eu Superior.             

         3) Expansão da Consciência                                 

         Ao se alcançar um determinado grau de silencio mental e  de  desidentificação dos  veículos  pessoais,  e  ao  colocar-se  em  atitude   receptiva,   verifica-se   gradativamente   e    quase  despercebidamente, uma abertura para os  níveis  interiores  que  até agora haviam permanecido inconscientes. 

Este  “inconsciente”  ao  qual  nos  referimos não é o subconsciente da psicanálise,  é  tudo  aquilo  que, mesmo pertencendo a nossa natureza de seres humanos,  tanto  no nível pessoal como no nível espiritual, ainda  não  entra  no  campo de nossa consciência, permanecendo  no  plano  subliminal. 

         Esta concepção do inconsciente aproxima-se muito da do  Zen  Suzuki escreve:                                                 

         “O inconsciente  na  acepção  do  Zen,  é,  sem  duvida,  o  mistério, o desconhecido… Ele  é  aquilo  que  temos  de  mais  intimo, e justamente por  esta  sua  intimidade  é  tão  difícil  agarrá-lo, da mesma maneira que o olho não pode ver a si mesmo.”

         Esse “mistério”, esse “desconhecido”, segundo o Zen, inclui  também níveis cósmicos e universais. É a realidade transcendente  e divina, que ainda  não  conhecemos,  mas  a  qual  pertencemos  através  de   nosso   Eu   Superior.  

         Na meditação espiritual, que é  de  caracter  eminentemente  receptivo, verifica-se, como disse, esta integração  com  o  com  inconsciente, e isso leva não só ao complemento  e  a  harmonia,  mas também ao desenvolvimento de uma sensibilidade diferente,  a  ativação de faculdades  até  então  latentes,  ao  despertar  de  intuição e da criatividade e, sobretudo, a capacidade e viver de  forma autentica e total, exprimindo nossa verdadeiro ser,  o  Eu  Superior.                                                       

         4) Rendição e abandono ao Divino                           

         A palavra “rendição” deve ser entendida corretamente,  pois  poderia  ser  interpretada  de  forma  errônea   e   gerar  mal- entendidos. Ela pretende exprimir uma atitude de total aceitação   e  de  completa confiança para com a Vontade do Eu Superior, que  deriva do fato de superarmos  resistências  e  “obstinações”  do   Ego, principal obstáculo ao despertar da verdadeira consciência.     

         Na meditação espiritual devemos conseguir e  sentir  dentro  de nós esta confiança, esta aceitação,  de  forma  espontânea  e  alegre, sem esforço ou  tensão,  mas  com  abandono  e  completa  adesão ao Divino. Esta não é uma atitude  passiva  ou  retraída,  mas ativa e consciente, semelhante a da “atenção consciência” de  qual falamos. Muitas pessoas confundem esta atitude de  “rendição  positiva” com a que poderia chamar-se de “rendição  negativa”  e  que consiste numa condição de torpor passivo, de  distração  sem  consciência. Esse tipo de estado  é  extremamente  nocivo,  pois  permite aos conteúdos do inconsciente invadir-nos e às emoções e  pensamentos envolver-nos.                                        

         A rendição positiva, ao  contrario,  nos   torna   abertos,  receptivos, “vazios” sem, porem, fazer com que percamos o centro  de autoconsciência, a lucidez, e  nos  permite,  desta  maneira,  tornar-nos sensíveis a estados de consciência, mais elevados,  a  intuição e  inspiração  provenientes  do  super-consciente  e  de  absorver as energias do Eu Superior, para que produzam em nós  a  purificação e a transformação necessárias.                      

         Esta  é  a  razão  pela  qual  os  instrutores  espirituais  sublinham sempre que para se obter uma  boa  meditação,  devemos  deixar de lado toda expectativa, toda exigência, toda tensão  ou  esforço,  e  abri-nos  simplesmente,  com  confiança   total   e  abandono, as forças superiores latentes em nos.                 

         Esta atitude é muito  difícil  para  nós  ocidentais,  pois  estamos acostumados a intervir sempre com nossa  vontade  e  com  nossa racionalidade, mesmo  nos  eventos  interiores.  De  fato,  sofremos de  hipertrofia  do  consciente  isto  é,  damos  maior  atenção e desenvolvimento ao “polo” de  nossa  natureza  voltado  para  o  exterior,  o  consciente,  criando  assim  em  nós  uma  unilateralidade que dificulta o contato  com  o  outro  polo  ou  aspecto de nós mesmos, o inconsciente, que permanece reprimido e  sufocado.                                                       

         Desta maneira, sem percebermos, criamos uma barreira e  uma  resistência ao super-consciente e ao Eu  Superior,  reforçando  o  Ego, que, com sua  ambição  presunçosa,  seu  egocentrismo,  sua  auto-afirmação é o maior adversário do Divino.                  

         Este  é  um  momento  extremamente  importante   de   nosso  desenvolvimento  interior  que  poderia  ser   considerado   uma  reviravolta decisiva, pois nos permite perceber  que  não  somos  outra coisa senão um instrumento e canal de uma Vontade Superior  e que, mesmo não tendo completamente consciência disso,  estamos  voltados para  um  objetivo  e  guiados  por  um  propósito  bem  especifico.

         – Kundalini

As descrições clássicas da kundalini encontram-se nos antigos textos hindus chamados Tantras, dos quais derivou o siste­ma denominado Yoga Tântrica. Os Tantras circunstanciam, do princípio ao fim, a ciência de kundalini e proporcionam uma das melhores fontes para o investigador dar início a uma averiguação do fenômeno.

Os Tantras fazem parte de um corpo de escritos sagrados cha­mados Shastras, que compõem os vários textos do Hinduísmo, entre os quais se incluem os Upanishads e os Puranas. Todos deri­vam das antigas escrituras chamadas Vedas. Os próprios Shastras remontam a mais de 2.000 anos, e foi a partir desses escritos que se promulgaram as diferentes escolas de filosofia religiosa, como o Vedanta. Destas, o sistema de Yoga, que data do século II a.C, é, sem dúvida, a mais familiar à cultura ocidental. A palavra Yoga significa união e refere-se à união entre o eu da pessoa e a entida­de espiritual que é não só o eu mais profundo da mesma pessoa, mas também, simultaneamente, a divindade onisciente do univer­so.

Bem mas o que é kundalini? Aqui está uma breve descrição, baseada na concepção tântrica.

Os céus tântricos estão cheios de Devas (Deuses) e Devis (Deusas) hindus, todos aspectos de Brahma, o único Deus, o ab­soluto, a última realidade, ou consciência pura. Dessas divindades, duas são de primeiríssimo interesse aqui: Shiva, o elemento masculino e passivo da consciência pura, e Shakti, o elemento feminino e ativo. Juntos, Shiva e Shakti for­mam uma dualidade em que Shiva é detentor do poder e Shakti o próprio poder – Shiva é o grande Senhor do universo, e Shakti é a grande Mãe do universo. A essa parceria divina dá-se o nome de Shiva-Shakti Tattva (atributo). Assim sendo, Shiva é o aspecto imutável, estático, da consciência. Shakti é o aspecto efêmero, cinético. São os dois lados da mesma moeda; portanto, Shiva é, por si só, Shakti, e Shakti, por si só, é Shiva. Os dois são as formas masculina e feminina de Brahma mas, na essência, ainda são o único Brahma.

Shiva e Shakti

Shiva e Shakti estão interiorizados no corpo humano, se bem vivam ali em separado. Shakti, a Força Vital, reside na base da coluna, onde se manifesta como a Devi Kundalini, tendo assumido forma de serpente, permanece adormecida, enro­lada no mais baixo dos sete centros de energia do corpo, o chakra Muladhara.

Shiva, também adormecido no corpo, habita o chakra Sahasrara  localizado na coroa  da cabeça e que existe no polo mais distante da residência de Shakti no chakra Muladhara. Eis aí o problema, pois a união com Brahma não se realiza enquanto Shiva e Shakti estiverem separa­dos. Eles precisam um do outro para ser ativados e voltar a formar o Brahma único.

Cabe à Devi Kundalini des­pertar primeiro e, em seguida, como Shakti, reunir-se a Shiva, isto é, restabelecer o Shiva-Shakti Tattva, de modo que Shiva volte a ser Shakti e Shakti volte a ser Shiva, o par divino, reunido em sua essência como o Brahma único. Completada a reunião, a Yoga (união) coloca, pois, a pessoa em que ela ocorre, em contato com Brahma, o que quer dizer em estado iluminação, samadhi, satori (termo zen-budista para significar iluminação), a consciência cósmica, ou seja qual for o nome que se lhe der, pois quem passa pela experiência da união de Shakti e Shiva, seja ele seja ela, também se une a Brahma.

Há sete centros psíquicos, chamados chakras, enfileirados ao longo da coluna, desde a base, subindo e atingindo o topo da cabeça.

Cada centro, ou chakra, funciona como localização de vários tipos de energias: esíquicas, emocionais e mentais. Mas enquanto a kundalini não os ativa, os chakras se mantêm mais ou menos adormecidos. A própria kun­dalini é uma energia que reside em estado latente no chakra mais baixo, na base da coluna. Ativada a energia de kun­dalini, por meio da meditação, ela principia a subir ao longo da coluna e a “ligar” os chakras, revelando, desse modo, vários talentos, capacidades psíquicas, e assim por diante. Ocorre a iluminação quando a energia de kundalini sobe até o chakra mais alto no coruto da cabeça. Nesse momento “culminante” ob­tém-se a iluminação, o esclarecimento – a união com o eu interior da própria pessoa, ou com o Divino.

O caduceu, com efeito, é o símbolo ideal para se visua­lizar com precisão o plexo de kundalini. No centro do emblema, um bastão representa o canal Sushumna, um Nadi principal de energia que vai do cóccix ao cérebro. Ao redor do bastão, ou canal Sushumna, estão entrelaçadas duas serpentes, que simboli­zam os outros dois Nadis principais:

1) Ida, às vezes chamado canal lunar, que inicia sua espiral ascendente no lado esquerdo da base da coluna e vai até a narina direita sendo condutora de correntes prânicas negativas e

2) Pingala, também chamado canal solar, que começa sua jornada ascendente no lado direito da base da coluna e vai até a narina esquerda. Esta conduz cor­rentes prânicas positivas

Destarte, as praticas de meditação alquimica focalizam principalmente o despertar da kundalini. E a ênfase não é teórica, nem se aplica ao mero estudo de idéias abstratas. Pois por trás de toda a filosofia está a convicção de que a energia de kundalini pode ser despertada pela prática sistemática de vá­rios exercícios. Com essa finalidade desenvolveram-se técnicas meditativas que envolvem a respiração (Pranayama), posturas (Asanas), posições de mão e gestos (Mudras), cantos silábi­cos (Mantras), contrações musculares (Bandhas), ritos sexuais (Tantra Asana), dado que infreqüentes, e o uso de ervas (Aushadhi), também infrequente.

Meditação Pratica 1 – Relaxamento                                 

https://youtube.com/live/IOhAyM2HWXs

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