
2) meditação espiritual (ou sem semente)
A medida espiritual (ou sem semente) começa onde termina a meditação psicológica, isto é, a partir da capacidade de desidentificação e de atenção-consciência, que fez emergir o centro de autoconsciência, o verdadeiro EU.
A passagem de uma para a outra forma de meditação, todavia, não é assim tão clara e rápida mas gradativa; a linha divisória entre as duas não é tão definida e precisa; é a própria pessoa que medita, que percebe estar começando a adquirir a capacidade de permanecer no centro de Seu Ser, a capacidade de se “ver” sem ser envolvida pelos conteúdos psíquicos e a entrar num estado de imobilidade e de silencio interiores. Apoiado nesta capacidade o indivíduo poderá finalmente abandonar-se e abrir-se, deixando que sua consciência se expanda. Portanto, em vez de concentração, haverá expansão; em lugar de controle e utilização consciente do pensamento, haverá a superação do nível mental, discursivo e conceptual; substituindo um trabalho de seleção e de exame dos conteúdos psíquicos, haverá uma abertura e uma aceitação total, juntamente com uma feliz “rendição” ao Divino.
Com base nisto, podemos definir como características fundamentais da meditação espiritual:
1) gradativa superação do pensamento discursivo e experiência cada vez mais profunda do silencio mental.
2) estabilização do centro de verdadeira autoconsciência e da capacidade de “atenção ativa”, conseguida com a desidentificação.
3) expansão da consciência.
4) rendição e abandono ao Divino.
Examinemos separadamente cada uma destas características:
1) Gradativa superação do pensamento discursivo
Na fase da meditação espiritual, procura-se fazer emergir o outro aspecto da mente, o receptivo, passivo, que tem a capacidade de “ficar em silencio” e de ser sensível as idéias dos planos superiores, a intuição e a verdadeira consciência.
Alguns instrutores espirituais aconselham imaginar estar dentro de uma grande bolha transparente onde reina o silencio mais absoluto, enquanto os pensamentos ficam do lado de fora desta bolha e se afastam cada vez mais.
O verdadeiro e total silencio mental pode ser alcançado somente em estágios muito avançados da meditação, quando se verifica uma profunda mudança de consciência e se entra naquele estado chamado “Samadhi” ou êxtase.
Perceber simultaneamente o silencio mental e o pensamento discursivo na periferia da consciência é um estagio intermediário de caráter particular, e foi experimentado e analisado por inúmeros estudiosos da meditação que sublinharam sua grande importância para o desenvolvimento e a experiência interior da “pura Consciência”.
2) Estabilização do centro de verdadeira autoconsciência
O centro de autoconsciência, ou Eu autentico, é chamado também de Espectador ou Testemunha; exatamente porque tem a capacidade de “ver e observar todos os conteúdos da personalidade, tanto no nível mental como no nível fisco e emotivo, sem identificar-se nem deixar-se envolver, e com uma consciência lúcida, atenta, livre de condicionamentos e ilusões.
Um dos efeitos mais importantes da meditação espiritual é o descondicionamento, que leva a reencontrar o verdadeiro contato com a realidade de si mesmo, do mundo e dos outros.
A atenção ativa, ao mesmo tempo, permanece como um fundo constante, não somente no decorrer da meditação, mas também depois dela, tornando-se nossa habitual maneira de ser, e levando-nos a uma profunda sensação de serenidade, afastamento e calma, e aquela qualidade espiritual que Sri Aurobindo chama “equanimidade”.
A equanimidade consiste numa constante inalterabilidade frente a qualquer evento ou prova interiores e exteriores.
É preciso, porém, que a prática da meditação seja constante para que isso possa acontecer, e é necessário que se forme um ritmo regular e cotidiano que pouco a pouco “a costume” as energias dos veículos a se tornarem sensíveis e receptivas as influencias superiores provenientes do Eu Superior.
3) Expansão da Consciência
Ao se alcançar um determinado grau de silencio mental e de desidentificação dos veículos pessoais, e ao colocar-se em atitude receptiva, verifica-se gradativamente e quase despercebidamente, uma abertura para os níveis interiores que até agora haviam permanecido inconscientes.
Este “inconsciente” ao qual nos referimos não é o subconsciente da psicanálise, é tudo aquilo que, mesmo pertencendo a nossa natureza de seres humanos, tanto no nível pessoal como no nível espiritual, ainda não entra no campo de nossa consciência, permanecendo no plano subliminal.
Esta concepção do inconsciente aproxima-se muito da do Zen Suzuki escreve:
“O inconsciente na acepção do Zen, é, sem duvida, o mistério, o desconhecido… Ele é aquilo que temos de mais intimo, e justamente por esta sua intimidade é tão difícil agarrá-lo, da mesma maneira que o olho não pode ver a si mesmo.”
Esse “mistério”, esse “desconhecido”, segundo o Zen, inclui também níveis cósmicos e universais. É a realidade transcendente e divina, que ainda não conhecemos, mas a qual pertencemos através de nosso Eu Superior.
Na meditação espiritual, que é de caracter eminentemente receptivo, verifica-se, como disse, esta integração com o com inconsciente, e isso leva não só ao complemento e a harmonia, mas também ao desenvolvimento de uma sensibilidade diferente, a ativação de faculdades até então latentes, ao despertar de intuição e da criatividade e, sobretudo, a capacidade e viver de forma autentica e total, exprimindo nossa verdadeiro ser, o Eu Superior.
4) Rendição e abandono ao Divino
A palavra “rendição” deve ser entendida corretamente, pois poderia ser interpretada de forma errônea e gerar mal- entendidos. Ela pretende exprimir uma atitude de total aceitação e de completa confiança para com a Vontade do Eu Superior, que deriva do fato de superarmos resistências e “obstinações” do Ego, principal obstáculo ao despertar da verdadeira consciência.
Na meditação espiritual devemos conseguir e sentir dentro de nós esta confiança, esta aceitação, de forma espontânea e alegre, sem esforço ou tensão, mas com abandono e completa adesão ao Divino. Esta não é uma atitude passiva ou retraída, mas ativa e consciente, semelhante a da “atenção consciência” de qual falamos. Muitas pessoas confundem esta atitude de “rendição positiva” com a que poderia chamar-se de “rendição negativa” e que consiste numa condição de torpor passivo, de distração sem consciência. Esse tipo de estado é extremamente nocivo, pois permite aos conteúdos do inconsciente invadir-nos e às emoções e pensamentos envolver-nos.
A rendição positiva, ao contrario, nos torna abertos, receptivos, “vazios” sem, porem, fazer com que percamos o centro de autoconsciência, a lucidez, e nos permite, desta maneira, tornar-nos sensíveis a estados de consciência, mais elevados, a intuição e inspiração provenientes do super-consciente e de absorver as energias do Eu Superior, para que produzam em nós a purificação e a transformação necessárias.
Esta é a razão pela qual os instrutores espirituais sublinham sempre que para se obter uma boa meditação, devemos deixar de lado toda expectativa, toda exigência, toda tensão ou esforço, e abri-nos simplesmente, com confiança total e abandono, as forças superiores latentes em nos.
Esta atitude é muito difícil para nós ocidentais, pois estamos acostumados a intervir sempre com nossa vontade e com nossa racionalidade, mesmo nos eventos interiores. De fato, sofremos de hipertrofia do consciente isto é, damos maior atenção e desenvolvimento ao “polo” de nossa natureza voltado para o exterior, o consciente, criando assim em nós uma unilateralidade que dificulta o contato com o outro polo ou aspecto de nós mesmos, o inconsciente, que permanece reprimido e sufocado.
Desta maneira, sem percebermos, criamos uma barreira e uma resistência ao super-consciente e ao Eu Superior, reforçando o Ego, que, com sua ambição presunçosa, seu egocentrismo, sua auto-afirmação é o maior adversário do Divino.
Este é um momento extremamente importante de nosso desenvolvimento interior que poderia ser considerado uma reviravolta decisiva, pois nos permite perceber que não somos outra coisa senão um instrumento e canal de uma Vontade Superior e que, mesmo não tendo completamente consciência disso, estamos voltados para um objetivo e guiados por um propósito bem especifico.
– Kundalini
As descrições clássicas da kundalini encontram-se nos antigos textos hindus chamados Tantras, dos quais derivou o sistema denominado Yoga Tântrica. Os Tantras circunstanciam, do princípio ao fim, a ciência de kundalini e proporcionam uma das melhores fontes para o investigador dar início a uma averiguação do fenômeno.
Os Tantras fazem parte de um corpo de escritos sagrados chamados Shastras, que compõem os vários textos do Hinduísmo, entre os quais se incluem os Upanishads e os Puranas. Todos derivam das antigas escrituras chamadas Vedas. Os próprios Shastras remontam a mais de 2.000 anos, e foi a partir desses escritos que se promulgaram as diferentes escolas de filosofia religiosa, como o Vedanta. Destas, o sistema de Yoga, que data do século II a.C, é, sem dúvida, a mais familiar à cultura ocidental. A palavra Yoga significa união e refere-se à união entre o eu da pessoa e a entidade espiritual que é não só o eu mais profundo da mesma pessoa, mas também, simultaneamente, a divindade onisciente do universo.
Bem mas o que é kundalini? Aqui está uma breve descrição, baseada na concepção tântrica.
Os céus tântricos estão cheios de Devas (Deuses) e Devis (Deusas) hindus, todos aspectos de Brahma, o único Deus, o absoluto, a última realidade, ou consciência pura. Dessas divindades, duas são de primeiríssimo interesse aqui: Shiva, o elemento masculino e passivo da consciência pura, e Shakti, o elemento feminino e ativo. Juntos, Shiva e Shakti formam uma dualidade em que Shiva é detentor do poder e Shakti o próprio poder – Shiva é o grande Senhor do universo, e Shakti é a grande Mãe do universo. A essa parceria divina dá-se o nome de Shiva-Shakti Tattva (atributo). Assim sendo, Shiva é o aspecto imutável, estático, da consciência. Shakti é o aspecto efêmero, cinético. São os dois lados da mesma moeda; portanto, Shiva é, por si só, Shakti, e Shakti, por si só, é Shiva. Os dois são as formas masculina e feminina de Brahma mas, na essência, ainda são o único Brahma.

Shiva e Shakti estão interiorizados no corpo humano, se bem vivam ali em separado. Shakti, a Força Vital, reside na base da coluna, onde se manifesta como a Devi Kundalini, tendo assumido forma de serpente, permanece adormecida, enrolada no mais baixo dos sete centros de energia do corpo, o chakra Muladhara.

Shiva, também adormecido no corpo, habita o chakra Sahasrara localizado na coroa da cabeça e que existe no polo mais distante da residência de Shakti no chakra Muladhara. Eis aí o problema, pois a união com Brahma não se realiza enquanto Shiva e Shakti estiverem separados. Eles precisam um do outro para ser ativados e voltar a formar o Brahma único.
Cabe à Devi Kundalini despertar primeiro e, em seguida, como Shakti, reunir-se a Shiva, isto é, restabelecer o Shiva-Shakti Tattva, de modo que Shiva volte a ser Shakti e Shakti volte a ser Shiva, o par divino, reunido em sua essência como o Brahma único. Completada a reunião, a Yoga (união) coloca, pois, a pessoa em que ela ocorre, em contato com Brahma, o que quer dizer em estado iluminação, samadhi, satori (termo zen-budista para significar iluminação), a consciência cósmica, ou seja qual for o nome que se lhe der, pois quem passa pela experiência da união de Shakti e Shiva, seja ele seja ela, também se une a Brahma.
Há sete centros psíquicos, chamados chakras, enfileirados ao longo da coluna, desde a base, subindo e atingindo o topo da cabeça.
Cada centro, ou chakra, funciona como localização de vários tipos de energias: esíquicas, emocionais e mentais. Mas enquanto a kundalini não os ativa, os chakras se mantêm mais ou menos adormecidos. A própria kundalini é uma energia que reside em estado latente no chakra mais baixo, na base da coluna. Ativada a energia de kundalini, por meio da meditação, ela principia a subir ao longo da coluna e a “ligar” os chakras, revelando, desse modo, vários talentos, capacidades psíquicas, e assim por diante. Ocorre a iluminação quando a energia de kundalini sobe até o chakra mais alto no coruto da cabeça. Nesse momento “culminante” obtém-se a iluminação, o esclarecimento – a união com o eu interior da própria pessoa, ou com o Divino.

O caduceu, com efeito, é o símbolo ideal para se visualizar com precisão o plexo de kundalini. No centro do emblema, um bastão representa o canal Sushumna, um Nadi principal de energia que vai do cóccix ao cérebro. Ao redor do bastão, ou canal Sushumna, estão entrelaçadas duas serpentes, que simbolizam os outros dois Nadis principais:
1) Ida, às vezes chamado canal lunar, que inicia sua espiral ascendente no lado esquerdo da base da coluna e vai até a narina direita sendo condutora de correntes prânicas negativas e
2) Pingala, também chamado canal solar, que começa sua jornada ascendente no lado direito da base da coluna e vai até a narina esquerda. Esta conduz correntes prânicas positivas
Destarte, as praticas de meditação alquimica focalizam principalmente o despertar da kundalini. E a ênfase não é teórica, nem se aplica ao mero estudo de idéias abstratas. Pois por trás de toda a filosofia está a convicção de que a energia de kundalini pode ser despertada pela prática sistemática de vários exercícios. Com essa finalidade desenvolveram-se técnicas meditativas que envolvem a respiração (Pranayama), posturas (Asanas), posições de mão e gestos (Mudras), cantos silábicos (Mantras), contrações musculares (Bandhas), ritos sexuais (Tantra Asana), dado que infreqüentes, e o uso de ervas (Aushadhi), também infrequente.
Meditação Pratica 1 – Relaxamento