Meditação: Tantra o que Realmente é – Programa 30 01 23

Shiva-e-Shakti

Bem, mas o que é Tantrismo?                              

        Tantra significa ritual, teia, urdidura; a raiz da palavra Tan,  que  quer  dizer  “continuar”,  “multiplicar”, tem o sentido também de “magico”, “esotérico.    

        O Tantra  é  um  conjunto  de  livros  e  ensinamentos  do  Budismo Vajrayana (também chamado de mantrayana, tantrayana, budismo esotérico ou tântrico e Carruagem do Diamante  é um conjunto de escolas budistas esotéricas. O nome vem do sânscrito e significa “veículo de diamante”.  O vajrayana é às vezes considerado como uma extensão do budismo mahayana, uma vez que ele difere primariamente na adoção de técnicas adicionais (sânscrito: upāya, “meios hábeis”), ao invés de propor uma filosofia distintamente diferente.  O mahayana possuiria assim dois caminhos de prática: o sutrayana, que prega o aperfeiçoamento através do acúmulo de mérito e sabedoria gradualmente, e o vajrayāna, que prega a tomada do fruto – a iluminação – como o caminho. Segundo a tradição budista vajrayana, os meios hábeis cultivados no vajrayana permitem ao praticante um caminho acelerado a iluminação. Para isto faz-se uso de técnicas tantra, que auxiliam o desenvolvimento espiritual e a transmissão esotérica. Nesta aceleração reside uma das diferenças entre a escola vajrayana e outras escolas do budismo. O budismo vajrayana, entretanto, não propõe que as escolas teravada ou mahayana estejam erradas, ao contrário, considera estas práticas como fundamentos essenciais sobre os quais a prática vajrayana pode ser construída.), e quatro são os Tantras Vajrayana: 

                                   1 – Krya – Tantra                                         

                                                                         Versam sobre rituais variados      

                                   2 – Carya – Tantra                                       

                                   3 – Yoga – Tantra                                        

                                                                              Versam sobre processos yoguicos    

                                   4 – Anuttara – Tantra                                    

        Muitos leigos acreditam  que  seja  o  Tantra  de  origem  Hinduista, mas tal não é verdade.             

        A influência do Budismo Tantrico sobre  o  Hinduismo  foi  tão profunda, que  até  presentemente  a  maioria  dos  eruditos  Ocidentais trabalham sob  a  impressão  que  o  Tantrismo  é uma  citação hinduistica que  foi  retomada  pelas  Escolas  Budistas  posteriores, mais ou menos decadentes.                          

        Contra este ponto de vista falam a grande antigüidade e o  desenvolvimento consistente das tendências Tantricas no Budismo.  Já anteriormente, os primitivos Mahasangikas ( sânscrito “da Grande Sangha”, foi uma das primeiras escolas budistas.) tinham uma  coleção  especial de fórmulas  mantricas  no  seu  Dharani-Pitaka (Conjunto cantos ou mantras budista que acredita-se que sejam protetores e com poderes para gerar mérito para o devoto budista),  e  os  Manjusri-Mulakalpa (texto da classe Kriyā-tantra que contém rituais tântricos das mais diversas naturezas e finalidades),  que  de  acordo  com  algumas   autoridades  remontam ao I sec. da era cristã, contem não somente  mantras  e  dharanis, mas também numerosos mandalas e mudras. Mesmo se a data  dos Manjusri-Mulakalpa é uma coisa incerta, parece provável que o  sistema  do  Budismo  Tantrico  esta  cristalizado  numa   forma  definitiva no fim do 30 século D.C., como  podemos  ver  no  bem  conhecido Tantra Guhyasamaja.( Tantra da Comunidade Secreta é uma das escrituras mais importantes do budismo tântrico. Na sua forma mais completa, consiste em dezessete capítulos prescreve como atuar como um guru e iniciar membros nas escrituras e mandalas).

        Declarar o Budismo Tantrico como lançamento do  Shivaismo (É o culto organizado do deus indiano Shiva  que é reverenciado pelos seus seguidores como o Ser Supremo, que é tudo e que está em tudo, o criador, preservador, destruidor e revelador de tudo o que existe. É uma das principais formas de hinduísmo moderno e está espalhado por toda a Índia, Nepal e Sri Lanka, estando presente também em diversas partes da Ásia Meridional como a Malásia, Singapura e Indonésia) só é possível para os que não tem conhecimento em  primeira  mão  da literatura Tantrica. Uma comparação dos Tantra Hindus com  os  do Budismo (que estão principalmente preservados em  Tibetano  e  que por isto ficaram desconhecidos  pelos  Indologistas)  mostra  não somente uma assombrosa divergência de métodos  e  objetivos,  apesar das  suas  semelhanças  externas,  mas  também  provam  a  prioridade histórica e espiritual e a originalidade dos  Tantras  Budistas.

Shiva

Sankaracharya, o grande filósofo Hindu do  9º  Sec.  D.C.  cujos trabalhos formam o  fundamento  de  toda  a  filosofia  do  Shivaismo, adotou as idéias de Nagarjuna ((século II) foi um filósofo budista da Índia que articulou a doutrina do vazio (sunyata) e é tradicionalmente considerado como o fundador da escola Madhyamaka, ou Escola do Caminho do Meio, uma escola budista Mahayana. Esta filosofia atribui grande importância às escrituras da prajnaparamita, ou as escrituras do aperfeiçoamento do conhecimento. Por vezes chama-se aos ensinamentos desta escola “O Segundo Movimento da Roda do Ensinamento“) e de seus seguidores em  tão grande extensão que os hindus ortodoxos suspeitaram que  ele  era um devoto secreto do Budismo. De modo  similar,  os  Tantras  Hindus também assumiram o encargo dos métodos  e  princípios  do  Budismo Tantrico e os adaptaram aos seus próprios objetivos (tal  como  os  Budistas  tinham  adaptado  os  antigos  princípios  e  técnicas do yoga aos seus próprios sistemas de meditação).  Este  ponto de vista não é somente sustentado pela tradição Tibetana e  confirmado  pelo  estudo  de  sua  literatura,  mas  também  foi  verificado pelos eruditos Indianos depois  de  uma  investigação  critica dos mais antigos textos Sanscritos do Budismo Tantrico e  do seu relacionamento histórico e  ideológico  como  os  Tantras  Hindus.                                                         

        Assim,  Benoytosh   Bhattacharyya (6 de janeiro de 1897,  22 de junho de 1964 em Calcutá), foi um estudioso indiano e especialista em história, teoria e prática do tantra budista.),    no    seu    livro  “Introduction to Buddhist Esoterim”, chegou à conclusão  que: 

“é possível declarar, sem receio de contradição,  que  os  Budistas  foram os primeiros e introduzir os Tantras na  sua  religião,  e  que os Hindus posteriormente os adotaram do Budistas,  e  que  é  fútil  dizer que o Budismo  posterior  era  conseqüência   do  Shivaismo.”  

         Um dos principais propagadores desta idéia errônea, que foi  edificada sobre as semelhanças superficiais dos Tantras Hindus e  Budista, foi Austin Waddell (Tenente-coronel Laurence Austine Waddell, CB, CIE, F.L.S., L.L.D, M.Ch., I.M.S. RAI, F.R.A.S (1854–1938) era um explorador britânico, professor de tibetano, professor de química e patologia, cirurgião do exército indiano,  colecionador no Tibete e arqueólogo amador. Waddell também estudou sumério e sânscrito; ele fez várias traduções de selos e outras inscrições. Sua reputação como assiriologista ganhou pouco ou nenhum reconhecimento acadêmico e seus livros sobre a história da civilização causaram controvérsia. Algumas de suas publicações de livros, no entanto, eram populares entre o público, e hoje ele é considerado por alguns um precursor da vida real do personagem fictício Indiana Jones.),  que  freqüentemente  é  mencionado  como uma autoridade no  Budismo  Tibetano.  Em sua  opinião,  o  Budismo Tantrico  nada  mais  é  do  que  “idolatria  shivaista,  adoração a shakti e demonologia”. Seus “tão chamados  mantras  e  dharanis”  são  “palavras  sem  sentido”,  “seu  misticismo  uma  pantomina  tola   de  um  jargão  sem  significado  e “ círculos  mágicos”, e seu Yoga um “parasita cuja  monstruosa  excrescência  esmagou e corroeu a maior parte da pequena reserva de pureza  da  vida Budista ainda existente no Mahayana. “A doutrina Madhyamoka  era essencialmente um niilismo sofisticado; “o Kala-Chakra  (  o  mais antigo dos Tantra) sem  valor  para  ser  considerado  como  filosófico”.                                                    

         Como  foi  principalmente  de  tais  “autoridades”  que   o  Ocidente obteve suas primeiras informações do Budismo  Tibetano,  não é de admirar que  até  presentemente numerosos  preconceitos  contra o Budismo Tantrico  estão  firmemente entrincheirados  na  mente Ocidental, como na mente daqueles que  se  aproximaram  do  assunto através da literatura Ocidental.                        

         Julgar os ensinamentos e símbolos do Budismo Tantrico sob o  ponto de vista do Tantra Hindu, e especialmente dos principio do  Shaktismo (“doutrina do poder” ou “doutrina da Deusa”) é uma denominação do Hinduísmo que concentra a sua adoração em Parvati – a Divina Mãe hindu, assim como suas várias manifestações, como Durga e Kali, e outras deusas como Lakshmi e Sarasvati, consideradas formas diferentes da mesma Divindade. Juntamente com o Shivaísmo e o Vaishnavismo, faz parte das primeiras escolas do Hinduísmo.

Os adeptos do Shaktismo vêem Devī (lit., ” a Deusa”) como o próprio Brahman Supremo, “o único”, e considerando todas as outras formas de divindade, femininas ou masculinas, como meras manifestações.

Em relação à sua filosofia e prática em particular, o Shaktismo lembra o Shivaísmo. No entanto, os praticantes Shakta (Sanskrit: Śākta, शाक्त), do Shaktismo, concentram a grande parte da sua devoção a Shakti, que representa a energia ou poder; e Prakriti, que significa matéria, ambos aspectos femininos da Divindade na visão do Shaktismo. Shiva, o lado masculino da divindade, é considerado exclusivamente transcendente, representando o conceito de Purusha (que significa Espírito) e a sua adoração tem um papel de apoio.

As raízes do Shaktismo têm origem na Índia pré-histórica. Desde a primeira imagem conhecida da Deusa no paleolítico, há mais de 22.000 anos, até ao aperfeiçoamento do seu culto na Civilização do Vale do Indo, passando por um obscurecimento parcial durante o período védico, e posterior rejuvenescimento e expansão na tradição sânscrita clássica, tem sido sugerido que, de muitas formas, “a história da tradição hindu pode ser vista como um reaparecimento do feminino.”),  não  somente   é   inadequado   como   completamente  enganador,  porque  ambos  os  sistemas   partem   de   premissas  inteiramente diferentes. Não  podemos  declarar  o  Budismo  ser  idêntico ao Bramanismo só porque ambos  fazem  uso  dos  métodos  Yoga e de termos, técnicas e filosóficas similares, nem tampouco é  permitido interpretar os Tantras Budistas luz dos Tantras Hindus  e vice-versa. Ninguém, poderia acusar o  Budha de corromper  sua  doutrina pela aceitação dos deuses da mitologia Hindu  como pano  de fundo dos seus ensinamentos ou utilizá-los como  símbolos  de  determinadas  forças  ou  experiências  de   meditação, ou   como  expoentes dos mais altos estados da consciência – porém,  se  os  Tantras seguem um caminho similar, eles são acusados  der  serem  corruptores do Budismo genuíno.

         É impossível compreender qualquer movimento religioso, a menos que nos aproximemos dele com um espirito  de  humildade  e  respeito, que é  o  caráter  de  todos  os  grandes  eruditos  e  pioneiros do  estudo.  Por  isso,  nós  temos  que  observar  as  diferentes formas de expressão nas  suas  conexões genéticas e  contra o pano de fundo espiritual donde elas  evoluíram  no  seu  sistema  particular, antes  de  começar   a   compará-los   com  características semelhantes dos outros sistemas. De fato, muitas  coisas que aparecem semelhantes na superfície são muitas vezes justamente   aquelas   nas    quais    os    sistemas    diferem  fundamentalmente. O mesmo passo que nunca conexão os  leva  para  cima,  pode  nos  levar  para  baixo  em  outra   conexão.   Por  conseguinte, derivações fisiológicas e comparações iconográficas,  ainda que possam  ser  valiosas  em  outros  aspectos,  não  são  adequadas aqui.                                                 

         O desenvolvimento no  Tantra  feito  pelos  Budistas  e  a  extraordinária  plástica  desenvolvida  por  eles  não deixou de  criar também uma impressão na mente dos Hindus, que  prontamente  incorporaram  muitas  idéias,  doutrinas,  práticas  e   deuses,  originalmente concebidas pelos Budistas para a sua  religião.  A  literatura, que se segue pelo nome  de  Tantras  Hindus,  surgiu  quase imediatamente depois que  as  idéias  Budistas  tinham  se  estabelecido.                                                   

         No fim das suas convincentes provas históricas,  literárias  e iconográficas,  que  substanciam  o  que  é  evidente  a  todo  estudante do Tantra Budista e da tradição Tibetana, Bhattacharya  conclui:

Está assim amplamente provado  que  o  Tantra  Budista  influenciou grandemente a literatura Tantrica Hindu, e por isso,  é  incorreto  dizer  que  o  Budismo  era  uma  conseqüência  do  Shivaismo. Isto é, sustentar, de  outro  modo,  que  os  Tantras  Hindus  eram  uma  conseqüência  do  Vajrayana,   e   que   eles  representam imitações de pouco valia dos Tantras Budistas.”   

         Por isso, estamos  plenamente  de acordo  com  Bhattacharya  quando diz: 

As  aparências  exteriores  dos  Tantras  Budistas  parecem-se num grau muito acentuado com os dos  Tantras  Hindus,  mas na realidade há uma muita  pequena  semelhança  entre  eles,  tanto  na  matéria  subjetiva  ou  nas   doutrinas   filosóficas  inculcadas neles, ou nos principio religiosos. Isto  não é  para  ser admirado, desde que os objetos e objeções dos  Budistas  são  grandemente diferentes daqueles dos Hindus“.      

         A principal diferença  é  que  o  Budismo  Tantrico  não  é  Shivaismo. O conceito de Shakti, do poder divino,  dos  aspectos  criativo feminino do supremo Deus (Shiva) ou de  suas  emanações  não desempenham  nenhum  papel  no  Budismo.  Enquanto  que  nos  Tantras Hindus o conceito de poder  (Shakti)  forma  o  foco  de  interesse;  a  idéias  central  do  Budismo  Tantrico  é  prajna  conhecimento, sabedoria.                                        

         Para o Budista, Shakti é Maya, a  própria  força  que  cria  ilusões da qual somente a sabedoria Prajna  pode  nos  libertar.  Por isso, o objetivo do Budista não é  adquirir  forças,  ou  se  unir às forças do universo, nem se  tornar  seu  instrumento  ou  tornar-se seu senhor, mas pelo contrario, ele tenta se  libertar  daquelas forças, que desde a eternidade o mantém prisioneiro  do  sansara. Ele se esforça para perceber essas  forças  que  o  tem  mantido no ciclo da vida e da morte, de modo a se  libertar  dos  seus domínios. No entanto, não tenta  negá-las  ou  destrui-las, porém transformá-las em fogo de conhecimento, de modo  que  elas  possam se transformar em forças de Iluminação  que,  em  vez  de  criar discriminações adicionais, fluem na direção oposta: para a  união, para a totalidade, para a plenitude.                     

         A atitude dos Tantras Hindus é completamente diferente,  se  não oposta. “Unido com Shakti, sé tu  cheio  de  poder”,  diz  o  Tantra Kulacudamani (“Jóia da crista” da divisão Kulachara de Tantrika Sadhakas está incluído na lista de obras reveladas, que segundo o Vamakeshvara Tantra, são consideradas as principais dentre as que lidam com o culto a Shakti. Por isso, é freqüentemente encontrado como autoridade em muitas compilações, embora o próprio Kulachudamani (II, 8) nos remeta, para todos os termos técnicos, ao Tantra Bhairavi, que é, no entanto, agora conhecido principalmente por citações feitas a partir dele. Como todos os trabalhos originais sobre a adoração ao Tantrika, o Kulachudamani é lançado na forma de um diálogo, o Shastra sendo revelado pelos Devi em Sua forma como Bhairavi, em resposta a perguntas colocadas a ela por Shiva em Sua forma como Bhairava. Por essa razão, o livro está incluído na classe que leva o nome de Nigama, em oposição a Agama, na qual o shastra é revelado pelo próprio Shiva. A forma na qual um Shastra se apresenta como Revelação de Shiva ou Shakti é mera Lila. Siince Shiva e Shakti são a mesma coisa e é Shiva quem revela; Shiva é o revelador dos Shastra em todos os casos, embora em alguns Ele figura como Shishya e em outros como Guru) “Da união de  Shiva  e  Shakti  o  mundo  é  criado.” O Budista, no entanto, não deseja a criação e  expansão  do mundo  porém  o  caminho  de  volta  para  o  “incriado,  não  formado”, ao estado de sunyata, do qual toda a criação  procede,  ou daquilo que antecede e está além de toda  criação  (se  fosse  possível descrever o inexpressável na linguagem humana).        

         Estar consciente  deste  sunyata  é  prajna:  o  mais  alto  conhecimento. A realização deste mais alto conhecimento na  vida  é a Iluminação, isto é, se  prajna  (ou  sunyata),  o  principio  feminino passivo que tudo  envolve,  do  qual  todas  as  coisas  procedem e ao qual todas  as  coisa  regressam,  está  unido  ao  principio  dinâmico  masculino  do  amor   universal   ativo   e  compaixão, que representam os meios (upaya) para a realização do  prajna e sunyata, então o perfeito Estado Buddhico é  alcançado.  Porque o intelecto sem o sentimento, o conhecimento sem o amor e  a razão sem a compaixão levam à negação pura, à rigidez, à morte  espiritual, à mera vacuidade  –  enquanto  o  sentimento  sem  a  razão, o amor sem o conhecimento (amor cego) e a compaixão sem a compreensão levam à confusão e dissolução. Porém, quando os dois  lados estão unidos, quando se der o grande síntese da  cabeça  e  do coração, do sentimento e do intelecto do amor mais elevado  e  do mais profundo conhecimento, então o perfeito é restabelecida,  a perfeita Iluminação é alcançada.                              

         O processo de Iluminação é,  por  isso,  representado  pelo  mais obvio,  o  mais  humano e ao mesmo tempo  o  mais universal  símbolo imaginável: a união do macho e da  fêmea  no  êxtase  do  amor – no qual o elemento  ativo  (upaya)  e  representado  pelo  masculino e  o  passivo  (prajna)  pela  figura  feminina  –  em  contraste com  os Tantras Hindus,  onde  o  aspecto  feminino  é  representado como Shakti, isto é, como o principio  ativo,  e  o  aspecto masculino como Shiva,  como  o  estado  puro  da  divina  consciência do “ser”,  a  saber,  como  o  principio passivo,  o  “repouso na sua própria natureza.”                              

         No simbolismo Budista, o Conhecedor (Buddha)  torna-se  uno  com seu conhecimento (prajna), tal como o homem e a mulher estão  unos nos braços do amor, e este torna-se  uno  é  a  mais  alta,  indescritível felicidade (mahasukha). Os Dhyani-Buddhas (isto  é  os Budhas ideais visualizados na meditação. Dhyani-Buda é um termo composto sânscrito de dhyāni (“contemplativo, aquele que medita”) e buda (um “desperto” ou “o iluminado”), que pode ser traduzido como “Buda da Contemplação” . No budismo Vajrayana, existem cinco Dhyani-Budas, a saber Akobobya, Amitabha, Amoghasiddhi, Ratnasabhava e Vairocana.Os cinco Dhyani-Budas são baseados nos ensinamentos Yogācāra sobre a doutrina Trikaya (sânscrito Tri: “três” e kaya: “corpo”), que postula três “corpos” do Buda. Os Dhyani-Budas são todos os aspectos do dharmakaya ou “corpo da verdade”, que encarna o princípio da iluminação.)  e Dhyani Bodhisatvas  como  personificações  do  impulso  ativo  da  iluminação,   que  encontram sua expressão em upaya, a compaixão e  amor  que  tudo  envolve, são por esta razão  representados  no  amplexo  de  sua  Prajna, simbolizada por uma deidade feminina,  a  personificação  do mais alto conhecimento.                                      

         Isto não é o reverso arbitrário  da  simbologia  Hindu,  na  qual “os pólos masculino e feminino como símbolos do divino e da  sua expansão tiveram que ser evidentemente trocados,  porque  de  outro  modo  o  gênero  dos  conceitos  que  eles  intencionavam  personificar no Budismo não estaria em harmonia com  eles”,  mas  sim,  a  aplicação  conseqüente  de  um  princípio  que   é   de  importância fundamental para o sistema Tantrico Budista inteiro.

         De maneira similar, os Tantras  Hindus  são  igualmente  ma  aplicação compatível com as idéias  fundamentais  do  Hinduismo,  ainda que eles tomaram para si o encargo dos  métodos  Budistas,  onde convinha a seu propósito. Porém,  o  mesmo  método,  quando  aplicado por dois pontos  de  vista  opostos,  logicamente  deve  conduzir a resultados  opostos.  Não  é  necessário  recorrer  a  razões tão superficiais  como  da  necessidade  de  obedecer  ao  gênero gramatical de prajna (feminino) e upaya (masculino).     

         Tal premissa foi somente a conseqüência da pressuposição da  errada que os Tantra Budistas  eram  uma  imitação  dos  Tantras  Hindus,  e  o  quanto  mais  cedo  pudermos  nos  livrar   deste  preconceito, mais claro se tornará que o conceito de Shakti  não  tem lugar no Budismo.                                           

         Tal como o Theravadin ficaria chocado  se  o  termo  anatta  fosse trocado por seu oposto e traduzido  pelo  termo  bramanico  Atman ou seria  explicado de  tal  maneira  que  os  Theravadins  aceitassem a idéia do Atman (desde que Budismo era  somente  uma  variação do  Bramanismo!),  assim  o  Budista  Tibetano  ficaria  chocado com a interpretação errônea da  sua  tradição  religiosa  com o  termo  Hindu  shakti,  que  nunca  é  empregado nas  suas  escrituras e que significa exatamente o quarto do que  ele  quer  expressar com o termo prajna ou com a forma feminina oposta  dos  Dhyani-Buddhas e Bodhisatvas.                                  

         Não  se  pode  transplantar  arbitrariamente  termos de  um  sistema teísta, em cujo centro está a idéia de um Deus  Criador,  num sistema não teista, que enfática e fundamentalmente  nega  a  idéia de um Deus Criador. De uma  tal  confusão de  terminologia  surge finalmente a idéia errônea  que  o  Adibuddha  de  Tantras  anteriores nada mais é do que outra versão do Deus Criador,  que  seria uma  completa  reversão  do  ponto  de  vista  Budista.  O  Adibuddha,  entretanto,  é  o  símbolo  da  universalidade,   da  temporalidade  e  da  plenitude  da  mente  iluminada,  ou  como  Guenther exprime mais vigorosamente: “a afirmação que o universo  ou o homem é o Adibuddha não é senão uma verbalização inadequada  de  uma  experiência  compreendida   totalmente.   O   Adibuddha  seguramente não é um Deus que, como passatempo, joga dados com o  mundo. Ele não é tão pouco uma espécie de monoteísmo  sobreposto  num Budismo primitivo, presumivelmente ateísta. Tais rações  são  os  erros  de  semânticos  profissionais.  O  budismo  não   tem  inclinação para teorização. Ele  esforça-se  para  penetrar  nas  profundezas secretas do mais intimo do nosso ser e fazer  a  luz  oculta brilhar com todo fulgor. Deste modo, o Adibuddha é melhor  traduzido como expansão da verdadeira natureza do homem.        

         Como em todas as escolas, muitos detalhes essências só  são  transmitidos de boca a ouvido, quando o chela  (discípulo)  está  devidamente apto a receber o ensinamento e colocá-lo em prática.  O Tantrismo, além de estar ligado ao Budismo Tibetano e  outras  formas de Budismo como o Shigon, é praticado também por um grupo  de seitas Shivaistas, como vimos.                               

         Existem cinco grupos tantricos na Índia.  Tais  grupos  não  são de fácil penetração, pois suas doutrinas  são  evidentemente  esotéricas; porém mesmo na Índia existem deturpações,  e  grupos  que praticam o lado negro da magia, de fato existem.            

         Como se vê, é preciso discernimento em grande  quantidade.  Ademais o Budismo Tibetano, que é nossa linha  de  trabalho e  o  Shigon são, para quem se dispõe a  dedicar  a  vida,  excelentes  caminhos tantricos. Existem escolas dos dois grupos no  ocidente  mas não há, evidentemente praticas para darem vazão a imaginação  erótica de quem procura pseudo tantra.                          

         Agora continuando nosso tema principal. O  Yoga  Sutras  de  Patanjali é um texto clássico do  Yoga.  Ele  nos  fala  dos  18  estágios dessa disciplina. São  como  que  degraus  através  dos  quais o  discípulo  pode  aspirar  aquele  encontro  com  o  seu  verdadeiro Ser: O Samadhi. A meditação é o próprio  caminho  que  permite a realização desse encontro. Os homens estão  em  vários  estágios de desenvolvimento. A  escala  na  visão  tantrica  vai  desde o Paçu, o homem  mecânico,  até  o  Dyvia,  o  liberto.  A  meditação é adequada a todos eles. É  uma  técnica  na  qual  se  procura através de recursos físicos ou psíquicos, atingir aquele  momento em que o “eu” cessa e se da a  percepção  do  Real.  São  inúmeros os caminhos para o mundo interior.  No  Oriente,  temos  uma  verdadeira  constelação  de  valores  onde  as   principais  estrelas são a Índia, a China, a Ásia Central e sudeste da  Ásia  e o Japão.                                                      

         A finalidade de todas elas é a libertação do sofrimento,  a  paz, a integração com o  todo.  A  libertação  do  dualismo,  do  processo do vir a ser, que obriga a uma série quase infinita  de  mortes e renascimentos na busca da  perfeição.  Na  Índia,  esse  processo é chamado de SAMSARA (vir a ser) ou LILA (jogo). A  paz  indicada como meta, por todas as Escolas, leva a uma  participação  intensa, ao êxtase, ao gozo místico. Ao “orgasmo”  supremo  onde  se dá a cessação do  eu  e  do  tu.  Os  hindus,  na  Escola  de  Filosofia do Yoga, estudam os métodos para atingir os  objetivos  mencionados. A meditação é um dos últimos degraus  nessa  escala  ascendente que leva a contemplação do  Real.  A  seqüência  é  a  concentração, meditação  e  contemplação,  como  já  sabemos,  o  desenvolvimento da plena atenção é enfatizado como um método  de  ampliação do foco, normalmente, nossa atuação é difusa.  Estamos  sendo  chamados  através  dos  estímulos  sensoriais,   para   o  percebimento de aspectos relativos da realidade.                

A grande maioria dos seres humanos  é  desatenta.  A  plena  atenção pressupõe três fases:

10) pré-seleção;

20) seleção; e 

30) ajustamento.

Na primeira, dá-se a fixação do campo  a  observar;  na segunda, a escolha  do  objeto  a  observar;  e,  por  fim  o  aprofundamento nesse objeto graças  a  uma  focalização  que  se  adquire pela prática.                                           

         A atenção subtende um observador, uma coisa observada,  uma  ligação entre ambos é  uma  imagem  refletida.  Ma  maioria  dos  casos, a imagem refletida é  completamente  diferente  da  coisa  observada. Normalmente, só captamos alguns aspectos superficiais  dela. A imagem é pois,  uma  representação  insuficiente,  sem  nitidez. Para  isso,  temos  que  aumentar  a  sensibilidade  do  “filme”, como se faz numa fotografia, iluminar melhor o  objeto,  focar com maior precisão. Å medida  que  aumentamos  o  grau  de  nossa atenção, vai sendo revelado uma admirável mundo novo antes  desconhecido. A meditação é , pois, uma  “porta”  de  entrada  o  desconhecido. Ela pode ser focalizada em quatro planos:     

                            1 – No corpo                                         

                            2 – Nas sensações                                    

                            3 – Nos pensamentos                                  

                            4 – Nos objetivos da mente     

         A focalização no corpo pressupõe:                           

                            a – Atenção visual: forma, cor e textura.            

                       Na atenção à forma, destacam-se  a  proporção,  a  beleza e a harmonia. No  caso  da  cor,  temos  a  considerar  a  tonalidade, a intensidade e  o  brilho.  Quanto  à  textura,  há  vários graus que vão desde a rústica até a lisa.                

                            b – Atenção auditiva: tonalidade, altura e timbre.   

                            c – Atenção olfativa: agradável, (perfumada), inodora desagradável.                  

                            d – Atenção gustativa: doce, insossa, amarga, picante adstringente, ácida.           

                            e – Atenção tátil: áspera, macia, neutra.   

A focalização nas sensações vai desde a agradável à  neutra  e à desagradável em  vários  graus.  Há  uma  imensa  escala  de  valores  que  vão  desde  o  prazer  mais  intenso  à  dor  mais  perfurante.                                                     

         A atenção nos  pensamentos  cobre  toda  uma  gama  que  se  estende  dos  mais  diferentes  pensamentos  representativos  de  objetos concretos até uma infinidade de pensamentos abstratos.  

         A atenção aos objetos da mente está dirigida aos  conceitos  que povoam a nossa mente.                                       

         Existe, pois, toda uma série de “linguagens” diferentes  ligadas aos campos mencionados, muitas vezes com seus “dialetos”  e “chaves” que são desconhecidos para a maioria. Vamos  analisar  algumas “chaves” do mundo da forma. A forma é uma “presença” com  o seu volume, peso, equilíbrio. É energia concentrada no  espaço  e no tempo. Dai  nasceu  o  conceito  da  Arquitetura,  onde  as  formas, com seus pesos, proporções e equilíbrio  são  exploradas  ao máximo, como sendo uma verdadeira  música  congelada.  Quando  essa forma é a de um círculo, temos o símbolo vivo da  limitação  do espaço de um campo de força, que se propala de um centro  que  representa o “ser” em direção  à  circunferência  que  nasce  no  limite do “não  ser”.  É,  também,  algo  correlacionado  com  a  Consciência e a Inconsciência.  A   circunferência  é  o  eterno  sem principio nem fim, simbolizado pelos gregos no Uroboros –  a  serpente que morde a Própria cauda. É também, o zero;  o  vazio:  Sunyata, a Plenitude; o ventre materno, etc.                    

         Vejamos o  que nos fala, na sua  “linguagem”, uma flor. Uma    flor é um processo de desenvolvimento, de algo em expansão até a  abertura total. Enquanto fechada, num botão, é a imagem viva  de  tensão. A flor aberta é a distensão, a plenitude. A flor, sob  a  forma de um lótus, de uma rosa ou de um lírio, é mentalizada  na  meditação como estando situada no coração. A plena realização se  dá quando todas as pétalas estão aberta.                        

         Os elementos fundamentais da Natureza –  terra,  água,  ar,  fogo  e  éter,  na  tradição  hindu   –   estão   simbolicamente  correlacionados a uma série de conceitos.                      

                   1. A terra (Prithivi) é o denso, o esperado, o estável.  Sua  característica  fundamental  é  a  inércia.  Representa   a  longevidade,  a  escuridão,   as   trevas,   as   correntes,   a  permanência. Sua cor é marrom. Sua forma simbólica é um quadrado  e o cubo. Seus elementos destruidores são o calor, o raio, a água  e o vento. Para ser desintegrada, é  necessário  a  presença  do  impacto, do sofrimento. A terra é o máximo da tensão.                                                                               

                   2. A água (Apas) é o fluído, o  circulo,  a  esfera,  a  gota, o  instável.  Sua  tônica  é  a  mobilidade. Simboliza  as  emoções, as sensações, os choques.                              

                   3. O fogo (Agni) é a destruição, a renovação, o  calor,  a  luz.  O  dissolver  das  estruturas.  Ele  purifica,  refina,  tempera. Seu símbolo é o triângulo ou a pirâmide. É a intuição, a  ascensão. Sua cor é o vermelho.                                  

                   4. O ar  (Vayu)  é  a  leveza,  a   invisibilidade,  as  idéias. Bolhas flutuando no espaço, onde se manifestam no  plano  mental as formas pensamento.  Há  uma  aura  mental  com  cores,  contornos, graus de nitidez e permanência.                      

                   5. O éter (Akasha) é a consciência, o local onde está o  centro reflexivo da existência (Atma, Monada ou Espirito).  É  o  território ultimo (Tat), o divino, a raiz das coisas.  

         Outro símbolo muito  utilizado  na  meditação é  o coração.  Representa o âmago, a essência, o mistério supremo. Nele  surgem  as chamas simbólicas da Sabedoria (Prajna)  ou  os  espinhos  da  Compaixão (Karuna).                                             

         A cruz  simboliza  o  encontro  de  dois  mundos.  O  braço  horizontal é o tempo, a continuidade.  O  braço  vertical  é  um  corte nesse processo; e identificado  com  a  eternidade. Alguma  coisa que vem de cima e nos transfixa o  coração.  O  centro,  o  ponto de encontro é o “aqui agora”, a mágica junção do  tempo  e  do espaço.                                                       

         Esses poucos exemplos são apenas uma demonstração da imensa  potencialidade contida num símbolo. As diversas “linguagens” com  que ele se expressa para quem está atento.                      

         Passemos ao exame de algumas “chaves”.                     

                   1. As Chaves da Cor                                    

O espectro luminoso com suas sete cores,  onde  três  são fundamentais: o vermelho, o amarelo e o azul. As sete nascem  de três. Há uma linguagem luminosa correlacionando as cores e as  emoções a centros de força. Há, hoje, uma  Escola  Cromoterápica  que adota a medicina das cores na cura de neuroses e  no  alívio  de psicoses. O Tantra identifica cada divindade, deve ou ser com  uma cor básica.                                                 

                   2. As Chaves do Som                                    

Diz o  pensador  chinês  Chuang-Tzu:  “A  verdadeira  indiferença não é o indiferente. Quanto mais o indivíduo estiver  apto a remover o seu pequeno Ego (inclusive as idéias a respeito  do moral) do curso da  sua  natureza  profunda,  mais  cheia  de  beleza e bondade será a música executada  pelos  deuses  através  desse bambu-oco”. Nós somos esse “bambu-oco”. Se não  estivermos  vazios, ocos, nunca seremos segurados (tocados).  Pelos  deuses.  São  eles  que  executam  em  nós  as  suas  músicas.   Continua  Chuang-Tzu: “A música da terra  canta  através  de  milhares  de  furos. A música do homem é feita de flautas e instrumentos. Mas,  quem faz a música dos céus?”                                    

           “Alguém está soprando em milhares de furos  diferentes.  Um  pode está por trás e faz que o som nasça e morra.  Que  poder  é  esse?”                                                           

            Na concepção tantrica, o Mantra é um  instrumento (TRA)  do  pensamento (MAN). É força, poder. Cada divindade (força natural)  está ligada a um som ou a  um  conjunto  de  sons.  Nos  rituais  tantricos, utilizam-se as chaves das correlações entre os  sons,  cores e formas com propósitos definidos.       

                   3. As Chaves do Gesto                                  

Os  mudras  são   posturas   simbólicas   das   mãos  impregnadas de poder. Há força nos gestos. Há poder num Mudra. Os  efeitos do Mudra são produzidos pela energia que é  emitida  por  cada dedo, que tem características  vibratórias  diferentes.  As  inúmeras posições possíveis num Mudra isolado (feito por uma  só  mão) ou dos Mudras resultantes  da  combinação  de ambos,  geram  campos de força com características diferentes. Produzem “sons”,  que podem ser ouvidos pelos que têm a devida sensibilidade.     

            As energias da cada dedo são:                              

            Mínimo – terra; anelar – água; médio –  fogo;  indicador  –  ar; e polegar – éter.

Pratica 1 de Meditação – Relaxamento                               

4. As Chaves da Ação Corporal                          

A  dança  é  a  transposição  da  impressão  e   uma  expressão. É o efeito de uma mola que liberta a sua  tensão  nos  gestos. A liberação dessa energia cósmica, que está em nós, pode  ser feita sem esforços.  Os  dervixes   dançarinos,  o  Tai  Chi  chinês, os movimentos feitos  em  grupo  ou  isoladamente  podem  conter  essa  ação  liberatória  e  propagar  para  o  mundo  as  silenciosas vibrações da harmonia universal. A  conotação  sacra  da danças está na sua origem. Na tradição hindu, a dança  é  uma  Sadhana (uma prática) que poderá  levar  o  homem  até  Deus.  A  presença  de  bailarinas  nos  templos  da  antigüidade   é   um  testemunho da sacralidade da ação correta.  

 A meditação é um oceano que se abre a  medida  que  o  homem vai adquirindo a técnica necessária  para  mergulhos  mais  profundos em si mesmo. Inúmeras são as técnicas à disposição dos  verdadeiros praticantes.                                        

   Cláudio Naranjo ( (Valparaíso, 24 de novembro de 1932 – Berkeley, 11 de julho de 2019) foi um médico psiquiatra e músico chileno. Com sólida formação em música, abandonou o piano e a composição ao entrar na universidade.) e Ornstein (Robert Evan Ornstein (21 de agosto de 1942 – 20 de dezembro de 2018)foi um psicólogo, pesquisador e autor norte-americano. Lecionou no Instituto Neuropsiquiátrico Langley Porter, com sede no Centro Médico da Universidade da Califórnia em São Francisco, e foi professor na Universidade de Stanford e fundador e presidente do Instituto para o Estudo do Conhecimento Humano (ISHK).), no livro On Psychology of  Meditation, dizem:                                              

   “Minha exploração nos terrenos  da  meditação  mostra  que a essência da meditação e idêntica à da Arte, à da Religião,  à da Magia e à da Psicoterapia. Assim como à essência  de  fazer  qualquer coisa na atitude correta. Acredito que para quem medita  com a compreensão correta toda a vida é meditação. E meditação é  vida.”                                                           

                 Os efeitos da meditação são perfeitamente visíveis.  Podem ser acompanhados em laboratório, sob controles rígidos, as  modificações  significativas de  traçados  e  ritmos  cardíacos,  respiratórios, cerebrais, etc.                                  

         Antes de começar a  descrever  as  diferentes  fases  e  os  vários tipos de meditação, e preciso  determo-nos sobre  algumas  considerações  de  caráter  geral,  que  nos  poderão  ajudar  a  compreender mais claramente qual  a  verdadeira  essência  desta  pratica e qual a sua importância.                                

         Ao  iniciar   o   trabalho   de   meditação,   verificam-se  gradativamente algumas claras mudanças em nossa vida, pois,  sem  o percebermos claramente, ao meditar, dirigimos  nossas  energia  psíquicas para  um  novo  horizonte,  e  isso  produz efeitos  e  transformações em nossa personalidade. Um  destes  efeitos  é  o  aparecimento da  exigência  de  purificação  e  de  auto-formação  juntamente com um claro e premente impulso de crescimento  e  de  aperfeiçoamento.                                                 

         Mesmo dedicando a meditação apenas meia hora da manhã cedo,  obtém-se um certo resultado, porque a duração de meditação não é  importante; o que interessa é a “qualidade” e a “correta atitude  da consciência” em relação  a  ela.  Se  esses  dois  requisitos  estiverem presentes,  qualquer  que  seja  o  tempo  dedicado  a  pratica produzisse-a no decorrer da meditação uma  abertura para  os níveis super-conscientes de nós mesmos, com conseqüente afluxo  de energias espirituais nos veículos que tendem  para  objetivos  bem  explícitos.  No  decorrer  do  dia,  essas   energias   são  absorvidas pela personalidade e começa então um lento e  gradual  processo de transformação e de purificação do indivíduo.         

         Se tal resultado não se manifestar, isso  significa  que  a  meditação foi feita somente como uma técnica mecânica  exterior,  e não produz nenhuma abertura para as energias do Eu Superior.  

         A verdadeira meditação abre uma  porta  para  uma  dimensão  mais alta do que a habitual e constrói uma  ponte,  conforme  já  dissemos, para o polo mais profundo de nós  mesmos.  Por,  isso,  quando decidimos iniciar um trabalho de  meditação,  tacitamente  decidimos nos transformar e modificar nossa vida. Mais  cedo  ou  mais tarde,  teremos  de  perceber  que  a  meditação,  após  um  determinado período de tempo  de  pratica  regular,  estimula  a  ativa  até  mesmo  parte  do  cérebro  até   então   adormecidos  despertando aspectos superiores de nós mesmos ainda  latentes  e  não manifestados. Na realidade, a meditação é uma abertura  para  o super-consciente e faz aflorar todas as qualidades e faculdades  mais  nobres,  mais  elevadas  do  homem,  que  representam  sua  natureza intrínseca e autentica. Por isso, devemos nos aproximar  da meditação com seriedade e consciência do seu verdadeiro valor  e significado.                                                  

         A meditação tem inicio com a interiorização, isto é, com  a  abstração  da  atenção  do  mundo   exterior   e   dos   objetos  (pratiahara); por isso, aconselha-se fechar os olhos ao meditar.  Porém, não é suficiente “não enxergar”  com  os  olhos  o  mundo  exterior, é preciso esquecê-lo, abstrair-se completamente  dele,  para poder perceber a dimensão interior,  a  realidade do  mundo  subjetivo.                                                      

         Para quem está no inicio dessa pratica, a dimensão interior  constitui-se basicamente  do  conteúdos  psicológicos  (emoções,  pensamentos,  imagens,   lembranças,   etc.)   que   devem   ser  considerados também  como  “objetos”  em  relação  a  verdadeira  consciência. Por tanto, mesmo estes  conteúdos  psíquicos  devem  ser afastados e acalmados se  nossa  intenção  é  chegar  a  uma  verdadeira interiorização e a uma abstração  completa,  que  nos  permitam tornar-nos sensíveis a realidade interior, tão  viva  e  “substancial” quanto a exterior.                                 

         É claro que se faz necessário muito  treino,  exercícios  e  desenvolvimento   de   técnicas   para  superar  a  tendência  a   extroversão e o habito de viver superficialmente,  além  de  ser  preciso acalmar os contínuos movimentos das  energias  dos  três  veículos. Este conjunto de técnicas e de treinamentos  constitui  uma fase preparatória para a meditação propriamente  dita,  fase  necessária que poderia ser chamada “fase psicológica”.          

         O processo meditativo,  portanto,  é  subdividido  em  dois  períodos chamados:                                               

                   1 – Meditação concreta, psicológica (ou com semente) 

         Neste grupo incluem-se diversas  técnicas  que  utilizam  o  ponto de apoio para manter a  atenção.  Entre  esses  pontos  de  apoio, incluem-se imagens, desenhos, que estão fisicamente diante  do praticante ou intensamente mentalizados.                     

         Ela desdobra-se em:                                        

                            1. Meditação com apoio externo : símbolos físicos    

                            2. Meditação com apoio interno : idéias               

         No decorrer do período ou  fase  de  meditação  psicológica  deve-se procurar habituar os veículos  pessoais  a  se  tornarem  calmos,  receptivos,  silenciosos  e  eliminar   os   obstáculos  internos devidos as sensações, emoções e mobilidade excessiva da  mente.                                                          

         Esse trabalho de tranqüilização dos três veículos é chamado  “alinhamento inferior” e constitui-se de três estágios:         

                            a – relaxamento do corpo físico e concentração       

                            b – tranqüilização do corpo emotivo ou astral        

                            c – silencio e calma do corpo mental                 

         O  relaxamento  do  corpo  físico  serve  para  preparar  e  favorecer a calma  interior  e  sobretudo  a  emotiva  que  esta  estritamente relacionada com a distensão e  a  tranqüilidade  do  corpo físico; além disso, é sua função  permitir  e  nós  mesmos  esquecermos as sensações corpóreas.                             

         Há inúmeras técnicas para a obtenção de um bom  relaxamento  do corpo. Entre elas a que estamos aplicando no nosso trabalho. 

         A concentração que  encontra-se  junto  com  o  relaxamento  surge concomitantemente com  este  e  vira  a  possibilitar  uma  interiorização uma vez que sem  esta  qualidade  é  nos  difícil  “olharmos” para o nosso interior uma vez que  o  externo  exerce  uma maior influencia.                                           

         Existem também inúmeras técnicas para  o  treino  da  mesma  algumas das quais lhes ensinamos.                               

         A tranqüilização emotiva, caso  não  tenha  sido  alcançada  juntamente com o relaxamento físico, pode ser obtida com  varias  técnicas entre as quais a visualização de imagens  que  inspirem  calma, serenidade, paz,  pois  a  energia  que  compõe  o  corpo  emotivo é extremamente sensível  as  imagens.  Também  pode  ser  obtida com a repetição o  de  palavras  ou  frases estimulo  que  surgiram a paz, a estabilidade a calma, etc.                     

         Para  podermos  atingir  este  nível  de  tranqüilização  e  posterior  desidentificação  devemos  antes  “ordenar”  o  corpo  emotivo através da eliminação de muitos  bloqueios  que  existem  nele que são decorrentes da nossa vida presente. Isto  pode  ser  feito  através  de  muitas  técnicas  entre  elas  a   regressão  consciente  que  da  condições  da  realização  desta  etapa  do  trabalho.                                                       

         No que diz respeito  ao  silencio  e  a  calma  mentais,  o  trabalho é extremamente mais  complexo  e  quase  sempre  requer  treinamentos  e  exercícios  de  vários  tipos,  que  devem  ser  praticados por um período de tempo relativamente longo.         

         Conforme já ensinamos, o corpo mental tem uma função  muito  importante na meditação devido a sua natureza “dual”. De fato, é  o único veiculo da personalidade que participa ao mesmo tempo da  personalidade e do mundo do Eu Superior.  O  corpo  mental  está  subdividido numa parte inferior, ou concreta, que  se  apresenta  antes do pensamento racional lógico, discursivo,  e  numa  parte  superior,  que  se  apresenta  antes  do  pensamento  intuitivo,  abstrato,  criativo,  impessoal,  que  já  pertence  a  dimensão  espiritual do Eu Superior, como já sabemos.                     

         Para alcançar esse resultado, devemos passar por  uma  fase  de  exercícios  de  concentração  mental  (dharana), ainda  mais  profunda  do  que  a  inicial,  através  dos   quais   poderemos  desenvolver o poder  do  pensamento  concentrado  e  focalizado,  obediente a vontade do Eu Superior; e depois  por  uma  fase  de  meditação com semente (dhyana) no decorrer do qual se desenvolve  a capacidade reflexiva da mente, e  o  poder  de  aprofundar  um  conceito, uma idéia, até alcançar seu  significado  simbólico  e  universal.                                                       

         De  acordo  com  Patanjali,  a  concentração  mental  e   a  meditação com semente constituem-se de sete estágios:            

                   1 – Escolha do objeto sobre o qual concentrar-se.       

                   2 – O retrair-se da consciência mental do mundo externo, de forma que os meios de percepção e de  experiência  (os cinco sentidos) sejam acalmados e a  consciência não se volte mais para o exterior.                  

                   3 – A Consciência se concentra e se fixa na cabeça.     

                   4 – A mente se fixa e a atenção volta-se  exclusivamente para o objeto escolhido.                            

                   5 – A visualização ou percepção imaginativa deste objeto e o raciocínio lógico sobre ele.                    

                   6 – A  extensão  dos  conceitos  que  foram  formulados, passando do especifico e determinado para  o  geral, universal e cósmico.                                

                   7 – Procurar chegar aquilo que está por  trás  da  forma escolhida como objeto de concentração, isto é, checar a idéias que a produziu.                            

         Este procedimento  eleva  gradativamente  a  consciência  e  permite ao aspirante transferir-se do lado  forma  para  o  lado  vida da manifestação.                                           

         A concentração é  a  fase  preparatória  da  meditação  com  semente. A diferença está não na técnica, mas  na  qualidade  do  sujeito escolhido para a concentração.                           

         Do exame deste tipo de treinamento, resulta, claramente que  a concentração mental, qualquer que seja o objeto escolhido, é a  preparação para  a  meditação  propriamente  dita,  mesmo  a  de  caráter “reflexivo” cuja finalidade é criar a ponte mental entre  a personalidade e o Si.                                         

         A meditação psicológica,  portanto,  é uma  preparação  dos  veículos inferiores para o silencio e a calma, e  poderia  mesmo  ser chamado de “meditação com semente”. De fato, quando usamos a  mente para refletir e meditar sobre um  determinado  pensamento,  isso leva gradualmente a superar  a  própria  mente  e  o  nível  racional e a  entrar  em  um  estado  de  consciência  livre  de  conteúdos, calmo, silencioso, desidentificado do intelecto  mas,  ao mesmo tempo, atento e desperto.                              

         Sri Aurobindo  afirma:  “É  uma  concentração  que  procede  através da idéia e utiliza o pensamento , forma e  o  nome  como  chaves que abrem as portas da Verdade escondida  atrás  de  cada  pensamento, cada forma, cada nome,  para  a  mente  concentrada;  isso porque através da idéia  o  Ser  mental  eleva-se, além  de  qualquer expressão, para Aquele que é expresso, do qual a  idéia  é somente um instrumento”.                                      

         Portanto,  pouco  a  pouco,  exatamente  através   do   uso  consciente  e  voluntário  da  mente,  é  possível  alcançar   o  superamento dela mesma  e  sua  desidentificação,  alcançando-se  então um estado todo especial chamado por alguns  estudiosos  da  meditação de “estado de atenção ativa”. Na realidade, esta é uma  qualidade de atenção diferente, conforme  afirma  Corrado  Penso  num de seus escritos sobre a meditação que citamos a seguir:    

         “… a atenção comumente é passiva,  ou  seja,  acende  e  apaga  dependendo do interesse para com os objetos-eventos que aparecem  a sua frente. Enquanto na “qualidade diferente de atenção”, isto  é, na atenção ativa, o eixo desloca-se dos objetos-eventos  para  a atenção… Ficamos atentos ao estar atentos… A  proposta  da  meditação  é  cultivar  esta  a  atenção   ou  consciência   não  identificada  com  os  conteúdos   mentais,   e,   portanto,   é  profundamente diferente da consciência comumente  entendida  que  consiste nesta identificação…”                                

         A finalidade principal, então, na meditação psicológica,  é  conseguir  acalmar  os  movimento  dos  veículos  pessoais  para  desidentificar-se deles e atingir um estado de consciência livre  e independente e um “fundo consciencial” que, mesmo vazio e  sem  conteúdos, tenha a qualidade da atenção atenta e consciente. É o  que as doutrinas esotéricas chamam de “atitude do Espectador  ou  da Testemunha silenciosa”,  que  na  realidade  é  um  nível  de  consciência  muito  próximo  da  consciência  do  Eu   Superior,  digamos, um seu  reflexo.  Ele  constitui  uma  importante  meta  alcançada, pois permite-nos ter o ponto de apoio necessário para  poder dar inicio a uma meditação mais profunda e criativa.      

         A mente, que em geral constitui o maior obstáculo na fase de  preparação ou  alinhamento  inferior,  deve  ser  treinada  para  seguir direções bem precisas de pensamento,  para  concentrar-se  numa idéia  ou  num  objetivo  precedentemente  escolhido,  para  tornar-se obediente instrumento de conhecimento do Eu  Superior,  e revelar sua verdadeira natureza de interprete e esclarecedora. 

         Em geral, é preciso dedicar alguns meses  a  este  tipo  de  meditação preparatória antes de  poder  passar  para  a  segunda  fase:  meditação  espiritual,  que  requer   a   capacidade   de  desidentificar-se facilmente e sem maiores esforços dos veículos  pessoais,  de  entrar  no  silencio  e  de  saber   abrir-se   a  consciência e as energias do Eu Superior e  utilizá-las  para  o  própria transformação e para o trabalho.                        

         Todo  o  nosso  trabalho  visa  exatamente   atingir   esta  condição.                                                       

         A fase da meditação psicológica, pela qual estamos passando  traz como resultado fundamental, o aparecimento de um centro  de  consciência desidentificado dos veículos  pessoais,  que  não  é  somente um “fundo de consciência” vago e amorfo, mas revela-se a  verdadeira dimensão humana, a realidade mais  intima  do  homem,  dotada de consciência e vontade. Em outras palavras, ao alcançar  o estado de “atenção  ativa”  e  a  consciência  sem  conteúdos,  manifesta-se o nosso verdadeiro Eu, o centro de  autoconsciência  que é o reflexo do  Eu  Superior,  de  forma  espontânea  e  sem  esforços.                                                       

         O  Eu  Superior,  mesmo  sendo  uma  centelha  da  Essência  Universal,  ao  encarnar  manifestando-se  e   revestindo-se  de  veículos feitos de substancias energias cada  vez  mais  densas,  individualiza-se, isto é, tornar-se consciente de si mesmo  como  entidade autônoma e auto-evolvente, através de todo  o  processo  evolutivo do homem.                                             

         O sentido do  eu, a  autoconsciência,  é  o  reflexo  dessa  individualização gradual  do  Eu  Superior,  desse  processo  de  auto-reconhecimento.  Cada  um  de  nós  deve,  pouco  a  pouco,  enuclear em si mesmo este centro de autoconsciência autentica, o  Eu Verdadeiro, a individualidade, que não é o eu psicológico,  o  Eu construído e egoistico, mas  sim  um  núcleo  de  consciência  livre,, autentico e estável, que reflete a natureza e a essência  do Eu Superior.                                                 

         Assim, a pergunta central que o homem faz  a  si  mesmo  ao  despertar de sua inconsciência e começar a sentir a exigência de  descobrir o significado da vida, é a seguinte: “Quem  sou  eu?”.  Não é nada fácil responder a esta pergunta, e no entanto, se ela  for  colocada  de  forma  correta  e  em  atitude   intensamente  meditativa, pode tornar-se  o  meio  catalisador  da  verdadeira  autoconsciência. Narra-se,  a  respeito,  que  o  grande  Mestre  indiano  Ramana  Maharshi,  com  apenas  17  anos,  conseguiu  a  iluminação e teve a revelação do Eu Superior, exatamente  quando  fez a si mesmo esta pergunta, em um momento de intensa meditação  e procura.                                                      

         Por não termos, obviamente, o mesmo grau de  maturidade  de  Ramana Maharshi, não poderemos obter um resultado tão  rápido  e  elevado;    poderemos    porem,    através     de     sucessivas  desidentificações , conseguir libertar-nos daquilo que não  é  o  eu e estabilizar-nos num centro de consciência livre e destacado  que nos dará o sentido da estabilidade, da autoconsciência e  da  identidade.                                                     

         Isto pode acontecer  com  a  meditação  psicológica  quando  praticada com seriedade e constância.                            

         O centro de autoconsciência não é o Eu Superior total,  mas  uma projeção, um seu reflexo. Poderíamos defini-lo “aquele pouco  de consciência do Eu Superior que conseguimos perceber, enquanto  estamos, em parte, ainda  limitados  pela  identificação  com  a  personalidade”. Todavia, mesmo sendo tão somente o reflexo do Eu  Superior o centro de autoconsciência possui qualidades e poderes  bem definidos. A primeira  destas  qualidades  é  a  consciência  pura, isto é,  livre  e  autentica,  sem  conteúdos,  dotada  de  clareza, estabilidade e destaque.                               

         A segunda é  a  capacidade  de  síntese  própria  do  poder  unificador do Eu Superior, que, por  natureza,  sempre  tende  a  unidade,  a  totalidade,  a  harmonia.  De  fato,  o  centro  de  autoconsciência  é   chamado   também   centro   unificador   da  personalidade, pois tem  a  função  de  integrar,  harmonizar  e  coordenar os três veículos entre si.                            

         Podemos, portanto, verificar o grau de  aproximação  do  eu  superficial ao Eu Superior exatamente com  base em  seu grau  de  estabilidade,  de  capacidade  de  síntese,  de  harmonia  e  de  unificação dos conteúdos pessoais.                              

         Outro dos poderes fundamentais do centro de autoconsciência  é a vontade, não como é comumente entendida, mas como uma  força  interior, um poder de direção e de controle, uma  capacidade  de  vislumbrar a meta, uma nascente de energias livres e  dinâmicas.  Em outras palavras, a  vontade  entendida  como  uma  “presença”  central, uma força que sabe o que quer e pode realiza-lo.       

         Então,  os  três  poderes   fundamentais   do   centro   de  autoconsciência  são:  a  consciência  (ou  consciência  do   Eu  Superior), a capacidade de síntese e a vontade.                 

         Reencontrar esse centro é uma passagem   obrigatória,  antes  de despertar do Eu Superior. Ou  melhor,  poderíamos  dizer  que  constitui a  porta  através  da  qual  teremos  de  passar  para  reencontrar a totalidade do Eu Superior, nosso verdadeiro Ser. O  sentido do eu, de fato, é o que nos permite fazer a  experiência  determinante de nosso desenvolvimento interior  da  solidão,  da  autonomia e da  liberdade  de  sustentações  e  projeções.  Esta  experiência nos permitira encontrar a nascente  de  nossa  força  interior e descobrir Deus no profundo de nós mesmos.            

         Alan W. Watts escreve:                                     

         “Enquanto o homem moderno não tiver realmente  entendido  o  significado de seu evidente divorcio da natureza, de  seu  agudo  senso  de   separação   e   identidade   pessoal,   não   poderá  absolutamente entender que seu verdadeiro Eu Superior é Deus. Se  ele tentar impor-se este ensinamento é mais do que provável  que  sofrera um acréscimo espiritual, uma dilatação de seu eu para  a  dimensão de Deus… Isso acontece porque a desafortunada  vitima  não aceitou a divisão e o conflito. Não permitiu a Deus  ser  um  eu. Negou aquilo que a natureza predeterminou ao  desenvolver  o  sentido de separação e, enquanto não o tiver  aceito,  todas  as  suas tentativas de  resolver  o  problema  serão  tentativas  em  termos de egoísmo. Em outras palavras, tudo o que a solidão e  o  isolamento da autoconsciência comportam, toda  tentativa  de  se  sair será inútil. O Eu não pode abolir a pena do conflito  entre  si e o universo com a simples tentativa de se identificar com  a  essência  daquele  universo  que  é  Deus.  Paradoxalmente  deve  realizar sua união com Deus sendo um eu.  Antes  de  poder  unir  você deve dividir.”            

Meditação Pratica 1 – Relaxamento                                 

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