
Pensamento Multidimensional
Nós falamos, no nosso programa anterior, que a pratica da meditação é um processo de conscientização, num primeiro momento, da sua condição presente, depois uma desconstrução ou seja, você constatou a forma como você está. Isso feito você vai avaliar o que você gosta e o que não gosta nessa condição e de que como você gostaria de estar e a partir daí então começa a desconstruir aquilo que não lhe agrada para em seguida, após terminada essa desconstrução, começar a se reconstruir de acordo com aquilo que almeja para a sua vida, para sua existência.
O objetivo principal da meditação, nas suas origens, é o aprimoramento do ser humano, a harmonização com ele mesmo e com meio no qual ele está inserido sendo que esse processo está presente em todas as religiões orientais indistintamente, em formatos diferentes, como iremos observar. Já nas ocidentais (judaísmo, cristianismo e islamismo) esse processo existe de uma forma bem diferente daquela das orientais mas a estrutura básica é a mesma.
Falamos também dos processos que estão sendo desenvolvidos atualmente e que não podem ser chamados de meditação de fato porque não preenchem os requisitos do que seria uma verdadeira meditação uma vez que os cientistas que os estudam, para que pudessem compreendê-lo em sua integralidade, teriam que sair de seu pensamento linear e passar para um pensamento multidimensional.
É com essa temática que nós iremos começar o nosso programa de hoje.
O que seria essa consciência multidimensional?
Nós já falamos, em programa anterior, acerca da maneira como se desenvolve o pensamento no Oriente e no ocidente e quais são as suas principais diferenças iremos recordar esse processo porque é ele que possibilita a multi dimensionalidade do pensamento.
Enquanto o pensamento ocidental mover-se em linha reta para o objeto do pensamento ou contemplação, partindo de um ponto de vista particular, o modo oriental de pensar consiste mais em circular o objeto de contemplação. O “ataque frontal” ocidental leva a um resultado mais rápido e inambiguo; mas ele o é tão inambiguo quanto unilateral.
Neste sentido, o método oriental ganha do ocidental por meio de um “ataque concêntrico” e constantemente renovado, movendo-se em círculos sempre menores até o objeto, gerando uma impressão multilateral, multidimensional, formada da soma ou da superposições integradas de impressões isoladas dos diferentes pontos de vista até que no ultimo estágio desta aproximação concêntrica o experimentador tornar-se-ia uno com o objeto de contemplação.
Este modo de pensar não trata de fixar a mente de acordo com o sistema ocidental, que é fixo, inorgânico e no qual dois postulados opostos não podem ser verdadeiros ao mesmo tempo, mas manter a mente em movimento como algo vivo, orgânico, espiritual, o que realmente é, isto é, mudar o ponto de vista deixando-o circular o objeto contemplado.
Para que fique mais claro o exposto apresentamos aqui as quatro posições da lógica ocidental e oriental:

As duas primeiras afirmativas se referem ao mundo ou reino dos objetos concretos, perceptíveis pelos sentidos ou através de conceitos, o reino de entidades fixas, onde podemos falar de identidade ou não identidade. Em resumo o reino material. Onde atua basicamente o pensamento cientifico assim como a forma de pensar do ocidental
A terceira afirmativa refere-se ao reino da relatividade e corresponde ao estágio dos eventos orgânicos vivos. Para onde nossa estrutura de pensamento esta caminhando.
A quarta, refere-se ao reino da experiência transcendental, excedendo a percepção sensorial e conceitos, porque seus objetos são infinitos e somente acessíveis a intuição, isto é, a experiência direta ou a experiência de dimensões mais elevadas. Esse é o “reino” da meditação em sua integralidade
A terceira e quarta afirmativas são orgânicas, vivas, dinâmicas espirituais.
Só podemos entender do mundo aquilo que desenvolvemos e vivenciamos no nosso interior.
É exatamente nisso que se baseia a meditação.
Localização e Constituição do Homem
Bom agora definida a estrutura de pensamento necessária para que possamos compreender e vivenciar o processo da meditação vamos esclarecer aonde o ser humano está localizado, do ponto de vista das religiões e filosofias orientais, e como ele está constituído porque é em cima dessa localização e constituição que se desenvolve o processo da meditação.
O Universo manifestado como o conhecemos tem raíz em um Principio Eterno Ilimitado, Imutável, Sempre Imanifestado, chamado o Absoluto, Parabrahman, Realidade Ultima, Tao. Este Princípio transcende o alcance da compreensão humana.
Consciência/Espírito/Yang e Poder/Matéria,Yin não são duas realidades independentes, mas dois aspectos polares do Absoluto. Eles são os primeiros produtos da diferenciação e a base da Manifestação.
A vida evolui passo a passo nesse Universo Manifestado através dos reinos mineral, vegetal, animal e humano. A evolução continua mesmo depois de ter sido atingido o estágio humano em seu mais elevado aspecto.
Os seres humanos, divinos em essência, contêm em si todas as qualidades e poderes que associamos a Divindade, mas em estado germinal. O desenvolvimento gradual destes poderes e qualidades acarreta uma perfeição e uma expansão de consciência sempre crescentes, sem limites.
O desenvolvimento dessas qualidades e poderes latentes é efetuado primordialmente através do processo de reencarnação, o espírito encarnando vezes e mais vezes em diferentes: sexos, raças, países e circunstâncias, para adquirir experiências de todas as espécies, despendendo em seguida períodos de recolhimento em planos super-físicos para assimilá-las.
Não somente o físico, mas também todos os outros aspectos da vida humana são governados por leis naturais operando em suas respectivas esferas. Uma dessas leis de causa e efeito, geralmente conhecida como karma (Palavra do sânscrito (antiga língua sagrada indiana) que significa ação ou ato deliberado), torna o homem senhor de seu destino e criador de sua felicidade ou de sua miséria.
Assim como nos reinos vegetal e animal a evolução das formas pode ser acelerada pela utilização das leis biológicas, também a evolução do homem pode ser muito acelerada pela aplicação das leis mentais e espirituais que operam em seus respectivas planos.
A meditação se baseia na aplicação dessas leis naturais, em sua totalidade, ao processo da evolução humana, leis tão certas e fidedignas em resultados definidos quanto as que operam no plano físico dentro do campo da ciência moderna.
Localizado o homem em termos de espaço tempo vamos agora abordar a sua constituição do ponto de vista das religiões e filosóficas orientais
O homem tem uma constituição complexa operando em diversos veículos de consciência desse universo manifestado dele fazendo parte do plano mais elevado, e que vai descendo passo a passo até o plano físico que se acha, por assim dizer, na periferia da Consciência Divina.
Em cada plano desse, essa unidade individualizada de consciência, apodera-se da matéria pertencente ao plano e aos poucos prepara um “corpo” que passa a operar nesse plano com eficiência cada vez maior.
Consideremos uma dessas unidades de consciência e examinemos generalizadamente alguns fatos a respeito dos corpos e seu mutuo relacionamento.
O primeiro ponto a ser notado nesses corpos é que a medida que vamos da periferia para o Centro, os corpos vão se tornando cada vez menos materiais e a consciência vai se tornando progressivamente predominante.
De acordo com o conhecimento oriental, A manifestação nos planos sucessivos significa materialização cada vez maior da sua vida e envolvimento de sua consciência em véus gradativamente mais espessos. Ao descer, plano após plano, a consciência vai perdendo seus atributos a cada degrau até que, no plano físico, o mais externo deles, a consciência atinge o máximo de prisão na matéria
A partir daí o processo se altera e a consciência retrocede internamente, sendo as praticas de meditação uma forma de acelerar esse evento, e o processo de descida é invertido, as limitações caem uma após outra e a consciência torna-se apta a operar em crescente liberdade, sempre se aproximando, com a reversão progressiva, da consciência divina. Esta libertação das limitações e do obscurecimento é experimentada por todo meditador, a proporção que transfere o centro de sua consciência de um plano para outro e se aproxima da Fonte de toda consciência.
É necessário que se compreenda este fato importante, pois quando estamos vivendo no plano físico, absorvidos pelos fenômenos passageiros e comparativamente grosseiros, estes nos parecem muitíssimo mais vividos e pleno de vitalidade, enquanto as realidades dos planos mais elevados nos parecem nebulosos irreais, e, portanto, sem atrativos. Tememos perder o contato com o plano físico, tememos ser privados de suas alegrias efêmeras, sem entender que o físico é o mais grosseiro de todos os planos e nele a vida é um reflexo distorcido das imagináveis outras associadas aos reinos mais elevados do Espírito.
Cumpre também lembrar que evolução espiritual significa deslocar o centro de consciência em direção ao Centro divino de nosso ser e compreender de maneira cada vez mais real, a nossa divindade. Isto quer dizer aperfeiçoar a nossa personalidade, embora essa, por sua própria natureza permanece, em grande parte, imperfeita e limitada.
O desenvolvimento espiritual da Individualidade certamente se reflete, até certo ponto na personalidade, pois as limitações inerentes aos planos inferiores constituem obstáculo a sua plena expressão. É necessário que se chame a atenção para este fato, visto que muitas pessoas fazem, em suas mentes, confusão a respeito dele.
As figuras seguintes mostram os “Sete Princípios no Universo e no Homem” e “Os Corpos do Homem – Segundo as Diversas Escolas Filosóficas”.

Os Corpos do Homem – Segundo as Diversas Escolas Filosóficas

O segundo ponto a ser observado em relação a esses veículos é que apesar da sua multiplicidade e das grandes diferenças na natureza das manifestações por meio deles, a consciência operando através deles é uma só e é um raio da Consciência Divina.
Estudando o homem e sua complexa constituição, podemos, para efeitos práticos, dividi-lo em diferentes componentes, como vimos acima, mas isto não deve dar a impressão de que haja diferentes entidades agindo em seu interior, uma dentro da outra. A consciência que opera através de um conjunto de corpos é indivisível. Somente seus diferentes aspectos aparecem em maior ou menor grau, consoante a natureza e o desenvolvimento do corpo em que a consciência opera num dado momento.
A manifestação num determinado plano depende da natureza intrínseca do plano e o colorido derivado de outros planos através dos quais passou a consciência.
Assim, por exemplo, quando o alma humana parte da Alma Divina (Jivatma em sânscrito) esta em ação no corpo físico, sua consciência esta condicionada pela natureza do plano físico, mas todas os outros corpos da Alma Divina estão secundariamente presentes e influenciando a vida nesse plano.
Na morte, quando o corpo físico é abandonado, o corpo astral se torna o foco da consciência e condiciona seu funcionamento, mas todos os outros corpos estão secundariamente presentes e modificando a manifestação.
Em Samadhi (Pode ser traduzido por “meditação completa”. Na yoga é a última etapa do sistema, quando se atingem a suspensão e compreensão da existência e a comunhão com o universo. No Budismo é usado como sinônimo de concentração ou quietude da mente.), quando o centro da consciência é deliberadamente deslocado de um plano para outro, um veiculo se torna momentaneamente o foco da consciência enquanto outros ficam no plano de frente, ou no secundário, como mostra a figura seguinte.

(Jivanmukta (termo Sânscrito das raízes jiva e mukti) é um conceito utilizado em toda a filosofia Hindu. A palavra significa ‘aquele que foi libertado enquanto vivo’. A última meta do Hinduísmo é a libertação do ciclo de nascimentos e mortes. Esta libertação é tecnicamente chamada de ‘moksha’. Desta forma aquelas almas que tiveram esta realização, são chamadas de jivanmuktas, embora eles sejam extremamente raras.)
O fato mencionado acima revela a função primordial da meditação, levando em consideração nossa constituição total.
Todos os nossos corpos são ligados entre si, são interdependentes e não podemos modificar um sem que, até certo ponto, os outros sejam modificados. Se uma pessoa deseja saúde emocional não pode isolar sua vida emocional e tratá-la separadamente. Ela tem que ver também suas vidas físicas e mental, e se deseja ser realmente completa, terá de cuidar além do mais, de sua natureza espiritual.
O ponto seguinte a ser notado em relação a esses corpos é que, apesar de se situarem em diversos planos e a manifestação da consciência, operando através deles, difira de um plano para outro trabalhando em cada grupo como um todo, é uma unidade, ainda que esta unidade seja subordinada e esteja contida na unidade maior do plano de manifestação imediatamente superior. Este fato é ilustrado no diagrama seguinte.

O circulo menor representa o limite operacional da consciência nos três planos inferiores, através dos corpos físico, emocional e mental, e pode ser tomado como a esfera da personalidade (que é o que muda a cada encarnação).
A seguir o circulo maior representa a esfera da individualidade (essa perdura enquanto somos homens em processo de evolução), que opera através dos corpos Causal, Buddhico e Atmico e inclui a personalidade.
A individualidade esta, por sua vez, contida na bem mais vasta consciência da Mônada (A palavra mônada deriva do vocábulo grego monas e significa “só”, “solitário”, “unidade”. Foi usada primeiro por Pitágoras e mais tarde por Leibnitz. É um centro de consciência, uma centelha imortal da Chama Divina, de cujas qualidades participa. Dessa condição, portanto, deriva o fato de ser, como sua Chama, potencialmente onisciente e onipresente em seu próprio plano, o Monádico, conhecido na filosofia indiana por Anupádaka. Contém, pois, em estado latente, todos os atributos e poderes divinos que evolutivamente vão-se manifestando mercê das impressões e dos impactos nascidos do relacionamento com os objetos do universo com os quais a Mônada estabelece contacto. Em sendo uma em essência, ela existe em todos os reinos da natureza e mais plenamente no Homem Perfeito.) que tem suas raízes no plano Adi, opera no plano Anupadaka e exerce sua influencia no plano Atmico de um modo que não podemos entender nos planos inferiores. A Mônada, de maneira incompreensível, esta contida na consciência que tudo inclui. Vemos assim que a personalidade, a Individualidade e a Mônada são manifestações, parcial e diferentemente limitadas, da consciência Universal, sendo que cada manifestação superior é mais ampla que a inferior e contém esta em sua amplitude maior respectivamente Jiva (Personalidade), Jivatma (Individualidade), Atman (Monada) e Paramatman (é o Atman Absoluto, ou Eu Supremo, em várias filosofias como as escolas Vedanta, Yoga e Sikhismo na hindusimo. Paramatman é o “Eu Primordial” ou o “Eu Além” que é espiritualmente idêntico à realidade absoluta e última.) na terminologia hindu.
Pratica 1 de Meditação – Relaxamento