
O atrativo inicial da prática do tai chi reside na beleza e na graça dos seus movimentos. O tai chi não exige um esforço excessivo. Também pode ser praticado em idade bem avançada sem risco. Algumas das formas de artes marciais mais “radicais”, ao contrário, podem causar graves lesões nas articulações se praticadas incorretamente, e são vigorosas demais para a maior parte dos idosos.
– O tai chi pode aperfeiçoar a postura
Um dos benefícios mais importantes da prática do tai chi é a melhora que gera na postura. A postura incorreta resulta de uma combinação de estados emocionais negativos e da falta de autoconsciência. Todos conhecemos bem a figura de uma pessoa cronicamente deprimida: ombros caídos e arqueados, como se todo mundo o estivesse pressionando para baixo. Essa postura espelha os estados emocionais negativos de tristeza, depressão, indiferença, retraimento, arrogância, orgulho, medo, atitude defensiva e por aí afora. Uma vez instaladas cronicamente, as emoções negativas se gravam na estrutura física. Então, essas deformações anormais impedem que a pessoa viva um estado emocional harmonioso e equilibrado.
A primeiríssima posição do tai chi, a postura wu chi, inicia o processo de consciência da postura. Começando pela sola dos pés, verificamos se todos os pontos dos pés estão tocando o chão. Mais para cima, verificamos se uma perna não está suportando mais peso do que a outra, ou se há alguma pressão sutil nos quadris em função talvez de o corpo estar inclinado para um dos lados. Nos ombros, verificamos se há alguma rigidez, e observamos se as escápulas estão na posição correta, ligeiramente curvadas, evitando que o peito se projete para frente. Chegando à cabeça, verificamos a posição do queixo e a base do crânio, recuando um pouco o queixo para proporcionar uma sensação de abertura na base do crânio. Finalmente, é preciso ajustar o ângulo do alto da cabeça (a coroa, ou “cocuruto”), até sentir uma sutil sucção energética para cima, imaginando uma bola de chi acima da cabeça. Essa sucção indica que toda a estrutura está plenamente suspensa entre o feixe energético que liga o céu, acima, à terra, embaixo.

– Postura wu chi
O equilíbrio da estrutura é uma função natural do corpo humano, mas tendemos a perdê-lo depois da infância. Pela prática do tai chi, reajustamos consciente e constantemente a postura até que o correto equilíbrio estrutural passe a fazer parte novamente da nossa consciência corporal natural, evitando que fiquemos numa posição encurvada por muito tempo. Esse aperfeiçoamento da postura física se reflete imediatamente numa melhor estrutura mental e emocional. A consciência de si mesmo que nos desperta para a postura desequilibrada também nos desperta para estados emocionais negativos, que de outro modo talvez nem notemos.
A postura correta também desempenha um papel fundamental na circulação energética saudável.
A prática, do alto da sua experiência de milhares de anos, demonstra que a circulação energética deficiente tem um papel importante no aparecimento de doenças. Quando melhoramos a circulação da energia pela meditação, pelos exercícios e pela manutenção de estados mentais positivos, a incidência de doenças diminui rapidamente.

– O tai chi fortalece o sistema nervoso
Um dos aspectos mais prejudiciais da vida contemporânea são os efeitos destrutivos da poluição, das emoções negativas descontroladas e da sobrecarga que a vida urbana impõe ao sistema nervoso central. Os anúncios na televisão de remédios para dor de cabeça, queimação no estômago, insônia, prisão de ventre e outros refletem o triste estado do sistema nervoso do homem moderno.
O sistema nervoso é o mecanismo eletroquímico pelo qual o organismo regula todas as suas funções. A energia vital, na forma de impulsos eletromagnéticos, é o meio que o sistema nervoso usa para fazer a comunicação. O aperfeiçoamento da circulação energética que se consegue pela meditação e pela prática do tai chi exerce um efeito regenerador sobre o sistema nervoso.
– O tai chi pode aliviar doenças crônicas
Outro aspecto positivo da meditação e da prática do tai chi é seu efeito sobre doenças já existentes. Repassando muitas das publicações em inglês sobre o tai chi para a preparação deste material, fiquei impressionado com os relatos de pessoas que praticam o tai chi com diligência. Muitas das grandes figuras do tai chi contemporâneo começaram a praticar devido a doenças graves que a medicina moderna qualifica de crônicas ou terminais.
O aperfeiçoamento da circulação energética e a transformação de estados emocionais e mentais negativos são fatores significativos na eliminação das doenças. Graças ao trabalho de pesquisadores modernos como os doutores Bernie Siegel e Herbert Benson, a medicina ocidental está começando a reconhecer que determinadas doenças crônicas e terminais que não reagem a tratamentos farmacêuticos ou cirúrgicos podem ser curadas pela mudança do panorama mental e emocional do paciente, aliada a alguma forma de exercício energizante.
– O tai chi pode eliminar as emoções negativas
Ser capaz de se movimentar livre, tranqüila e facilmente é uma das características naturais do organismo saudável. O mesmo se pode dizer da capacidade de sentir e de expressar toda a gama de emoções humanas, positivas e negativas. Apegar-se às emoções, evitando soltá-las plenamente, é uma das principais causas de tensão e stress, que gera bloqueios do fluxo energético e no final resulta em doença.
A consciência clara e sincera do estado pessoal íntimo é um dos resultados da prática eficaz da meditação. A mesma consciência se estende à prática do tai chi, de modo que, pouco a pouco, o individuo consegue reparar, nos seus movimentos, regiões sutis de tensão e apego. Ao descobrir uma região de rigidez e tensão, a pessoa consegue tomar consciência da conduta emocional por trás da “armadura corporal” que está provocando a tensão. A pessoa pode então aplicar uma vasta gama de métodos para dissipar essa tensão. Uma das opções, é sorrir para a região afetada durante a prática do tai chi e enviar sentimentos positivos para dissipar as tensões. Outra opção é dirigir a energia vital para as regiões necessitadas de cura.
– O tai chi beneficia o tecido conjuntivo, os tendões, os músculos e a circulação do chi
A força vital circula por uma estrutura física bem definida. Nos últimos trinta anos, fizeram-se pesquisas na Ásia e no Ocidente para determinar precisamente os caminhos da força vital. Estudos recentes se concentraram no papel do tecido conjuntivo na transmissão da energia.
O tecido conjuntivo, ou fascia, é uma camada muito fina de tecido que permeia todo o organismo, envolvendo os órgãos, os músculos, os tecidos e os ossos. Como sugere o nome, o tecido conjuntivo serve para juntar ou ligar. O aspecto mais visível do tecido conjuntivo é a fascia, mas no nível microscópico os tecidos conjuntivos se estendem a cada célula do corpo, ligando cada uma delas ao resto do organismo.
A pesquisa mais importante sobre o tecido conjuntivo (com respeito à sua relevância para o tai chi) concentra-se nas suas propriedades bioelétricas e bioquímicas. Descobriu-se que o tecido conjuntivo funciona como um grande sistema de comunicação elétrica que liga cada célula do corpo a todas as outras.
Observado através do microscópio, o tecido conjuntivo parece uma complexa estrutura cristalina treliçada. Quando fazemos movimentos simples, essa estrutura cristalina treliçada se comprime, gerando sinais bio elétricos. Hoje se suspeita que o tradicional sistema de meridianos da medicina chinesa esteja intimamente ligado ao onipresente tecido conjuntivo.
No vasto repertório dos exercícios chineses, não se encontra nem um sequer voltado ao desenvolvimento de uma musculatura volumosa, como os exercícios de musculação ocidentais. A principal razão é a pesquisa sobre a força dos tendões. Os músculos se desenvolvem por meio de pesados exercícios físicos. Mesmo que a pessoa treine todo dia, durante toda a vida, em certa idade os músculos começam a perder força a volume. O tecido muscular se rompe e já não é reconstituído tão eficientemente como na juventude. Além disso, para se conservar forte, o tecido muscular consome muitos dos nutrientes que ingerimos.
Os tendões, por outro lado, não são afetados pela idade e exigem bem pouca vascularização para a sua manutenção. A pessoa que desenvolve tendões fortes mediante um programa de exercícios pode manter esses tendões fortes até idade avançada. Os tendões funcionam como espessas tiras elásticas que se contraem naturalmente. Junto com os músculos, os tendões facilitam o movimento da estrutura óssea.
A prática do tai chi apresenta métodos diversos de fortalecimento dos tendões. Um dos objetivos é relaxar os músculos o mais possível, transferindo aos tendões a responsabilidade de sustentar a estrutura quando a pessoa está de pé.
A vantagem de desenvolver a força dos tendões é que a musculatura pode ficar mais relaxada no movimento. Quando os músculos estão relaxados, o tecido conjuntivo é capaz de transportar impulsos elétricos e força vital com mais eficácia. No tai chi a pessoa aprende a se movimentar num estado de relaxamento muscular, possibilitando que os tendões e a força vital do tecido conjuntivo forneçam a força “interior”.
